Escolas do interior recebem jovens de Cabo Verde e São Tomé para garantir que continuam abertas

Dois municípios de Castelo Branco têm a maior proporção de estudantes estrangeiros. Se não fossem os protocolos com os os governos de Cabo Verde e São Tomé seria difícil manter as turmas do secundário, admitem responsáveis pelas escolas.

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Oleiros e Vila de Rei são os concelhos com maior proporção de alunos estrangeiros enric vives-rubio

Oleiros e Vila de Rei — ambos em Castelo Branco — são dois dos municípios portugueses com menos estudantes no secundário. Uma vez que perder alunos pode colocar em causa a oferta de aulas neste nível de ensino, as autarquias arranjaram uma solução: trazer jovens de fora. O resultado está à vista. Hoje, um em cada cinco alunos que frequenta os cursos científico-humanísticos nas escolas das duas vilas, separadas por apenas 40 quilómetros, é natural de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe.

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Oleiros e Vila de Rei — ambos em Castelo Branco — são dois dos municípios portugueses com menos estudantes no secundário. Uma vez que perder alunos pode colocar em causa a oferta de aulas neste nível de ensino, as autarquias arranjaram uma solução: trazer jovens de fora. O resultado está à vista. Hoje, um em cada cinco alunos que frequenta os cursos científico-humanísticos nas escolas das duas vilas, separadas por apenas 40 quilómetros, é natural de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe.

Em 2016/2017, dos 36 alunos que estavam matriculados em cursos científico-humanísticos no ensino secundário na Escola Básica do Centro de Portugal, em Vila de Rei, 19% eram estrangeiros. A proporção é ainda maior entre os 16 estudantes inscritos no ensino profissional (44%). Os números fazem parte da informação divulgada recentemente pelo Ministério da Educação sobre os resultados dos alunos das escolas portuguesas, a partir da qual são feitos os rankings de escolas.

A directora Margarida Guimarães tem na ponta da língua a resposta à pergunta sobre quem são estes jovens: “Vêm no âmbito de um protocolo que a câmara tem com o Governo Regional do Príncipe.” E por que é que vêm? O departamento de Acção Social, Educação, Cultura e Desporto da Câmara de Vila de Rei diz que receber estes jovens permite “garantir o número necessário [de alunos] para ter o ensino secundário” no concelho.

Através do programa, que existe desde 2011, 35 estudantes já frequentaram a Escola Básica do Centro de Portugal​. Alguns dos alunos que o integraram “saíram, foram estudar para as universidades e já estão no Príncipe a trabalhar”. Esta escola não surge ordenada no ranking do PÚBLICO (onde só são tidas em conta as escolas que fazem mais do que 50 provas num leque de oito disciplinas mais concorridas), mas tem uma média de 10,23 valores nos 48 exames realizados em 2018. 

Além deste projecto, o município de Vila de Rei tem promovido várias medidas de incentivo à fixação da população que contribuem para que o número de alunos na escola se mantenha constante (são cerca de 300) — como os apoios ao arrendamento, ajudas monetárias às famílias (750 euros para o primeiro filho, 1000 euros para o segundo e 1250 euros para o terceiro e seguintes), e uma série de serviços gratuitos como creche, jardim-de-infância, ATL e explicações. Se não existissem estes apoios, o expectável “seria a fuga e a diminuição drástica de alunos”, nota Margarida Guimarães.

Oleiros: "Sou uma espécie de tutor”

Em Oleiros, a ideia é semelhante, mas o protocolo é com Cabo Verde. O director da Escola Básica e Secundária Padre António de Andrade, António Cavaco, é categórico: “Conseguimos manter a secundária em Oleiros por causa do protocolo.” Em 2016/2017, entre os 63 estudantes matriculados em cursos científico-humanísticos do 10.º ao 12.º ano nesta escola, 21% eram estrangeiros. Uma percentagem semelhante à dos estudantes estrangeiros inscritos em cursos profissionais.

Na Padre António de Andrade há ainda um outro projecto que tem contribuído para o mesmo fim. É um acordo com a diocese de Portalegre-Castelo Branco que encaminha jovens de “famílias disfuncionais”, de outras zonas do distrito, para aquela escola, explica o director António Cavaco. Neste caso, frequentam tanto o básico como o secundário.

Como funciona? “Os garotos ficam aqui a semana inteira e só vão no fim-de-semana a casa. Ninguém vem para aqui para ser retirado [à família]”, sublinha o director. “Muitas das vezes sou eu que fico responsável por eles, sou uma espécie de tutor”, conta. Ajuda que a escola seja pequena. “Infelizmente, numa escola muito grande eles são só um número, mas aqui não. Aqui são uma pessoa.”

O projecto tem sido “um sucesso". E se no início era a diocese que, através da Cáritas local, sugeria algumas famílias que podiam beneficiar do programa, agora os próprios pais também sinalizam outros conhecidos.

Há cinco professores envolvidos no projecto a tempo inteiro, pelo que os jovens têm um “acompanhamento quase permanente”. Apesar de todos os aspectos positivos, “não vale a pena dizer que é tudo coisas boas”, admite o director. “Mesmo em relação ao corpo docente há professores que têm alguma dificuldade em lidar com alguns alunos. A maior parte dos professores, se pudesse, só tinha turmas boas.”