Como a travagem das exportações abalou crescimento da economia em 2018
Foi por causa de uma segunda metade do ano em que as exportações desiludiram que a economia abrandou em 2018. Para 2019, fica o desafio de manter, numa conjuntura difícil, um ritmo de crescimento próximo de 2%
Para uma economia que tem feito do mercado externo a sua grande aposta para o regresso a taxas de crescimento mais elevadas, o zero publicado esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) para o crescimento homólogo das exportações no último trimestre de 2018 não pode deixar de ser visto, no mínimo, como um sério sinal de alerta.
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Para uma economia que tem feito do mercado externo a sua grande aposta para o regresso a taxas de crescimento mais elevadas, o zero publicado esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) para o crescimento homólogo das exportações no último trimestre de 2018 não pode deixar de ser visto, no mínimo, como um sério sinal de alerta.
Depois de começarem 2018 a crescer 4,9% face ao mesmo período do ano anterior e de acelerarem para 7% no segundo trimestre, as exportações portuguesas apresentaram uma trajectória descendente abrupta na sua variação homóloga nos trimestres seguintes, que caiu para 2,9% entre Julho e Setembro e, sabe-se agora, para zero nos últimos três meses de 2018. É preciso recuar até ao quarto trimestre de 2012 para encontrar uma ocasião em que, comparando as exportações de um trimestre com as de igual período do ano anterior, não se registasse uma subida.
Para a economia portuguesa, este zero nas exportações é uma das principais razões por trás do abrandamento que se tem vindo a verificar nos últimos meses e que os números oficiais divulgados pelo INE vieram confirmar. Como já tinha sido revelado na estimativa rápida divulgada há duas semanas, o PIB português registou no quarto trimestre de 2018 uma variação de 0,4% face ao trimestre imediatamente anterior e uma variação de 1,7% face ao período homólogo do ano anterior. Isso fez com que, no total de 2018, o crescimento registado não passasse dos 2,1%, abaixo dos 2,8% de 2017 e da última estimativa do Governo, feita em Outubro, de 2,3%.
Em relação ao que tinha feito há suas semanas, o INE acrescentou agora a informação referente à evolução das diversas componentes do PIB, o que permite perceber de forma mais completa onde está a explicação para o abrandamento da economia em 2018 e, em particular, na parte final do ano.
Travagem nas exportações
Tendo em conta os diversos sinais de deterioração da conjuntura que se têm vindo a sentir a nível internacional, um desempenho menos positivo das exportações já era largamente esperado. No entanto, a combinação desta conjuntura mais difícil com alguns factores pontuais fez com que a travagem deste indicador fosse particularmente brusca.
O crescimento homólogo de 0% registado no quarto trimestre fez com que, no total de 2018, as exportações apresentassem uma variação 3,7%, um valor que compara com os 7,8% que se tinham registado em 2017. O resultado de 2018 é o mais baixo desde 2012.
Apesar do turismo continuar a registar níveis de crescimento elevados, aquilo que aconteceu, em particular a partir da segunda metade do ano, é que a procura dirigida à economia portuguesa abrandou como consequência de um ritmo de crescimento da actividade económica mais baixo em alguns dos principais parceiros comerciais de Portugal. Na Europa, destacam-se os casos da Itália, que entrou em recessão técnica nos dois últimos trimestre de 2018, e da Alemanha, que escapou por pouco ao mesmo destino.
Para além disso, como assinalou o Banco de Portugal quando apresentou em Dezembro passado as suas últimas estimativas para a economia (onde já antecipava o abrandamento forte das exportações em 2018), verificaram-se também alguns factores pontuais negativos, como a existência de constrangimentos na produção da Autoeuropa (relacionada com a homologação de veículos) e a paragem da refinaria de Matosinhos a partir de Setembro, que prejudicaram o andamento das exportações portuguesas, em particular no segundo trimestre.
Importações também abrandam
Em simultâneo com a tendência menos positiva nas exportações, as importações também abrandaram, o que acaba por limitar as perdas no contributo da procura externa líquida (exportações menos importações) para o PIB. Ao contrário das outras componentes (consumo, investimento e exportações), as importações afectam negativamente o cálculo do PIB: mais importações conduzem a um valor mais baixo do PIB.
Em 2018, as importações cresceram 4,9%, menos do que os 8,1% de 2017. E tal como aconteceu com as exportações, o abrandamento aconteceu especialmente na segunda metade do ano.
Este desempenho das importações também não surpreende. Como tanto as exportações como o investimento abrandaram, e estes dois indicadores têm uma componente importante importada, as importações acabam também por baixar o seu ritmo de crescimento. No entanto, o que se nota nos dados agora apresentados pelo INE é que o abrandamento das importações foi mais moderado que o das exportações. E é isso que explica que o contributo da procura externa líquida para a variação do PIB tenha passado de -0,3 pontos percentuais em 2017 para -0,7 pontos em 2018.
Investimento volátil
Para além das exportações, também o investimento desiludiu em 2018, quando se compara o seu crescimento com o que tinha registado em 2017. Os dados publicados pelo INE mostram um crescimento de 5,6% em 2018, quando em 2017 tinha sido de 9,2%.
Foi por causa disto que a procura interna, apesar de o consumo ter resistido, acabou por também dar um contributo menos positivo do que no ano anterior para o crescimento do PIB.
Ainda assim, em relação ao investimento, há alguns motivos para pensar que o cenário é menos desfavorável. O crescimento de 5,6% de 2018 compara bem com quase todos os outros anos da última década. O resultado obtido em 2017 é que foi particularmente forte, o melhor desde 1998.
Observando a evolução trimestral, nota-se também que o investimento até registou uma aceleração na sua taxa de variação homóloga nos últimos três meses do ano, o que faz com que se possa pensar no regresso a uma tendência de aceleração.
Por fim, também no caso do investimento, o Banco de Portugal deu conta da existência de efeitos pontuais em 2018 que podem não se fazer sentir em 2019, como a execução abaixo do esperado do investimento público e os atrasos na construção de barragens em Trás-os-Montes.
Consumo estável
Do lado do consumo privado, que é de longe a componente com mais peso no PIB, o cenário nos últimos anos tem sido de manutenção de uma taxa de crescimento anual ligeiramente acima dos 2%, com oscilações relativamente moderadas. Foi isso que aconteceu em 2018, onde se rejeitou uma ligeira aceleração de 2,3% em 2017 para 2,5%.
Aqui, a dúvida relativamente ao que irá acontecer em 2019 é em que medida o previsível abrandamento do crescimento do emprego irá afectar rendimento disponível. A maior parte das previsões aponta para que, em compensação, se acentue a tendência recente de maiores subidas salariais, que permitam que o rendimento disponível e o consumo privado continuem a crescer a ritmos semelhantes aos dos últimos anos.
Outro factor importante neste indicador é o nível de poupança, que está já historicamente baixo, mas que dificilmente subirá no actual cenário de taxas de juro situadas em mínimos.