Desenganemo-nos

Como espectador fui enganado por Jackson durante toda a minha vida até ter visto este documentário, que responde cabalmente à pergunta "como é que uma mãe deixa um miúdo de 7 anos dormir na mesma cama com um homem de 34 anos?"

Comecei a ver Leaving Neverland pensando que Michael Jackson não era um pedófilo. Mas depois de ver o documentário de Dan Reed, dedicadas às histórias de Wade Robson, James Safechuck (e das famílias deles), já não tenho dúvidas.

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Comecei a ver Leaving Neverland pensando que Michael Jackson não era um pedófilo. Mas depois de ver o documentário de Dan Reed, dedicadas às histórias de Wade Robson, James Safechuck (e das famílias deles), já não tenho dúvidas.

As histórias são convincentes porque Robson e Safechuck contam tudo. Apaixonaram-se por Michael Jackson e foram cúmplices com ele, mentindo em tribunal para defendê-lo.

Fica-se com a noção que poderia ter acontecido o mesmo a qualquer criança. O mundo de Jackson era irresistível para os dois miúdos, como era para as famílias.

É necessário ver o documentário não para saber o que se passou sexualmente mas a facilidade com que se encobriu o abuso — inclusivamente perante nós, o público.

O documentário responde cabalmente à pergunta "como é que uma mãe deixa um miúdo de 7 anos dormir na mesma cama com um homem de 34 anos?"

É revelador (e típico) que as duas mães continuem a culpar-se e a serem culpadas pelas famílias. Não é só o facto das mães não terem feito nada de mal — o único abusador foi Jackson.

Mas como é que as mães (e os pais e os irmãos) poderiam ter resistido ao logro? A encenação feita por Jackson era total. Não havia maneira de desconfiar dela. Usava todos os truques de Hollywood, dentro e fora dos filmes.

Como espectador fui enganado por Jackson durante toda a minha vida até ter visto este documentário. É sobre a nossa credulidade e a leviandade com que confiamos em alguém que não conhecemos.

Caí que nem um patinho. Sinto-me estúpido. Mas não. Ele é que foi esperto.