O sal de Jorge e Sandra e os cavalos de Joana são experiências de terroir
Duas experiências para sentir outro Algarve: uma visita às salinas de Salmarim e um passeio a cavalo pela praia.
Jorge Raiado e a mulher, Sandra, têm feito um trabalho incansável para dar a conhecer o sal da zona de Castro Marim e nos últimos anos cada vez mais abrem as portas (em sentido figurado, dado que aqui não há portas) das suas salinas para, pacientemente, mostrarem o processo de extracção da flor de sal, a diferença (enorme) que existe entre este produto e o sal industrial e a influência que os diferentes terroirs, com terrenos mais arenosos ou mais barrentos, têm nos sabores do sal, um pouco à semelhança do que acontece com o vinho.
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Jorge Raiado e a mulher, Sandra, têm feito um trabalho incansável para dar a conhecer o sal da zona de Castro Marim e nos últimos anos cada vez mais abrem as portas (em sentido figurado, dado que aqui não há portas) das suas salinas para, pacientemente, mostrarem o processo de extracção da flor de sal, a diferença (enorme) que existe entre este produto e o sal industrial e a influência que os diferentes terroirs, com terrenos mais arenosos ou mais barrentos, têm nos sabores do sal, um pouco à semelhança do que acontece com o vinho.
A visita às salinas da Salmarim é uma das experiências que o Hotel Grand House oferece e é uma verdadeira aula em plena natureza, onde aprendemos que o sapal, reserva natural, não serve apenas para os homens reterem a água do mar, criando piscinas que comunicam entre si e, num processo aperfeiçoado ao longo da história, esperarem que o sol faça o seu papel e vá evaporando a água até deixar apenas os cristais; o sapal é também um delicado ecossistema, onde aves variadas nidificam, onde há patos, coelhos ou lebres, como a que vemos, de repente, a levantar as orelhas no meio da vegetação, partindo a correr, saltitante.
“Agora temos uma ave nova, que é o corvo, que faz razias sobre a água”, comenta Jorge, enquanto percorre a berma das salinas. “Os perna-longa nidificam porque têm um nível de água sempre estável. Se o homem abandonar a sua actividade aqui, provavelmente ao fim de alguns anos as aves migratórias vão alterar o seu percurso.” Por isso, nas visitas que fazem (grupos de não mais do que oito pessoas é o ideal) explicam as características do sapal, apanham pelo caminho cacos de barro que talvez um dia ajudem a explicar alguma coisa sobre o passado desta área, e, se estivermos na altura certa, o Verão, mostram como se retira essa camada finíssima e extremamente delicada que se forma à superfície da água e que é a flor de sal, o produto nobre destas salinas.
No final do passeio, o casal recebe-nos no Armazém, a casa de apoio junto às salinas, onde prepara alguns petiscos, todos pensados para valorizar a flor de sal e mostrar como é diferente temperar com ela o que comemos. Jorge começa por preparar, ao lume, um prato cheio de sal grosso, sobre o qual coloca conchas que, com o calor, vão abrindo, uma a uma, revelando no interior os berbigões numa água de mar.
Abrimos uma garrafa de vinho branco e provamos os berbigões enquanto Jorge começa a descascar favas novas (estão agora a voltar a plantar favais junto às salinas, como se fazia antigamente, mas estas vieram de um produtor amigo), que vamos comer temperadas apenas com uns flocos de flor de sal. E, por fim, o nosso anfitrião corta aos gomos um tomate coração de boi (ou rosa, como é chamado no Algarve) e serve uns gomos temperados com sal industrial e outros com a sua flor de sal. Não são precisos outros argumentos para nos convencer de que as salinas e o sapal de Castro Marim são uma das preciosidades do Algarve e que é importante mantê-las assim. O turismo, com sensibilidade e bom senso, serve para isto também.
A cavalo na praia
Os cavalos passeiam-se calmamente no campo aberto. Ouve-se, ao longe, o som do mar. O cenário é idílico. Vínhamos para um dos passeios que Joana Campos, do Tavira Equestrian Tourism, faz, mas como nos atrasámos e Joana tem uma tarefa complicada pela frente, ficamos apenas a assistir e a conversar um pouco com esta veterinária que, juntamente com o namorado, cria cavalos.
A tarefa complicada é apanhar uma das éguas e levá-la para ser coberta por um outro cavalo. Ela está com o cio, é a altura certa, mas não é assim tão fácil convencê-la a entrar no carro que a vai transportar. Distraímo-nos a observar os esforços de Joana, primeiro a dar-lhe comida (o que, inevitavelmente, atrai todos os outros cavalos), depois a montar outro animal e a correr ao lado da égua até esta se cansar e, por fim, baixar a cabeça para a dona lhe pôr as rédeas e a conduzir até ao veículo.
Andar a cavalo com estes animais é totalmente seguro, garante Joana. Até porque eles conhecem muito bem o caminho que fazem sempre nestes passeios e que leva as pessoas primeiro através do laranjal da propriedade e depois até à praia, onde os mais experientes podem arriscar algumas brincadeiras, entrando com os cavalos na água, e quem nunca montou pode ir a um ritmo mais calmo. O monitor que acompanha o passeio dá todo o apoio necessário – e tira as fotografias que todos, necessariamente, querem guardar. Joana diz que já teve entre os clientes uma criança com menos de dois anos e uma pessoa com 90 e que nunca houve qualquer problema.
O projecto dos passeios começou há três anos, mas tem vindo a crescer e já se vêem em construção novas boxes para os animais, indicando que mais irão chegar nos próximos tempos. Haverá também, no futuro, um picadeiro neste espaço que pretende ser, ao mesmo tempo, um santuário para cavalos que estejam mais velhos ou tenham tido algum problema e que aqui podem viver os seus últimos anos a fazer passeios calmos à beira-mar.