Costa diz que sociedade deve “gritar nas ruas” que não aceita a violência doméstica
Momentos antes do arranque da marcha, o Terreiro do Paço silenciou-se em homenagem às vítimas de violência.
Já passava das 19h quando milhares de pessoas se concentraram em Lisboa, arrancaram uma marcha ruidosa ao som de bombos e tambores e promessas de mudar o mundo, naquele que é o Dia Internacional da Mulher. Foi ao cair da noite que iniciaram o desfile entre o Terreiro do Paço e o Rossio.
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Já passava das 19h quando milhares de pessoas se concentraram em Lisboa, arrancaram uma marcha ruidosa ao som de bombos e tambores e promessas de mudar o mundo, naquele que é o Dia Internacional da Mulher. Foi ao cair da noite que iniciaram o desfile entre o Terreiro do Paço e o Rossio.
O primeiro-ministro e a sua mulher, Fernanda Tadeu, juntaram-se ao protesto. António Costa destacou a importância de a sociedade reivindicar nas ruas que não aceita a realidade da violência doméstica, considerando que ainda “há muito para fazer” nesta matéria.
A acompanhar o primeiro-ministro estiveram membros do Governo e deputados socialistas, bem como o cabeça de lista do PS às eleições europeias, Pedro Marques.
No Dia Internacional da Mulher pediu-se o fim da violência contra as mulheres, sobretudo a violência doméstica, que continua a pontuar as estatísticas no país com femicídios. Direitos iguais e efectiva justiça para as mulheres violentadas e discriminadas marcaram as mensagens nos cartazes e palavras de ordem, em que o juiz Neto de Moura foi figura de destaque e alvo constante de apupos e críticas por causa dos seus acórdãos polémicos em casos de violência doméstica. Num cartaz exibido pela delegação do Bloco de Esquerda, liderado pela coordenadora, Catarina Martins, lia-se: “Não queremos flores, queremos justiça e o juiz Neto de Moura fora dela.”
Momentos antes do arranque, o Terreiro do Paço silenciou-se em homenagem às vítimas de violência.
Falando aos jornalistas, António Costa lembrou que, “quando há ainda uma diferença de 18% em média no vencimento entre as mulheres e os homens, quando há uma grande disparidade no exercício de cargos políticos e cargos de direcção”, quando existe “tanta dificuldade na conciliação entre a vida familiar, profissional e pessoal” e quando “existe uma barbaridade como os níveis de violência doméstica e de género” que se registam em Portugal, isso “significa que há muito para fazer”.
Apontando que o país tem de continuar a mobilizar-se nesse sentido, o primeiro-ministro considerou que esse é também um caminho a percorrer “ao nível institucional” e “ao nível da cidadania”.
“É importante, é muito relevante que o conjunto da sociedade grite também nas ruas que não está disponível para aceitar esta realidade e que viremos esta página da desigualdade de género”, salientou. E essa, explicou, foi uma das razões porque se associou à iniciativa desta sexta-feira.
“A minha presença é só um gesto simbólico a sinalizar que é necessário mobilizar-nos todos colectivamente para batermo-nos pela igualdade, porque houve um grande progresso feito desde o 25 de Abril, em particular com a grande reforma do Código Civil em 1977, mas ainda há muito para fazer”, sublinhou.
"Sou femininista e o mundo vou mudar”.
A marcha começou ruidosa, com a organização, da Rede 8 de Março, a gritar aos microfones, em cima de uma carrinha de caixa de aberta, “deixa passar, deixa passar, sou femininista e o mundo eu vou mudar”.
A activista brasileira Marielle Franco, assassinada em Março do ano passado, foi também lembrada na manifestação com uma enorme faixa evocativa de uma placa toponímica com o seu nome.
O cortejo saiu do Terreiro do Paço, num trajecto que contornou a Praça do Município, seguindo para a Rua do Ouro e depois em direcção ao Rossio onde termina.
A Greve Feminista, uma organização da Rede 8 de Março, um colectivo de organizações feministas, foi assinalada por todo o país, em Albufeira, Aveiro, Braga, Chaves, Coimbra, Lisboa, Porto, Viseu, Amarante, Vila Real, Évora, Fundão, Covilhã e São Miguel, nos Açores.
Segundo a Rede 8 de Março, a greve feminista internacional divide-se entre greve ao trabalho laboral, greve ao trabalho doméstico, greve estudantil e greve ao consumo, e pretende alertar para o quotidiano das mulheres e perceber as várias discriminações de que são alvo, procurando uma solução global.
O primeiro-ministro disse ainda, aos jornalistas, que espera que a nova lei da paridade seja promulgada a tempo de ser aplicada nas eleições legislativas de Outubro. “Nós temos uma nova lei da paridade que acaba de ser aprovada pela Assembleia da República e que espero que seja promulgada pelo Presidente da República a tempo de poder ser aplicada às próximas eleições legislativas.”