Trump e Kim pareciam ter tudo para dar certo, mas tropeçaram nas sanções
Presidente dos EUA diz que relação com Kim "continua forte", mas a Coreia do Norte afirma que Kim pode ter "perdido a vontade" de negociar.
Mal entendidos e expectativas diferentes terão causado o falhanço da cimeira Trump-Kim, em que o Presidente norte-americano e o líder norte-coreano tinham chegado a prever uma cerimónia de assinatura de um acordo. Mas Donald Trump e Kim Jong-un não precisaram de chegar tão longe para perceber que a exigência de um ultrapassava a linha vermelha do outro, e o encontro acabou mais cedo do que o esperado: não houve assinatura, nem almoço conjunto.
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Mal entendidos e expectativas diferentes terão causado o falhanço da cimeira Trump-Kim, em que o Presidente norte-americano e o líder norte-coreano tinham chegado a prever uma cerimónia de assinatura de um acordo. Mas Donald Trump e Kim Jong-un não precisaram de chegar tão longe para perceber que a exigência de um ultrapassava a linha vermelha do outro, e o encontro acabou mais cedo do que o esperado: não houve assinatura, nem almoço conjunto.
“Não ia ser bom assinar alguma coisa”, disse Trump aos jornalistas após a interrupção das negociações. “Tínhamos algumas opções, mas desta vez decidimos não ir para a frente com nenhuma delas, e vamos ver como tudo avança”, disse. “Às vezes é preciso ir embora, e esta era uma dessas alturas”.
“Basicamente, eles queriam o levantamento das sanções na sua totalidade e nós não estávamos prontos para fazer isso”, explicou Trump.
Para que isso estivesse em cima da mesa, os norte-coreanos teriam de oferecer a desnuclearização total. Para Trump, questionado por um jornalista sobre o que queria isso dizer, “é muito óbvio, temos de acabar com as armas nucleares”.
Mas poderá ter sido aqui que houve um mal-entendido, diz a BBC: se para os EUA a Coreia do Norte tem de desistir unilateralmente de todas as suas armas nucleares e destruir as instalações antes que possa haver alívio das sanções, para a Coreia do Norte trata-se de um acordo mútuo, que implica ainda a retirada da presença militar norte-americana na península da Coreia.
Horas mais tarde, o ministro coreano dos Negócios Estrangeiros, Ri Yong-ho, deu uma rara conferência de imprensa para apresentar uma versão diferente: disse que tinha sido oferecido a Trump o desmantelamento de toda a produção nuclear observada pelos peritos americanos, e acrescentou que Pyongyang pediu o fim parcial das sanções, e não total.
“Era óbvio desde o início que iriam ficar num impasse nas questões de quanta desnuclearização deveria haver e quanto alívio das sanções”, comentou ao diário britânico The Guardian Joseph Yun, antigo representante para a política dos EUA em relação à Coreia do Norte que agora está no centro de estudos US Institute of Peace. “Tanto Kim como Trump estão numa posição muito difícil. Penso que Trump tem de perceber agora que a desnuclearização total não está, independentemente da simpatia de Kim, em cima da mesa.”
Trump tinha apostado muito na relação pessoal que forjou com Kim, diz também a emissora americana CNN. Esta continua “forte”, declarou o Presidente dos EUA após o fim da cimeira. Apesar de não haver planos para um terceiro encontro, Trump disse que ainda assim as conversações foram “produtivas”.
Do lado norte-coreano o tom foi menos optimista: "O Presidente Kim ficou com a sensação de que não percebe o modo como os americanos fazem os seus cálculos", disse um responsável aos jornalistas, segundo a Bloomberg. Kim poderá, acrescentou, ter "perdido a vontade" de negociar mais.
O analista John Yun notou que o timing da cimeira, que coincidiu com a audição de Michael Cohen no Congresso, deixou Trump sob uma pressão anda maior para apresentar algo espectacular em Hanói, ou então nada. “Talvez fosse possível um acordo menor”, disse. “Mas penso que Trump tinha de trazer um grande acordo, com Cohen a depor em Washington. Se trouxesse um acordo menor, sabia que iria ser muito criticado”.
Segundo o Guardian, vários especialistas que são habitualmente críticos da política externa de Trump concordam que desta vez o Presidente esteve bem. “Eu também não teria feito o acordo” que aparentemente esteve em cima da mesa, disse ao Guardian Joel Wit, antigo responsável do Departamento de Estado dos EUA com experiência em negociações com a Coreia do Norte e agora no centro de estudos Stimson Center. “Acho que não assinar foi a decisão acertada.”