Casa da Música recebe estreia ibérica de sinfonia de Charles Ives

Quarta sinfonia do compositor norte-americano vai ser interpretada pela Orquestra Sinfónica do Porto com o Coral de Letras e o pianista brasileiro Paulo Álvares. É um dos momentos fortes do ano dedicado ao Novo Mundo.

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Charles Ives DR

A Sinfonia n.º 4 do compositor norte-americano Charles Ives (1874-1954), para orquestra, piano e coro, terá estreia ibérica este sábado pela Orquestra Sinfónica do Porto (OSPCM) com o Coral de Letras e o solista Paulo Álvares, na Casa da Música.

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A Sinfonia n.º 4 do compositor norte-americano Charles Ives (1874-1954), para orquestra, piano e coro, terá estreia ibérica este sábado pela Orquestra Sinfónica do Porto (OSPCM) com o Coral de Letras e o solista Paulo Álvares, na Casa da Música.

O pianista brasileiro e o Coro da Faculdade de Letras da Universidade do Porto juntam-se ao agrupamento residente da Casa da Música para interpretar esta obra de um dos grandes nomes da música dos Estados Unidos às 18h00, na Sala Suggia.

Num ano em que o tema da instituição é o Novo Mundo, virado para a música criada nas Américas, o programa deste concerto, que será dirigido pelo maestro titular da OSPCM Baldur Brönnimann, inclui ainda The unanswered question, uma das obras mais famosas de Ives, que só foi tocada em 1946, muitos anos depois da altura em que a terá composto.

Antes da sinfonia de Ives, a OSPCM estreia em Portugal a peça My father knew Charles Ives (O meu pai conheceu Charles Ives, em tradução livre), do também norte-americano John Adams, que tem naquele compositor uma das suas grandes influências.

O director artístico da Casa da Música, António Jorge Pacheco, explicou à Lusa que esta é “uma ocasião imperdível” e um dos grandes concertos do ano para aquela instituição, pelas particularidades da quarta sinfonia, que combina vários grupos dentro da mesma orquestra, a tocar a ritmos diferentes, e uma “parte para solista de extrema dificuldade, para um virtuoso”, além de um coro alinhado com “a tradição americana de canto em comunidade”, em detrimento de um agrupamento profissional.

“Há público que vem de Espanha para este concerto, porque esta obra nunca foi tocada no espaço ibérico. O [Charles] Ives era um compositor com muitas particularidades, uma vez que o pai era músico e maestro de filarmónicas. Desde muito novo que ouvia desfiles com várias bandas e ouvia sons a virem de muitos sítios, em simultâneo”, conta o director artístico, acrescentando que esta sinfonia foi escrita entre as décadas de 1910 e 1920.

A obra será interpretada, de resto, com um grupo na ponte técnica da Sala Suggia, próximo do tecto, outro num dos camarotes, e no próprio palco “vários grupos vão tocar a ritmos diferentes”, dirigidos por três maestros: Baldur Brönnimann, Raquel Couto e Cláudio Ferreira.

“Têm ensaiado os três sem a orquestra, até, porque a coordenação para este trabalho é muito exigente, e isto faz parte do segredo da performance”, aponta António Jorge Pacheco.

My father knew Charles Ives, a peça de John Adams escolhida para completar o programa, data de 2003 é simultaneamente uma autobiografia e uma homenagem ao compositor que mais influenciou a sua música.

Em A Barreira Invisível (1998), filme de guerra realizado por Terrence Malick, John Adams, responsável pela banda sonora, utiliza The unanswered question, interpretado pela Orquestra de St. Luke, numa das muitas aproximações a Ives ao longo da carreira.

António Jorge Pacheco descreve a obra de John Adams como “absolutamente típica da linguagem deste compositor”, tendo tido a garantia de que My father knew Charles Ives "nunca foi tocada em Portugal”. Inserido no designado movimento de música minimal repetitiva, Adams “ultrapassa muito essa classificação tão rígida, vai para além disso”, diz o director artístico da Casa da Música, acreditando que, apesar de se tratar de uma obra “ritmicamente bastante difícil”, esta peça será “reconhecível aos primeiros acordes por quem conhece” o compositor.

Ives aclamado na Europa

Nascido em 1874, Charles Ives foi “rapidamente muito apreciado” e tornou-se num dos primeiros nomes do chamado Novo Mundo a ter aclamação na Europa, apesar de ter “pouco conhecimento do que se passava no continente europeu, como o movimento atonal”, e acabou por “ele próprio fazer a revolução à sua maneira”.

Apesar deste reconhecimento, o compositor modernista não foi tão considerado em vida como depois foi abraçado após a morte, em 1954. A combinação entre música popular e outras tradições da juventude, da igreja da infância à experiência no basebol, já na universidade, marcam um percurso que combina o experimentalismo com uma série de inovações que viriam a marcar a música do século XX.

Esta estreia estava pensada para acontecer “o quanto antes”  confessa António Jorge Pacheco , para poder enquadrar a programação deste ano dedicado ao continente americano.