O Hysteria quer pôr as mulheres na linha da frente da criação colectiva
Até Outubro, no Porto, um ciclo promove o encontro entre criadoras musicais nacionais e internacionais, em contacto directo com um grupo de participantes. A sessão aberta da primeira residência, com Ana Deus e Heloise Tunstall-Behrens, acontece esta quarta-feira.
A portuguesa Ana Deus e a britânica Heloise Tunstall-Behrens inauguram esta quarta-feira no Palácio do Bolhão, pelas 19h, a primeira sessão pública do Hysteria, um novo ciclo de programação cujo “principal objectivo é promover um espaço de encontro” entre artistas ligadas à música com “diferentes experiências e processos de criação”, explica ao PÚBLICO Francisca Marques, responsável pelo projecto. A decorrer no Porto até Outubro, numa parceria com a Câmara Municipal, a Sonoscopia, a Academia Contemporânea do Espectáculo/Palácio do Bolhão, a Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo (ESMAE) e a editora e promotora de música Lovers & Lollypops, esta iniciativa reúne, em pares e sob quatro linhas temáticas, artistas nacionais e internacionais que aqui colaboram pela primeira vez.
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A portuguesa Ana Deus e a britânica Heloise Tunstall-Behrens inauguram esta quarta-feira no Palácio do Bolhão, pelas 19h, a primeira sessão pública do Hysteria, um novo ciclo de programação cujo “principal objectivo é promover um espaço de encontro” entre artistas ligadas à música com “diferentes experiências e processos de criação”, explica ao PÚBLICO Francisca Marques, responsável pelo projecto. A decorrer no Porto até Outubro, numa parceria com a Câmara Municipal, a Sonoscopia, a Academia Contemporânea do Espectáculo/Palácio do Bolhão, a Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo (ESMAE) e a editora e promotora de música Lovers & Lollypops, esta iniciativa reúne, em pares e sob quatro linhas temáticas, artistas nacionais e internacionais que aqui colaboram pela primeira vez.
Este primeiro capítulo, Aparelho Fonador, será dedicado à exploração da voz, com Ana Deus – vocalista e co-fundadora das bandas Três Tristes Tigres, Osso Vaidoso e Bruta, e também integrante dos Ban – e Heloise Tunstall-Behrens, compositora e vocalista que trabalha nos territórios da música vocal, da electrónica e da performance. O próximo “tempo de contacto”, intitulado Técnica como Linguagem, acontecerá em Maio, na Sonoscopia, com a multi-instrumentista Marlene Ribeiro (GNOD, Negra Branca) e a baterista e percussionista Valentina Magaletti (Tomaga), que já colaborou com elementos de The Wire, Sonic Youth ou My Bloody Valentine, e que recentemente lançou o disco The Golden Path com o percussionista e escultor sonoro João Pais Filipe (HHY & The Macumbas). Em Julho, no Palácio do Bolhão, será a vez de Natalie Sharp (Lone Taxidermist) e Marta Ângela (Von Calhau!) se debruçarem sobre os cruzamentos entre música e performance; e por fim, em Outubro, a compositora Adriana Sá e a artista transdisciplinar Anna Homler juntam-se na Sonoscopia para reflectir sobre as relações emotivas entre o ser humano e as máquinas na música electrónica.
Todas as artistas estarão em residência durante quatro dias, sendo que boa parte desse “tempo de contacto” será partilhado com um grupo de 15 participantes que se inscreveu no open call lançado pela iniciativa. “Outro dos nossos propósitos é colocar em diálogo e em contacto directo as artistas e os participantes”, assinala Francisca Marques. Há uma dimensão pedagógica, mas também uma vontade de quebrar distâncias. “Isto é também uma forma de permitir outro entendimento acerca dos processos criativos de cada artista e de criar novas pontes entre criadores e públicos.”
O formato da apresentação pública, realizada no último dia de cada residência, é definido em conjunto pelas artistas e pelos participantes. Pode ser uma aula aberta, como será o caso do encontro desta quarta-feira, ou “uma conversa, uma sessão de meditação, um passeio”. “Acho que falta esse tipo de espaço de criação livre, em que no final não tem de sair um objecto fechado”, diz Francisca Marques. “Isto não é um convite para dar um concerto ou um workshop, mas para partilhar experiências e estratégias acerca do modo como as convidadas vão montando as suas práticas.” E cada prática artística acaba por ser uma abordagem “muito própria e muito específica” a cada tema proposto. “A Ana Deus trabalha muito a voz a partir da poesia, enquanto a Heloise está mais ligada às técnicas vocais. Tanto a Marlene como a Valentina tocam incrivelmente bem, mas a Valentina é mais técnica, mais treino, enquanto a Marlene tem uma relação mais celestial com os instrumentos”, exemplifica a responsável pelo Hysteria, cujas diferentes etapas podem ser acompanhadas através do site hysteria.pt e da página oficial no Instagram.
Num ciclo “com várias frentes” e que procura “ser híbrido também nas suas intenções”, um dos objectivos basilares é alertar para a falta de equidade entre homens e mulheres na indústria musical. “O Hysteria cruzou o meu posicionamento pessoal com as conversas de café que fui tendo com algumas destas e de outras artistas mulheres sobre as suas experiências. Fiquei surpreendida com alguns relatos”, conta Francisca Marques. Apesar de existir uma reflexão política e uma ideia de consciencialização por trás do projecto, a responsável não quer que isso se sobreponha às restantes vertentes do Hysteria. “Ter um ciclo de programação só com mulheres já diz – ou devia dizer – quanto baste sobre a sua intenção política. Esse discurso é super importante, mas aqui apostamos numa atitude criativa: já sabemos que a indústria é machista, sim, portanto agora vamos fazer algo, vamos criar.”