Trudeau enfrenta pedidos de demissão por ingerência em processo judicial
Antiga ministra da Justiça disse ter sido alvo de pressões ilegítimas para não levar a julgamento uma importante construtora acusada de corrupção.
O primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau enfrenta apelos da oposição conservadora para que se demita na sequência das acusações feitas esta quarta-feira no Parlamento pela sua antiga ministra da Justiça e procuradora-geral. Jody Wilson-Raybould afirmou que Trudeau e outros destacados membros do seu Governo exerceram pressões ilegítimas durante vários meses no sentido de não acusar a gigante da construção SNC-Lavalin de corrupção. Wilson-Raybould acabou por ser afastada do cargo em Janeiro.
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O primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau enfrenta apelos da oposição conservadora para que se demita na sequência das acusações feitas esta quarta-feira no Parlamento pela sua antiga ministra da Justiça e procuradora-geral. Jody Wilson-Raybould afirmou que Trudeau e outros destacados membros do seu Governo exerceram pressões ilegítimas durante vários meses no sentido de não acusar a gigante da construção SNC-Lavalin de corrupção. Wilson-Raybould acabou por ser afastada do cargo em Janeiro.
As pressões tinham sido reveladas no início de Fevereiro pelo jornal canadiano The Globe and Mail. A SNC-Lavalin é suspeita de ter pago 48 milhões de dólares canadianos (cerca de 32 milhões de euros) em subornos ao regime do então líder líbio Muammar Khadafi, entre 2001 e 2011, para garantir a sua participação num ambicioso projecto de irrigação. Trudeau e outros membros do Governo terão pressionado Wilson-Raybould para que a empresa sediada em Montreal não fosse a julgamento e que fosse antes celebrado um acordo que poderia passar pelo pagamento de uma multa e pela adopção de procedimentos internos para prevenir actos de corrupção.
Trudeau nega as acusações e admite expulsar a ex-ministra do Partido Liberal. "Discordo totalmente da forma como a ex-procuradora-geral caracterizou as conversas no seu testemunho", afirmou. “Eu e a minha equipa sempre agimos de forma profissional”, sublinhou esta quinta-feira o primeiro-ministro canadiano, que diz apenas ter lembrado a então procuradora-geral que um eventual processo contra a SNC-Lavalin poderia colocar postos de trabalho em risco. Wilson-Raybould, por seu turno, disse ter sido "perseguida" em nome da mera protecção dos interesses do Partido Liberal e de Trudeau.
Em Janeiro, e no âmbito de uma remodelação governamental promovida por Trudeau, Wilson-Raybould transitou para a pasta dos veteranos de guerra. A antiga ministra da Justiça comparou a sua situação ao "massacre de sábado à noite", quando, em 1973, o antigo Presidente dos Estados Unidos Richard Nixon ordenou que o procurador especial Archibald Cox fosse demitido em plena ao caso Watergate. Wilson-Raybould acabou por se demitir definitivamente do Governo de Trudeau a 12 de Fevereiro, cinco dias após a primeira notícia do The Globe and Mail.
Andrew Scheer, líder da oposição conservadora, afirma que Trudeau “perdeu a autoridade moral para governar” e exigiu a demissão do primeiro-ministro, pedindo ainda a abertura de uma investigação ao caso. Trudeau diz-se disponível para prestar esclarecimentos.
O jornal britânico Guardian recorda que as acusações de pressões ilegítimas surgem numa altura delicada para o Governo de Justin Trudeau, devido à detenção da administradora financeira da empresa tecnológica Huawei, Meng Wanzhou, no dia 1 de Dezembro, pelas autoridades canadianas. Perante repetidos pedidos da China para a libertação da executiva, Trudeau tem afirmado que a justiça canadiana é imune a interferências políticas.