Cardeal admite que Igreja destruiu provas sobre abusos sexuais
Reinhard Marx admitiu que foram destruídos documentos que teriam permitido identificar autores de abusos. Representantes de 114 conferências episcopais participam numa reunião inédita sobre o problema que foi convocada pelo Papa Francisco.
A Igreja Católica destruiu documentos sobre padres que cometeram abusos sexuais, permitindo que estes continuassem a fazê-lo. Desta vez não se trata de uma acusação, mas sim uma admissão de um dos cardeais mais importantes do Vaticano.
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A Igreja Católica destruiu documentos sobre padres que cometeram abusos sexuais, permitindo que estes continuassem a fazê-lo. Desta vez não se trata de uma acusação, mas sim uma admissão de um dos cardeais mais importantes do Vaticano.
O alemão Reinhard Marx, figura próxima do Papa Francisco, afirmou que, durante décadas, a Igreja ignorou os direitos das vítimas e protegeu membros do clero envolvidos em escândalos sexuais.
“Ficheiros que poderiam ter documentado actos horrendos e revelado o nome dos seus responsáveis foram destruídos, ou nem chegaram a ser redigidos. Os procedimentos estipulados para julgar estes crimes foram deliberadamente ignorados, e até revogados. Os direitos das vítimas foram espezinhados”, disse Marx, presidente da Conferência Episcopal Alemã, que em Setembro de 2018 apresentou publicamente um pedido de desculpa às vítimas de crimes sexuais. Fez a admissão na cimeira que decorre até hoje no Vaticano e que reúne, por convocatória do Papa Francisco, presidentes das conferências episcopais do mundo inteiro para discutir os abusos sexuais de menores no seio da Igreja Católica.
A prática de ocultar a identidade de abusadores e transferi-los para outras paróquias repetiu-se ao longo de várias décadas em diversos países, permitindo a um número indeterminado de padres escapar à justiça e reincidir nos crimes.
Francisco fez chegar aos cerca de 190 participantes da cimeira um guião com 21 pontos em que reivindica, por exemplo, a criação nas várias dioceses de estruturas, com “uma certa autonomia em relação à autoridade eclesiástica local”, para recepção de denúncias de abusos.
Durante o encontro sem precedentes, Francisco forçou bispos e cardeais a encararem as vítimas de abusos, convidando algumas a participar.
A sessão deste sábado ficou também marcada pela indignação de duas mulheres, uma freira e uma jornalista — este mês foi revelado mais um capítulo do escândalo que afecta a Igreja, com a denúncia de freiras abusadas por padres.
Em silêncio, os altos representantes da Igreja Católica ouviram a irmã nigeriana Veronica Openibo e a jornalista mexicana Valentina Alazraki acusar a instituição de hipocrisia e de encobrimento dos crimes contra crianças. “Esta tempestade não vai passar”, disse a Openibo à plateia de homens. “Para uma mãe não há filhos em primeiro e em segundo lugar — disse a jornalista sobre as vítimas que a Igreja silenciou —, tal como não há para a igreja”.