Em Angola, entre o calor das ruas e os negócios dos bastidores
À semelhança do que aconteceu em Moçambique, a visita do “Ti Celito” será a festa de um homem só
Começou ontem “a” semana de Marcelo Rebelo de Sousa do ano 2019. De domingo a sábado, o Presidente vai passar por Cabo Verde e São Tomé e Príncipe antes de aterrar em Luanda para uma visita que todos esperam que venha a ser apoteótica. Esperam-no duas festas: a do 65.º aniversário de João Lourenço, Presidente angolano, no dia 5, e a sua própria, no sábado, dia 9, data em que se assinala a passagem do terceiro ano desde a sua tomada de posse, em 2016.
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Começou ontem “a” semana de Marcelo Rebelo de Sousa do ano 2019. De domingo a sábado, o Presidente vai passar por Cabo Verde e São Tomé e Príncipe antes de aterrar em Luanda para uma visita que todos esperam que venha a ser apoteótica. Esperam-no duas festas: a do 65.º aniversário de João Lourenço, Presidente angolano, no dia 5, e a sua própria, no sábado, dia 9, data em que se assinala a passagem do terceiro ano desde a sua tomada de posse, em 2016.
Portugal esforçou-se, em Novembro, para receber bem o casal Lourenço, tanto em Lisboa como no Porto. Até a chuva fez uma interrupção nos seus planos. No final, ficou claro que os dois países enterraram o “irritante” gerado pela investigação a Manuel Vicente, "vice" de Eduardo dos Santos, e que também fizeram orelhas moucas ao ditado “amigos amigos, negócios à parte”. A visita de Angola há pouco mais de três meses foi sobretudo para falar de economia. E a história repete-se esta semana noutra latitude – não por acaso, Marcelo leva consigo governantes dos Negócios Estrangeiros, Economia, Agricultura e Cooperação.
Este é o momento em que se joga tudo na mudança de regime em Luanda. A transição de José Eduardo dos Santos para João Lourenço não foi uma revolução no sentido de ter trazido novos protagonistas para o poder – muitos governantes do actual executivo tiveram pastas em anteriores – mas sinalizou uma alteração de atitude relativamente ao aparelho do Estado.
Curiosamente, Angola fez esse caminho no momento em que esteve mais afastada de Portugal. A mudança veio de dentro e os sinais projectados para o exterior têm sido de tal modo credíveis que, desta vez, até o Bloco de Esquerda vai integrar a delegação para confirmar, in loco, se os angolanos também sentem a diferença.
Há quase nove anos, em Julho de 2010, acompanhei a intensa visita de Estado de Cavaco Silva a Angola com a maior comitiva empresarial que alguma vez tinha acompanhado um Presidente: 135 empresários. A recepção foi impressionante, sobretudo fora de Luanda.
Em Lubango, um cordão humano de boas-vindas, com bandeirinhas portuguesas, estendia-se à beira da estrada, de um lado e do outro, ao longo de seis quilómetros até ao centro da cidade. Aí, milhares de crianças esperavam o Presidente a cantar: “Presidente seja bem-vindo, sua presença é um prazer e por isso vamos dizer a nossa Angola ama você.”
Angola tinha um historial com o Governo de Cavaco Silva, durante o qual foram assinados os acordos de paz de Bicesse, que não existe com Marcelo. Mas o actual Presidente tem uma celebridade que atravessa fronteiras (e alguns dos seus familiares viveram no território). Na era das selfies, vai ser interessante perceber como lidará Marcelo Rebelo de Sousa com o folclore e o mar de gente que recebeu Cavaco em 2010. Angola pode não ser um teste à popularidade do Presidente, mas vai, de certeza, desafiar a sua capacidade de resistência.
À semelhança do que aconteceu em Moçambique, a visita do “Ti Celito” será a festa de um homem só. Daqui, à distância de 8500 quilómetros, vai parecer que tudo gira em torno do Presidente. À primeira vista é só calor humano. Os negócios decorrem nos bastidores.