Passos acusa PS, BE e PCP de só criticarem cortes com PSD

Regressando à intervenção pública numa iniciativa do PSD, Passos acusa PS, PCP e BE: “Só se importavam que nós [PSD] cortássemos, quando são eles a cortar não tem problema nenhum.”

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Passos Coelho regressou à intervenção pública na sexta-feira à noite LUSA/Sergio Azenha

O ex-primeiro-ministro e ex-líder do PSD, Pedro Passos Coelho, acusou o PS, o BE e o PCP de só se importarem com os cortes na despesa com a Saúde e a Educação quando o PSD era Governo.

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O ex-primeiro-ministro e ex-líder do PSD, Pedro Passos Coelho, acusou o PS, o BE e o PCP de só se importarem com os cortes na despesa com a Saúde e a Educação quando o PSD era Governo.

Intervindo, sexta-feira à noite, na Academia Política Calvão da Silva, que decorre até domingo em Coimbra, Passos Coelho avisou que devido a uma pior conjuntura externa - por exemplo, quando grandes economias para onde Portugal exporta entrarem em recessão - e com as receitas do Estado português a cair, o Governo terá de cortar na despesa, mas ironizou que isso “nem pensar, o Tribunal Constitucional não deixa”.

Passos Coelho afirmou que “só se for na Saúde, na Educação, no investimento e noutras coisas, porque nessas o Partido Comunista Português, o Bloco de Esquerda e o PS não se importam de cortar”, concluindo: “Só se importavam que nós [PSD] cortássemos, quando são eles a cortar não tem problema nenhum.” E, questionando se a solução para a eventual queda das receitas passará por um aumento dos impostos “indirectos, os mais difusos”, e se esses “chegarão”, o ex-primeiro-ministro acrescentou: “Nessas eles cortam mais do que nós cortámos, portanto, a coisa vai funcionando.”

Passos Coelho dedendeu ainda que a questão “não é de partidos ou de clubes partidários, é um problema nacional” e endereçou responsabilidades ao PS, argumentando que “sempre que estes problemas graves aconteceram, era o PS que tinha a responsabilidade de tratar destas coisas” porque estava no Governo.

“E mesmo na véspera das coisas correrem mal, havia sempre ministros socialistas importantes a explicar que tinha sido o melhor ano do mundo, o maior crescimento da Europa, que estávamos numa trajectória fantástica e os outros eram Velhos do Restelo. Os mesmos ministros que levaram o país à pré-bancarrota, são os mesmos que hoje repetem o mesmo discurso de então, em 2009 e 2010. Os mesmos, é uma coisa notável”, acusou o ex-líder do PSD, que deixou o cargo há cerca de um ano. “Pelo menos poder-se-á dizer que o PS não aprendeu muito com isso”, declarou.

Na sua intervenção, ao longo de cerca de duas horas, onde respondeu também a algumas perguntas da assistência, constituída maioritariamente por jovens militantes e simpatizantes do PSD, Passos Coelho insistiu na responsabilização de cada Estado-membro da UE no futuro da Europa e avisou que esse exercício também se tem de fazer em Portugal. “Não vale a pena andar sempre a arranjar pretextos e desculpas para contornar as regras, há muita esperteza saloia metida nisto, em todos os países, não é só portuguesa. É uma esperteza saloia que nos cai em cima da cabeça”, considerou Passos Coelho, reiterando que “toda a gente sabe” que as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento e do Tratado Orçamental têm de ser cumpridas.

“Mete dó, a cada semestre europeu, o exercício de tentar simular que o desvio [orçamental] face àquilo que é o desvio admissível, não será um desvio demasiado elevado, aquilo que se chama, na linguagem europeia, significativo”, enfatizou Passos Coelho. Sobre esse tema, aludiu a países que “fazendo as contas de outra maneira”, prometem cumprir as regras orçamentais europeias e frisou que o ministro das Finanças, Mário Centeno, “também começou assim”. Acusando: “Depois em Bruxelas disseram-lhe ‘não, não há outra maneira, as contas são assim, faça lá’. Diga-se de passagem, o Conselho de Finanças Públicas cá e a UTAO [Unidade Técnica de Apoio Orçamental] cá também sabiam fazer as contas, leram pelos mesmos livros e disseram [ao ministro das Finanças] ‘não é assim que se faz as contas’. E o dr. Centeno sabia muito bem como se faziam as contas mas não lhe dava jeito e, portanto, fez outras”. Para afirmar, numa alusão à presidência do Eurogrupo: “E depois mudou-as. E agora está a ensinar a fazer contas.”

A academia política promovida pela JSD e baptizada com o nome de Calvão da Silva - ex-ministro, antigo líder distrital de Coimbra e presidente do Conselho de Jurisdição Nacional na liderança de Passos Coelho, que faleceu há cerca de um ano, vítima de doença prolongada - começou sexta-feira e termina domingo, dia em que entre os oradores convidados estão previstas as presenças de Manuela Ferreira Leite e Rui Rio.