Tenho Alergia Alimentar, e Agora?: Inês escreveu um livro para descomplicar
Inês Pádua, nutricionista, escreveu um livro onde pretende acabar com mal-entendidos sobre as alergias alimentares. A jovem quer, através da educação colectiva, criar uma comunidade mais segura e inclusiva. Tenho Alergia Alimentar, e Agora? é apresentado esta sexta-feira, 8 de Março.
A ideia de escrever um livro sobre alergias alimentares surgiu em contexto de consulta. Sempre que falava com pacientes que vivem com o problema, Inês Pádua percebia que tinham um grande apoio em termos clínicos, mas a parte da gestão das restrições no dia-a-dia em casa, na escola, num restaurante, numa viagem, estava a falhar.
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A ideia de escrever um livro sobre alergias alimentares surgiu em contexto de consulta. Sempre que falava com pacientes que vivem com o problema, Inês Pádua percebia que tinham um grande apoio em termos clínicos, mas a parte da gestão das restrições no dia-a-dia em casa, na escola, num restaurante, numa viagem, estava a falhar.
A jovem de 26 anos licenciou-se em Ciências da Nutrição pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto em 2014, instituição onde também se doutorou em Ciências do Consumo Alimentar e Nutrição em 2018, na área da alergia alimentar. E foi precisamente durante o douramento que Inês criou um curso gratuito online para quem tem de as conhecer, ao qual mais tarde se juntou um site de "receitas sem alergias". Em conversa com o P3, a nutricionista revela que tudo isto teve influência porque o curso tinha uma componente de fórum onde os participantes podiam colocar as suas questões e Inês podia responder. "Depois pensei: porque não compilar tudo isto em alguma coisa que fique para todos os pacientes, uma vez que nem toda a gente tem acesso a esta informação?"
Enquanto professora na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria — trabalho que conjuga com as consultas de Nutrição e a investigação na área clínica e comunitária —, Inês começou a aprender de um paciente para o outro. "Tinha sempre um doente que dizia 'Fiz isto e funcionou comigo' e eu depois apontava aquela dica para testar com outra pessoa. Acabamos por englobar um conjunto de conceitos, dicas e informações que podiam facilitar o dia-a-dia de quem tem alergias alimentares", diz.
Para descomplicar o problema das alergias alimentares, o livro de Inês — Tenho Alergia Alimentar, e Agora? — explica o que é uma alergia alimentar e o que a distingue de uma intolerância alimentar, por exemplo, e acaba com mal-entendidos. Há pistas para uma refeição fora de casa e para ler rótulos, bem como para conhecer as estratégias de diagnóstico num formato pergunta e resposta.
Quem tem alergia a peixe pode nadar com golfinhos?
O mais importante para Inês foi perceber as necessidades dos dois lados da equação: por um lado, o doente e o que este precisa para estar seguro; por outro, aqueles que têm um contacto diário com pessoas com alergias alimentar (sejam eles pais, professores, empresas de fornecimento de refeições ou da área da restauração). Inês conta que muitos dos professores não sabem onde e como é que o aluno pode guardar a caneta de adrenalina quando está na escola. "Era uma das dúvidas mais comuns: ao contrário do que as pessoas pensam, não tem de estar no frigorífico, mas tem de ser protegida de temperaturas extremas, frio ou calor", explica a nutricionista. "Também convém estar guardada, mas não fechada a cadeado porque isso pode limitar muito o acesso em caso de emergência."
Quem tem alergia a peixes pode nadar com golfinhos? Esta foi uma das dúvidas colocadas a Inês no fórum comunitário e à qual responde agora no seu livro. "Eu nunca pensaria nisto como uma dúvida, mas houve um pai que queria levar o filho ao Zoomarine e não sabia se ele podia nadar com os golfinhos sendo alérgico ao peixe. São questões que às vezes nos fogem e para quem vai lidar com alguém que tem este problema é útil", refere.
Nas alergias alimentares, não basta evitar o alimento
Inês Pádua não é alérgica, mas interessou-se pela área da alergologia por causa da asma, uma vez que tem familiares próximos que vivem com essa condição. "Estando nesta área percebi que já havia excelentes trabalhos no campo da asma, ao contrário das alergias alimentares, onde há lacuna muito grande", conta a autora.
No caso das alergias alimentares, não basta evitar o alimento. É necessário abranger a dimensão da exclusão, que passa também pela capacidade de ir a um supermercado e fazer compras. No caso dos pais, isto inclui uma desconstrução de toda a rotina de consumo.
"São constrangimentos muito grandes em termos de rotina. As pessoas têm noção que devem evitar aquele alimento especifico, o problema é quando falamos dos alergénios mais comuns, como o leite e o ovo. Não é [só] evitar o leite de vaca em pacote ou o ovo normal: é preciso evitar uma série de coisas que os têm, como as salsichas, o fiambre e até mesmo produtos não alimentares, como os leites corporais", explica Inês. "Tudo isto tem leite."
Muitas famílias deixam mesmo de ter uma vida social, comer fora de casa ou fazer viagens, principalmente de avião, com medo que a criança ou o jovem possa ter uma reacção inesperada. "Conheço um caso de uma família de Lisboa [para quem] só o facto de ter que viajar até ao Porto já é complicado porque não sabem onde vão ficar ou comer. Não conhecem restaurantes ou supermercados que vendam determinados produtos que podem consumir e acabam por não viajar".
Além do livro da editora Pergaminho, lançado esta sexta-feira, dia 8 de Março, no Porto, Inês Pádua é autora do Manual de Alergia Alimentar para a Restauração, editado pela Direcção-Geral da Saúde em 2016, e tem sido presença assídua em conferências nacionais e internacionais.