Especialistas de medicina de reprodução lançam campanha que apela à doação de óvulos e espermatozóides
Neste momento, o banco público de gâmetas para doação de ovócitos tem uma lista de espera de 33 meses, mas mesmo os casais que possam pagar em clínicas privadas “têm de esperar meses pelo tratamento” devido à escassez de dadores.
“Dar vida à esperança” é o lema de uma campanha da Sociedade de Medicina de Reprodução que alerta para a importância e a urgência da doação de óvulos e espermatozóides para responder à crescente procura de tratamentos de infertilidade.
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“Dar vida à esperança” é o lema de uma campanha da Sociedade de Medicina de Reprodução que alerta para a importância e a urgência da doação de óvulos e espermatozóides para responder à crescente procura de tratamentos de infertilidade.
“Infelizmente temos uma taxa de doação muito baixa, uma grande escassez de dadores, e imensos casais em lista de espera em Portugal para fazer tratamentos sem possibilidade de recorrer a clínicas privadas”, disse hoje à agência Lusa o presidente da Sociedade de Medicina de Reprodução (SPMR), Pedro Xavier.
Neste momento, o banco público de gâmetas para doação de ovócitos tem uma lista de espera de 33 meses, mas mesmo os casais que possam pagar em clínicas privadas “têm de esperar meses pelo tratamento” devido à escassez de dadores, adiantou o presidente da SPMR, que promoveu neste sábado, em Lisboa, uma sessão de esclarecimento sobre a importância da doação de gâmetas (óvulos e espermatozóides), e onde foi apresentada a campanha de sensibilização.
Em Portugal, existe “um grave problema de natalidade” e, simultaneamente, um aumento do “número de casos de infertilidade, e infertilidade de difícil tratamento”, associada a mulheres com idades mais avançadas.
Por esta razão, “tem sido necessário recorrer cada vez mais a tratamentos com doação de gâmetas nomeadamente gâmetas femininos, sobretudo por causa da idade da mulher”.
Também há uma maior procura de tratamentos com doação de gâmetas masculinos devido ao aumento de casos de infertilidade nos homens por factores ambientais, como a alimentação e o estilo de vida, e ao alargamento, desde 2016, dos tratamentos de procriação medicamente assistida a mulheres sem parceiro e a casais de mulheres, explicou o especialista.
Perante esta realidade, agravada com a decisão do Tribunal Constitucional de Abril do ano passado, que pôs fim ao anonimato dos dadores, a SPMR considerou ser sua obrigação sensibilizar a opinião pública para esta problemática.
“Isto não é um problema só dos casais e dos beneficiários com problemas de infertilidade, isto é um problema de todos”, disse Pedro Xavier, sublinhando que “toda a ajuda para inverter esta tendência é pouca”.
Para elucidar a população, mas sobretudo os jovens, que são os potenciais dadores, foi criada a campanha “Dar vida à esperança”, que pretende explicar que “doar uma célula, um óvulo ou um espermatozóide não é doar um filho”.
“Nós queremos que as pessoas percebam que a doação tem que ser um acto altruísta”, não um negócio, que “vai fazer felizes muitos casais que de outra maneira nunca conseguirão ter uma criança”, disse.
A estratégia da campanha é direccionar a mensagem para as redes sociais, ter o apoio dos media, de médicos, psicólogos e especialistas da área da medicina da reprodução.
A SPMR está também a lançar convites a todas as instituições universitárias e institutos politécnicos do país para acolherem sessões de esclarecimento, tendo já acordo com algumas universidades.
“Queremos que esta acção se prolongue no tempo. A ideia é não deixar cair esta mensagem e ir enraizando nas pessoas a ideia de que doar sangue salva vidas, doar gâmetas dá vida”, frisou.
Segundo Pedro Xavier, ainda há “um certo estigma” em relação à infertilidade, o que “é triste": “Nós lidamos com os casais que vivem em amargura total porque não conseguem ter um filho e nós sabemos que há uma solução para isso.”
“Eu acho que só com iniciativas deste tipo é que conseguimos mudar as mentalidades”, porque as pessoas têm que estar informadas para tomar a decisão de doar ou não doar e “é isso que esperamos que venha acontecer no futuro”.
As estimativas apontam para a existência de cerca de 300 mil casais com problemas de infertilidade em Portugal.