Acordo iminente entre EUA e China não elimina tensão comercial no globo
Luta pela liderança da economia mundial entre EUA e China e tentativa de Trump de abalar sector automóvel europeu deverão manter vivo um clima de conflito comercial.
No sinal mais claro até agora de que, tanto em Washington como em Pequim, não existe qualquer vontade de permitir uma escalada do conflito comercial entre os dois países, a trégua assinada em Dezembro foi agora prolongada para permitir a concretização de um acordo. No entanto, este novo passo em direcção a um entendimento entra as duas maiores economias mundiais não significa que as tensões comerciais que se têm vivido no globo durante os últimos anos vão desaparecer.
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No sinal mais claro até agora de que, tanto em Washington como em Pequim, não existe qualquer vontade de permitir uma escalada do conflito comercial entre os dois países, a trégua assinada em Dezembro foi agora prolongada para permitir a concretização de um acordo. No entanto, este novo passo em direcção a um entendimento entra as duas maiores economias mundiais não significa que as tensões comerciais que se têm vivido no globo durante os últimos anos vão desaparecer.
O anúncio do prolongamento das tréguas entre EUA e China, feito no domingo por Donald Trump na sua conta no Twitter, ajuda a evitar um clima de guerra comercial e, por isso, foi recebido com entusiasmo pelos mercados. Por um lado, permite que no imediato não se concretize no próximo dia 1 de Março (a data que estava marcada para o final da trégua) o agravamento das taxas alfandegárias aplicadas a 200 mil milhões de dólares de produtos importados chineses de 10% para 25%.
Por outro lado, demonstra que o anúncio de um acordo entre as duas partes pode estar para próximo. “Assumindo que ambas as partes realizam progressos adicionais, estamos a planear uma cimeira entre o presidente Xi e eu próprio, em Mar-a-Lago [o retiro de férias de Donald Trump], para concluir o acordo”, escreveu o presidente norte-americano. Este encontro entre os chefes de Estado pode ocorrer já em Março.
No entanto, a generalidade dos analistas alerta que este acordo iminente, do qual ainda não se conhecem detalhes, ficará em todo o caso muito longe de resolver todos os problemas que actualmente existem nas relações comerciais entre as maiores potências mundiais.
Em primeiro lugar, mesmo em relação aos EUA e a China, as expectativas continuam a ser que a tentativa de garantir a liderança económica mundial vai continuar a provocar choques entre os dois países. O acordo agora em preparação, tudo indica, deverá conduzir a que a China assuma compromissos em questões como a da não obrigatoriedade de entrega de tecnologia por parte das empresas americanas que queiram operar no país ou o reforço das compras de produtos agrícolas (principalmente soja) e energéticos (gás natural) aos EUA.
Isto permitirá a Trump argumentar que obteve, com a sua estratégia de negociação agressiva, obter vitórias importantes, mas dificilmente modificará, de forma estrutural, a estratégia seguida há vários anos pela China de conquista de mercados, seja por via da competitividade dos seus produtos seja pela via de investimentos em diversos continentes. Os EUA pretendem que Pequim se comprometa a não utilizar a divisa para aumentar a competitividade das suas exportações, mas essa deverá continuar a ser uma das áreas em que a tensão entre as duas grandes potências se irá sentir, seja com Donald Trump na Casa Branca, seja com outro presidente qualquer.
Em segundo lugar, depois de assinar um acordo com Xi Jinping, o presidente norte-americano irá virar-se para outros pontos do globo na sua estratégia comercial. E a Europa poderá ser o próximo grande alvo. Donald Trump recebeu este mês do seu secretário do Comércio um relatório em que são analisados os riscos de segurança colocados pela importação de veículos automóveis do estrangeiro. Este relatório pode conter a argumentação necessária para que os EUA avancem (ou deixem a ameaça de avançar) para uma subida das taxas alfandegárias aplicadas às importações de automóveis.
A Europa já garantiu, em diversas ocasiões, que iria de imediato responder a uma medida desse tipo por parte dos EUA, mas o que é certo é que teria muito a perder caso o sector automóvel fosse visado pelas medidas proteccionistas de Trump. A Alemanha estaria na primeira linha do impacto negativo do aumento de taxas. Outros países, com unidades de produção automóvel, incluindo Portugal, poderiam também ser afectados.
Agendada também para os próximos meses, estará a negociação de um novo acordo comercial entre os EUA e o Japão, que terá igualmente no sector automóvel uma componente importante das discussões.
Para já uma coisa parece certa: com as eleições presidenciais norte-americanas, Donald Trump, que na campanha eleitoral para a sua primeira eleição fez da política comercial um dos principais temas dos seus discursos, vai querer ter para apresentar algumas vitórias importantes.