A melhor receita para ser “cozinhada em Marte” é portuguesa
Chef Kiko vence concurso internacional do Centro de Astrobiologia espanhol. O prato “parece” Marte e até inclui bacalhau e chouriço.
Não é ficção científica, é mesmo real. O cozinheiro português Francisco Martins, celebrizado como Kiko, venceu esta segunda-feira o “La Patata Marciana”, um concurso organizado pelo Centro de Astrobiologia em Madrid, parceiro internacional da NASA, destinado a escolher a melhor receita a ser confeccionada numa futura missão a Marte.
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Não é ficção científica, é mesmo real. O cozinheiro português Francisco Martins, celebrizado como Kiko, venceu esta segunda-feira o “La Patata Marciana”, um concurso organizado pelo Centro de Astrobiologia em Madrid, parceiro internacional da NASA, destinado a escolher a melhor receita a ser confeccionada numa futura missão a Marte.
Participaram “chefs de todo o mundo”, refere-se em comunicado da equipa do cozinheiro, sendo que o júri, em que pontuavam quatro chefs detentores de estrelas Michelin, escolheu o cozinheiro português por trás dos restaurantes O Talho, A Cevicheria ou O Asiático.
A criação de Kiko Martins, baptizada de “1, 2, 3... Marte” e inspirada pelo planeta vermelho para a sua apresentação, inclui nos seus ingredientes bacalhau e chouriço, embora tratados de forma diferente a que nós, terráqueos, estamos habituados.
“O objectivo lançado aos participantes era o de criar a primeira receita que poderá vir a ser cozinhada em Marte no futuro, quando for lançada uma missão ao planeta”.
Precisamente por isso, disse Kiko à Lusa, a receita teve em consideração que uma refeição em Marte terá que levar ingredientes “que farão uma viagem muito longa de oito meses”. Daí ter incluído “ingredientes liofilizados e desidratados [a que é extraída a água], o que os torna mais leves e permite que se conservem durante mais tempo”.
Para mais, lembrou o cozinheiro, numa colónia humana em Marte, “cada minuto de dispêndio de tempo de um astronauta custa muitíssimo, não há água em abundância e qualquer quantidade de energia é muito cara”, pelo que pensou numa receita que seja rápida e não exija grande esforço para preparar. Os alimentos desidratados também estão menos vulneráveis a fungos e bactérias.
O chef trabalhou em parceria com o canal Bit2Geek, composto por cientistas ligados à exploração espacial, de forma a aconselhar-se sobre os “procedimentos e tipos de alimentos que pudessem ser enviados para o planeta”. Nuno Chabert, administrador do site, disse à Lusa que Kiko contou com a colaboração de cientistas ligados à genética, biologia molecular ou física e que conseguiu fazer um prato apelativo, “longe dos saborosos, mas pouco apresentáveis gelados que os astronautas da Estação Espacial Internacional comem de dentro de sacos”.
Entre as regras-base para a receita, procuraram-se, segundo Kiko, “alimentos que já foram testados a bordo da Estação Espacial Internacional”, com foco nos “alimentos desidratados” mas também realçando o “sabor, o aspecto e o simbolismo, com vista ao conforto físico e psicológico do astronauta”. E com o objectivo de “fornecer proteínas, sais minerais e fibra dietética (contidos nas algas), bem como vitaminas provenientes das ervas” usadas na receita e que “já foram cultivadas na Estação Espacial Internacional”.
Foi assim que o chef Kiko chegou ao resultado final: a sua criação gastronómica “garante um equilíbrio de nutrientes, como a proteína e os sais minerais, com sabores típicos portugueses”. A receita inclui nos seus ingredientes “batata envolvida com chouriço, azeitonas, bacalhau, algas, cebola, salsa e alho” e “ovo desidratado”. A apresentação final reporta à iconografia marciana: foi usado o “chouriço desidratado para lhe dar a cor” e azeitonas para recriar os icónicos vulcões de Tharsis que marcam a face de Marte.
“Muito mais do que ser um orgulho enorme para mim, acho que deve ser um orgulho para todos os portugueses ver os nossos sabores poderem um dia chegar até Marte”, afirmou o cozinheiro português, citado em comunicado.
O concurso “La Patata Marciana”, foi aberto a cozinheiros profissionais e, numa segunda fase, ao público em geral. Organizado pelo Centro de Astrobiologia em Madrid, contou ainda com o apoio de vários organismos, incluindo o Centro Internacional da Batata ou o Instituto de Técnica Aeroespacial espanhol. O objectivo era criar uma receita que incluísse uma das “super batatas” escolhidas por cientistas como “candidatas a alimentar os inquilinos de uma futura base em Marte”, lê-se nas bases do concurso, considerado “um exercício de criatividade que alia a arte culinária com o conhecimento científico”.
Agora, só falta os terráqueos saborearem a receita marciana do chef Kiko.