Guaidó pede que comunidade internacional "considere todas as opções" na Venezuela

Líder da oposição invoca o bloqueio e a destruição de parte de ajuda dos EUA e Brasil por forças venezuelanas na fronteira com a Colômbia. Pompeo diz que EUA estão prontos a "agir".

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O líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, propôs que a "comunidade internacional" considere “todas as opções” para afastar o Presidente Nicolás Maduro do poder depois de, no sábado, tropas leais ao regime de Caracas terem impedido com violência a entrada de uma caravana de ajuda humanitária dos EUA e Brasil na Venezuela, matando quatro cidadãos. 

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O líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, propôs que a "comunidade internacional" considere “todas as opções” para afastar o Presidente Nicolás Maduro do poder depois de, no sábado, tropas leais ao regime de Caracas terem impedido com violência a entrada de uma caravana de ajuda humanitária dos EUA e Brasil na Venezuela, matando quatro cidadãos. 

As palavras de Guaidó pareciam aludir a uma intervenção militar, que é justamente o que Nicolás Maduro tem dito que está em cima da mesa. O diário El País nota que "perante a revolta generalizada, matizou com outra mensagem em que se limita a mencionar 'as opções que a comunidade internacional que têm conseguido um cerco diplomático que contribuirá para o fim da usurpação, o governo de transição e eleições livres"

Pouco depois, os EUA vieram pedir “acção” e o e Brasil a “libertação” da Venezuela.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse que os EUA estavam prontos a “agir”. “Estou convencido que o povo venezuelano vai assegurar-se de que os dias de Maduro estão contados”, disse à CNN.

O Brasil pediu à comunidade internacional para “libertar” a Venezuela.

Num tom mais cauteloso, a alta representante para a Política Externa da União Europeia, Federica Mogherini, emitiu um comunicado em que "reitera a rejeição firme e a condenação da violência e quaisquer iniciativas que possam desestabilizar ainda mais a região”.

“As origens da crise na Venezuela são políticas e institucionais, e por isso a solução só pode ser política”, disse Mogherini.

Espanha sublinhou também que condenaria uma intervenção militar. "Nem todas as opções estão em cima da mesa", sublinhou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Josep Borrell.

Pelas palavras iniciais de Guaidó, parecia ser isso que está cada vez mais em cima da mesa. “Os acontecimentos de [sábado] obrigaram-me a tomar uma decisão: propor formalmente, à comunidade internacional, que devemos ter todas as opções abertas para assegurar a liberdade do nosso país”, afirmou Guaidó no Twitter.

Republicando e comentando esta mensagem também no Twitter, o senador da Florida, Marco Rubio, foi o mais directo: “Depois de conversas com vários líderes regionais é agora claro que os crimes graves hoje cometidos pelo regime de Maduro abriram a porta a potenciais acções multilaterais que há 24 horas não estavam em cima da mesa”.

Guaidó suavizou depois a proposta porque, explica o El País, tem de gerir cuidadosamente o apoio americano: a hipótese de um conflito armado "condena-o a perder a batalha da opinião pública, sobretudo na União Europeia". 

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Tropas fiéis a Maduro impediram que ajuda humanitária entrasse na Venezuela Joédson Alves / LUSA

O líder da oposição disse que continua a exigir que Maduro deixe entrar o auxílio no país e que procura outros percursos. Revelou, ainda, que vai participar numa reunião em Bogotá, na segunda-feira, com o vice-presidente norte-americano, Mike Pence, e outra com o chamado Grupo de Lima de países da região que se opõem a Maduro, na qual serão decididas novas linhas de actuação para aumentar a pressão sobre o regime.

Maduro nega que a Venezuela necessite de ajuda internacional. O país está, porém, a receber doações de outras formas, como nota a revista norte-americana Atlantic num artigo sobre o uso da ajuda como arma política, e como esta operação dos EUA e Brasil tem um forte objectivo político de ajudar Guaidó, que depois de se ter proclamado Presidente da Venezuela, foi reconhecido por mais de 50 países.

E se Maduro venceu ao mostrar que está ainda a controlar a Venezuela, o custo foi mostrar-se um regime que não hesita em usar força e que não ouve uma parte dos seus cidadãos nas ruas.

As imagens dos camiões de ajuda queimados são muito fortes. Marco Rubio publicava uma colagem de primeiras páginas de jornais destacando “um regime surdo” e Guaidó invocou as Convenções de Genebra que consideram crime contra a humanidade destruir ajuda. A Amnistia Internacional lembrou ainda que o uso de balas reais em manifestações é um crime de acordo com a lei internacional.

Cenários

O diário espanhol El Confidencial traça vários cenários para os próximos dias, incluindo que a oposição continue a tentar que a ajuda entre por outras vias em caminhos secundários e de forma menos mediática, “o que assegura o objectivo final da sua entrada mas não o objectivo que fosse registado nos media”.

Mesmo uma tentativa mais discreta arrisca a novos confrontos com as forças de Maduro, para quem a entrada de ajuda é uma porta para uma intervenção militar americana. No sábado morreram quatro pessoas e dezenas ficaram feridas; na sexta tinham morrido outras duas pessoas.

O exército continuou com Maduro apesar da pressão de milhares de pessoas que foram para perto de instalações militares e das pessoas que estavam na fronteira a pedir aos militares que permitissem a passagem da ajuda.

Mesmo assim, 60 membros da Guarda Nacional, das forças especiais (FAES) e da polícia, desertaram. Guaidó passou o dia a cortejá-los e as expectativas eram que houvesse deserções em massa. Continuam a ser “a chave deste jogo”.

No seu Twitter e a propósito dos militares, Guaidó questionou o que pensaria Hugo Chávez: “Duvido que Hugo Chávez aceitasse o que Maduro trouxe para a Venezuela e para as Forças Armadas: fome, violência, repressão e medo”, escreveu.

“Maduro destruiu tudo começando pela constituição promovida por Chávez em 1999”, disse Guaidó, perguntando: “Os apoiantes de Chávez defenderiam isto? A sua filha, Maria Gabriela, aprovaria?” A menção ao antigo Presidente, que morreu em 2013 com um cancro, levou muitos dos seus apoiantes a reclamar porque, disseram, foi Chávez "quem começou isto tudo”.