A festa do 25 de Abril “continua a ser bonita, pá", diz António Costa

O primeiro-ministro defende que os “objectivos de Abril estão sempre inacabados”.

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LUSA/ESTELA SILVA

O primeiro-ministro, António Costa, alterou esta sexta-feira a letra de uma das mais famosas canções de Chico Buarque para sustentar que, 45 anos após a revolução de Abril, a festa da democracia continua “bonita” em Portugal.

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O primeiro-ministro, António Costa, alterou esta sexta-feira a letra de uma das mais famosas canções de Chico Buarque para sustentar que, 45 anos após a revolução de Abril, a festa da democracia continua “bonita” em Portugal.

António Costa falava na Fundação Calouste Gulbenkian, na sessão de abertura de uma conferência promovida pela Associação 25 de Abril que pretende assinalar os 45 anos da revolução democrática no país.

Antes do discurso do líder do executivo, o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, numa breve intervenção, citou o cantor brasileiro Chico Buarque - “foi bonita a festa, pá” - para procurar ilustrar alguns dos ideais da “revolução dos cravos” que estarão por cumprir.

O primeiro-ministro respondeu pouco depois.

“Quando Vasco Lourenço evoca a canção de que foi bonita a festa pá, há uma coisa que quero garantir: A festa continua a ser bonita, pá", defende, embora reconhecendo logo a seguir que “os objectivos de Abril estão sempre inacabados” e que as exigências de liberdade, de igualdade e de desenvolvimento “são cada mais profundas”.

Em matéria de desenvolvimento, o primeiro-ministro referiu como uma das principais conquistas a erradicação das barracas nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.

“Mas hoje sabe-se que ainda há 26 mil famílias que vivem em condições indignas. Por isso, temos o objectivo de quando chegarmos ao dia 25 de Abril de 2024, com a celebração dos 50 anos da revolução, garantirmos a todas as famílias portuguesas um nível de habitação condigno", declarou.

Se na intervenção anterior Vasco Lourenço tinha mencionado os progressos registados num país que antes estava “orgulhosamente só” na cena internacional em resultado da guerra colonial e que agora tem um secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, o primeiro-ministro preferiu falar sobretudo das limitações aos direitos das mulheres até à revisão do Código Civil de 1977.

António Costa referiu então as profissões vedadas ao acesso das mulheres, como a diplomacia, as Forças Armadas ou a magistratura, mas, também, a desigualdade de direitos existentes no casamento.

“É extraordinário tentarmos imaginar o que a sociedade mudou nestes últimos 45 anos", salientou, após referências a avanços recentes como o casamento e a adopção por casais do mesmo sexo.

Segundo o primeiro-ministro, no entanto, ainda “há factores que não mudaram e que têm de mudar” em Portugal.

“Quando nós sabemos que, 45 anos após o 25 de Abril, a diferença salarial entre homens e mulheres, para a mesma função e para o mesmo lugar, ainda é em média de menos de 18% para as mulheres, não podemos estar satisfeitos. Quando nós sabemos que só este ano já houve 12 mulheres assassinadas em contexto de violência doméstica, temos de dizer que, de facto, não alcançámos aquilo que temos de alcançar", sustentou.

“A desigualdade de género é mesmo o maior factor de desigualdade, porque atravessa metade da humanidade. Os desafios de igualdade salarial, da conciliação da vida familiar com a profissional, e de um maior equilíbrio nas funções de direcção nas empresas ou na administração pública ainda os temos de vencer", apontou.

Neste contexto, António Costa deixou um recado crítico às correntes conservadoras: “Para aqueles que pensam que a revolução acabou em 25 de Novembro de 1975, digo que a revolução é mesmo inacabada”.

“Não vou dizer que a revolução continua, porque podia ter conotações ideológicas", acrescentou, provocando risos na plateia.