Condenado por encobrir abusos, arcebispo de Lyon vai pedir demissão ao Papa
Philipe Barbarin é a mais alta figura da Igreja francesa envolvida no caso de encobrimento de queixas contra o padre Preynat, que será julgado mais tarde.
O cardeal Philippe Barbarin, arcebispo de Lyon, anunciou que vai apresentar a sua demissão ao Papa, depois de ter sido considerado culpado em tribunal por não agir, embora tenha tido conhecimento de que um padre abusou sexualmente de dezenas de escuteiros com idades à volta dos 15 anos, entre finais da década de 1980 e início dos anos 1990.
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O cardeal Philippe Barbarin, arcebispo de Lyon, anunciou que vai apresentar a sua demissão ao Papa, depois de ter sido considerado culpado em tribunal por não agir, embora tenha tido conhecimento de que um padre abusou sexualmente de dezenas de escuteiros com idades à volta dos 15 anos, entre finais da década de 1980 e início dos anos 1990.
Barbarin, um arcebispo bastante conservador – que na altura das grandes manifestações contra a legalização do casamento homossexual em França, classificou esta medida da presidência de François Hollande como “uma ruptura da sociedade” –, foi condenado a seis meses de prisão suspensa. Mas podia ter sido ter tido uma pena de três anos de prisão e uma multa de 45 mil euros.
Ainda assim, o seu advogado, Jean-Felix Luciani, afirmou que irá recorrer da pena. “Não vejo do que posso ser culpado”, afirmou o cardeal Barbarin durante o julgamento.
O cardeal de Lyon é o mais importante líder da Igreja Católica envolvido no escândalo de abusos sexuais em França. Outras altas figuras da Igreja de França foram também chamadas a responder, mas ilibadas. A responsabilidade neste caso diz respeito ao encobrimento das acções do padre Bernard Preynat, que deverá ser julgado ainda este ano, e foi atribuída ao homem que ocupa a posição hierárquica mais alta, explica o jornal Le Monde.
O padre Preynat liderou um grupo de escuteiros na região de Lyon, de 1972 a 1991. Admitiu ter abusado de alguns adolescentes em cartas que enviou às famílias das vítimas e foi acusado em 2016, numa investigação separada. Mas só deixou o seu posto em 2005 – vários anos depois de terem surgido as primeiras acusações, e meses depois de o cardeal Barbarin ter sido abordado por uma das pessoas que acusavam o padre.
A acusação, neste julgamento, afirmava que o cardeal Barbarin tinha a responsabilidade legal de avisar as autoridades francesas, embora os abusos tivessem ocorrido há várias décadas, quando a hierarquia da igreja era outra.
O cardeal Barbarin negou sempre que tenha havido a intenção de esconder os abusos. Afirma que as vítimas eram já adultos quando soube do sucedido, e considerou que não devia ser a sua função denunciar o caso às autoridades
Já Yves Sauvayre, um dos advogados das vítimas, saudou o veredicto. "A responsabilidade e culpa do cardeal foram confirmadas neste julgamento. É um símbolo extraordinário, um momento de grande emoção", declarou.
O caso que envolveu Preynat e a falta de denúncias tinha já sido julgado: o cardeal foi ilibado em Agosto de 2016 e o processo arquivado. Mas desta vez, nove homens que disseram ter sido sido vítimas de abusos sexuais pelo padre, apoiados pela associação Palavra Libertada, apresentaram testemunhos fortes em tribunal. Isto depois de terem usado um processo legal especial para poderem recorrer da decisão e conseguir levar a julgamento os responsáveis máximos da hierarquia católica em França.
“Esta condenação é uma grande vitória para a protecção das crianças”, afirmou François Devaux, que lidera a associação Palavra Libertada. “Vemos que ninguém está acima da lei. Fomos ouvidos pelo tribunal. É o fim de um longo caminho.”