O Ambiente está de volta ao centro da política
Há no ar uma nova perspectiva e uma nova atitude para com o Ambiente. Era bom que essa mudança contagiasse os outros partidos e entrasse em força nas próximas campanhas eleitorais.
A sociedade portuguesa daria um belo retrato de si mesma se fosse capaz de abolir por sua inteira e livre iniciativa o consumo de plásticos supérfluos. Mas como ficou evidente na história dos sacos plásticos, há rotinas que dificilmente se quebram e hábitos que raramente mudam a não ser pela imposição da lei ou pela sedução do dinheiro.
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A sociedade portuguesa daria um belo retrato de si mesma se fosse capaz de abolir por sua inteira e livre iniciativa o consumo de plásticos supérfluos. Mas como ficou evidente na história dos sacos plásticos, há rotinas que dificilmente se quebram e hábitos que raramente mudam a não ser pela imposição da lei ou pela sedução do dinheiro.
Na teoria, todos somos contra os copos de plástico com que os bares ou cafés disfarçam a sua preguiça para não ter de lavar louça, mas na prática todos ou quase todos os aceitamos como se fizessem parte da ordem natural das coisas. Antecipando a aplicação de uma directiva europeia, o Governo quer acabar com esse estúpido desperdício. Faz bem.
E faz bem porque este tipo de consumos não está necessariamente ligado à liberdade de escolha dos cidadãos. Em muitos casos, temos de beber água em copo de plástico ou comer uma sanduíche em prato de plástico porque não há alternativa. Nos estabelecimentos que servem bebidas ou nos supermercados que vendem pratos ou copos de usar e deitar fora raramente há alternativas de cartão ou de outros materiais menos lesivos do ambiente.
Ao proibir ou ao impor um custo a esse tipo de produtos, a lei vai forçar o comércio a mudar a sua lógica de oferta e motivará os consumidores a perceber que controlar a praga do plástico é algo fácil e compensador. Dizer que estas iniciativas políticas são a continuação dos impostos por outros meios não tem cabimento – as receitas com os sacos plásticos ficaram muito longe do previsto porque as pessoas deixaram simplesmente de os comprar.
Mas, sendo de inspiração europeia, este anúncio tem outro significado. O Governo (e o PS) deixaram ao longo da legislatura de ver o Ambiente como um adorno e passaram a considerar a área como crucial no âmbito de uma nova geração de políticas de esquerda. Talvez inspirados pelo sucesso dos Verdes na Alemanha, na Holanda ou entre os jovens democratas nos Estados Unidos, os socialistas libertaram a energia (e o excelente humor, já agora) de João Pedro Matos Fernandes.
Há no ar uma nova perspectiva e uma nova atitude para com o Ambiente – veja-se o roteiro para a descarbonização, a nova frente contra os plásticos ou a própria mudança na política energética, agora mais voltada para as renováveis. Era bom que essa mudança contagiasse os outros partidos e o Ambiente entrasse em força nas próximas campanhas eleitorais.