Bloco de Esquerda vai a Angola pela primeira vez. E parte expectante
Quando João Lourenço visitou Portugal, Catarina Martins já tinha admitido que o BE reconhece "alguns sinais de mudança" e que acompanha "a expectativa do povo angolano numa mudança".
O Bloco de Esquerda vai, pela primeira vez, numa visita oficial a Angola. “O Bloco vai estar presente com um deputado na visita a Angola do Presidente da República. Acompanhamos a expectativa de quem em Angola luta pelos direitos humanos e pela democracia”, confirmou ao PÚBLICO o responsável pelo gabinete de comunicação do partido.
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O Bloco de Esquerda vai, pela primeira vez, numa visita oficial a Angola. “O Bloco vai estar presente com um deputado na visita a Angola do Presidente da República. Acompanhamos a expectativa de quem em Angola luta pelos direitos humanos e pela democracia”, confirmou ao PÚBLICO o responsável pelo gabinete de comunicação do partido.
A notícia de que a deputada Maria Manuel Rola fará parte da comitiva de Marcelo Rebelo de Sousa, que parte na próxima semana, foi avançada pelo Expresso.
Já em Novembro, o BE, que sempre foi crítico da situação política em Angola, tinha concordado, tal como os restantes partidos, com a realização de uma sessão extraordinária de boas-vindas ao Presidente de Angola, João Lourenço, na Assembleia da República (AR). Apesar daquela concordância, a maioria dos deputados acabaria por não se levantar, nem aplaudir o discurso de João Lourenço, no Parlamento.
Antes da sessão solene, e apesar de ressalvar que se tratou de uma decisão do presidente da AR, o líder da bancada parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, admitia ao PÚBLICO que a concordância do partido se explica pelas alterações ocorridas em Angola, depois de João Lourenço ter chegado à Presidência da República, lugar antes ocupado por José Eduardo dos Santos.
“Vários dos activistas estão agora a dizer que a situação em Angola está diferente. Nós não somos insensíveis à perspectiva dessas vozes que, não deixando de ser críticas, reconhecem que há coisas a mudar. A realidade é dinâmica, estamos a reflectir sobre essas mudanças”, justificou, na altura, Pedro Filipe Soares.
A sessão fazia parte da visita que o Presidente angolano realizou a Portugal, entre 22 e 24 de Novembro, e que incluiu também um encontro entre João Lourenço e a actual coordenadora do partido, Catarina Martins, Pedro Filipe Soares, e Luís Fazenda, do departamento internacional do BE. A reunião aconteceu num hotel de Lisboa, por volta das 20h30, e foi realizada a pedido do Presidente angolano.
À saída, Catarina Martins, disse, citada pela Lusa, que "é sabido que o Bloco de Esquerda tem tido uma posição muito crítica sobre o regime angolano e sobre o MPLA". Mas ressalvou: "No entanto, nós não deixamos de acompanhar a expectativa do povo angolano para que possam existir mudanças neste período.” A coordenadora acrescentou ainda: "Reconhecemos que há alguns sinais de mudança e acompanhamos a expectativa do povo angolano numa mudança, achamos que é muito importante a colaboração da justiça de Portugal e de Angola porque há uma elite económica que se tem movido na sombra e que tem vindo a depredar os recursos tanto de um país, como do outro”.
Catarina Martins assegurou também que transmitiu a João Lourenço "as posições de sempre do Bloco". Foram elas “exigências com liberdades democráticas” e “muita preocupação com a corrupção, nomeadamente, com a elite económica que circula entre Portugal e Angola”.
Em Setembro, o jornalista angolano e activista dos direitos humanos Rafael Marques, que chegou a ser detido pelo regime de José Eduardo dos Santos, esteve na rentrée política do partido, no Fórum Socialismo 2018.
À margem da sessão, e citado pela Lusa, afirmou que “o poder de José Eduardo Santos chegou definitivamente ao fim”. Mas também deixou avisos: "É importante que este poder, que durante muitos anos levou à destruição do futuro dos angolanos, seja repartido de acordo com os valores da democracia", afirmou, defendendo ser necessário "passar por reformas constitucionais e outras que garantam uma democracia participativa". Caso contrário, o que acontecerá, alertou, será a dependência “da vontade de João Lourenço e não se constrói um país com a vontade de um só homem”.