Sob acusação de pressões políticas, Ucrânia desiste de participar na Eurovisão

Maruv não aceitou cancelar os concertos na Rússia que já tinha marcado. Os segundo e terceiro classificados não a quiseram substituir. E a Ucrânia acabou por renunciar a participar no festival.

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MARUV Reuters

A Ucrânia renunciou esta quarta-feira a participar no festival da Eurovisão, depois de a televisão pública ucraniana não ter conseguido um acordo com nenhum dos três primeiros classificados nacionais, nomeadamente a vencedora, que acusa a estação pública de pressão política.

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A Ucrânia renunciou esta quarta-feira a participar no festival da Eurovisão, depois de a televisão pública ucraniana não ter conseguido um acordo com nenhum dos três primeiros classificados nacionais, nomeadamente a vencedora, que acusa a estação pública de pressão política.

Segundo a Reuters, os segundo e terceiro classificados não aceitaram substituir a vencedora, Maruv, justificando a recusa com as suas agendas apertadas.

A UA:PBC, estação pública de televisão da Ucrânia, anunciou esta quarta-feira que “renuncia a participar no festival internacional da canção da Eurovisão 2019”, que decorre em Maio, em Israel, país de origem da vencedora da edição de 2018, que decorreu em Lisboa. A estação diz que há uma "excessiva politização do processo".

A Ucrânia tomou a decisão de se excluir da edição deste ano depois de a vencedora do concurso nacional, Maruv, ter renunciado, na segunda-feira, a representar o país por pressões políticas, segundo afirmou, numa decisão secundada ainda no mesmo dia, pela segunda classificada e, hoje pela terceira.

“Sou cidadã ucraniana, pago impostos e amo a Ucrânia com toda a sinceridade. Mas não estou disposta a actuar sob lemas que convertem a minha participação no concurso numa campanha de promoção dos nossos políticos”, escreveu Maruv na sua página na rede social Facebook.

Maruv, cujo nome é Anna Korsun e que ganhou no sábado o concurso na Ucrânia com a canção Siren song, negou-se a assinar o contrato "leonino" proposto pela UA:PBC. O contrato proibia improvisos na actuação e obrigava a cantora a ceder os direitos de autor e a relacionar-se com a imprensa apenas com autorização da UA:PBC.

Entre outras condições, figurava ainda a de se negar a actuar na Rússia e a ser especialmente cuidadosa ao abordar o tema da integridade territorial da Ucrânia ou fazer declarações públicas que pudessem prejudicar a imagem do país na arena internacional.

Freedom Jazz e KAZKA, segundo e terceiro classificados na competição ucraniana, respectivamente, também não chegaram a acordo com a televisão pública, o que motivou a desistência da participação na Eurovisão.

“Quando milhares de heróis morrem na frente pela integridade territorial da Ucrânia, o Estado deveria estar representado por artistas dignos, patriotas da Ucrânia, que estejam cientes da sua responsabilidade”, informou o Ministério da Cultura de Kiev.

O júri fez perguntas políticas aos concorrentes durante o concurso televisivo para eleger o representante da Ucrânia, entre as quais se consideravam que a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, é território ucraniano.

A European Broadcasting Union (EBU), responsável pela organização do festival da Eurovisão, afirmou, em comunicado, divulgado na página oficial do certame, que lamenta a decisão, que mantém conversações sobre a matéria com a televisão ucraniana e que espera que a Ucrânia regresse ao festival em 2020, acrescentando que, “apesar disso, por agora, aguarda ansiosamente pelo que se perspectiva já como um fantástico evento em Telavive, em Maio”.

A Ucrânia juntou-se ao festival da Eurovisão em 2003, tornando-se rapidamente num dos países com maior sucesso na competição, ao atingir sempre a fase final e conseguindo duas vitórias em 15 anos de participação, recorda o site oficial do concurso.