Dinossauro da Patagónia tinha um anel de espinhos no pescoço
Os espinhos deveriam servir para assustar os predadores de dinossauro que viveu há 140 milhões de anos e se alimentava de plantas.
O Bajadasaurus pronuspinax podia ser como qualquer outro saurópode – grupo de dinossauros herbívoros caracterizados pelo longo comprimento do corpo e da cauda – se não possuísse uns enormes espinhos inclinados para a frente no pescoço e no dorso.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O Bajadasaurus pronuspinax podia ser como qualquer outro saurópode – grupo de dinossauros herbívoros caracterizados pelo longo comprimento do corpo e da cauda – se não possuísse uns enormes espinhos inclinados para a frente no pescoço e no dorso.
Fósseis deste herbívoro da família dos dicraeossaurídeos – com cerca de nove metros de comprimento e cujos espinhos podiam chegar aos 1,2 metros – foram encontrados na formação geológica de Bajada Colorada, na província de Neuquén, no Norte da Patagónia, na Argentina. O novo quadrupede para a ciência viveu há cerca de 140 milhões de anos, no Cretáceo Inferior.
A função desses espinhos ainda é desconhecida, mas os cientistas pensam que serviriam para dissuadir os predadores. O crânio mais completo de um dinossauro dicraeossaurídeo pertence agora a esta nova espécie com 140 milhões de anos, segundo um artigo publicado na revista científica Scientific Reports.
“Enquanto nalguns dinossauros saurópodes o facto de terem um grande tamanho e crescimento rápido permitia que ficassem em segurança, outros desenvolveram estratégias criativas como chicotadas [com a cauda], pele endurecida e espinhos na ponta da cauda. O Bajadasaurus possuía no pescoço e no dorso espinhos grandes e pontiagudos. Acreditamos que a função possível desses espinhos seria assustar os seus predadores”, explicou ao PÚBLICO Pablo Gallina, um dos autores do artigo científico e que pertence ao Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas de Buenos Aires, na Argentina. Ainda assim, existem outras hipóteses sobre a utilidade destes espinhos – poderiam servir para regular a temperatura corporal, ser um ornamento sexual (como o leque de penas dos pavões) ou até uma forma de armazenar gordura.
“São uns espinhos muito grandes e no Bajadasaurus os maiores chegavam a medir um metro ou 1,2 metros”, disse Pablo Gallina à BBC online. Estes espinhos eram semelhantes aos cornos de mamíferos actuais, como cabras e antílopes, sendo revestidos por queratina que lhes fornecia a dureza necessária para não se danificarem facilmente. Um dos seus parentes mais próximos, o Amargasaurus cazaui, um saurópode que viveu 15 milhões de anos mais tarde, também possuía espinhos no pescoço e no dorso. No entanto, os espinhos desta nova espécie são inclinados para a frente, na direção da cabeça, no sentido contrário do seu futuro parente.
“Nos trabalhos de campo de 2013, tive a oportunidade de encontrar os primeiros vestígios [do Bajadasaurus] numa rocha onde se destacava um punhado de dentes”, recorda o paleontólogo. Nessa rocha estava incluído o crânio quase completo (recuperado em 80%) com o maxilar inferior inteiro. Este é assim o crânio mais completo de um dinossauro dicraeossaurídeo conhecido até agora, segundo o artigo científico. “Depois de alguns meses de preparação técnica, apercebemo-nos de que tínhamos um crânio quase completo e algumas vértebras do pescoço de um novo dinossauro saurópode”, acrescenta Pablo Gallina ao PÚBLICO.
A nova espécie de dinossauro, baptizada Bajadasaurus pronuspinax, tem a primeira parte do seu nome inspirada no local onde foi encontrado – a formação de Bajada Colorada e a segunda parte faz referência à sua característica mais evidente: os seus enormes espinhos virados para a frente.
“Muitas horas a arrancar plantas”
“A partir do estudo dos dentes e da mandíbula (com cerca de 30 centímetros de comprimento) concluiu-se que este dinossauro passava muitas horas a arrancar pequenas plantas. Plantas vasculares, espécies da família Equisetaceae e coníferas em forma de arbusto faziam parte da dieta do Bajadasaurus pronuspinax”, notaram os investigadores ao jornal espanhol El País.
Muitos são os dinossauros encontrados na Patagónia argentina, incluindo alguns dos maiores herbívoros que se conhecem. O clima desértico e com pouca vegetação facilita o trabalho dos paleontólogos. O Bajadasaurus pronuspinax é o quarto dinossauro da família dos dicraeossaurídeos a ser encontrado na Argentina. No entanto, segundo Pablo Gallina, pouco se conhece sobre a vida na Terra há 140 milhões de anos: “A descoberta do Bajadasaurus é importante não só devido ao seu aspecto bizarro com um anel de espinhos ao longo do pescoço, mas também porque habitava o Cretáceo Inferior, uma altura da evolução dos dinossauros muito pouco conhecida.”
Texto editado por Teresa Firmino