Arnaldo Matos, o marxista-maoísta que “pregava” no Twitter. “Operários de todos os países, uni-vos!”
O fundador do PCTP/MRPP viu na rede social um veículo privilegiado para passar a sua mensagem política. Mas também usava o Twitter para atacar de forma violenta os que considerava seus inimigos ou das suas causas.
Corrosivo, directo, provocador, populista, polémico e muitas vezes malcriado. Assim era Arnaldo Matos no Twitter, onde estava muito activo desde Setembro de 2017. O fundador do PCTP/MRRP apercebeu-se de que a rede social era um bom veículo para passar a sua mensagem, para defender as suas causas e para atacar aqueles que considerava seus inimigos ou do seu projecto político. E os “inimigos” eram quase todos os que estavam ou tinham estado em cargos de governação ou de poder. Do executivo à oposição, de membros da igreja a empresários e jornalistas, a quem frequentemente chamava “serventuários do poder”. Todos “levavam” ao sabor dos temas da actualidade, ou por tudo e por nada.
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Corrosivo, directo, provocador, populista, polémico e muitas vezes malcriado. Assim era Arnaldo Matos no Twitter, onde estava muito activo desde Setembro de 2017. O fundador do PCTP/MRRP apercebeu-se de que a rede social era um bom veículo para passar a sua mensagem, para defender as suas causas e para atacar aqueles que considerava seus inimigos ou do seu projecto político. E os “inimigos” eram quase todos os que estavam ou tinham estado em cargos de governação ou de poder. Do executivo à oposição, de membros da igreja a empresários e jornalistas, a quem frequentemente chamava “serventuários do poder”. Todos “levavam” ao sabor dos temas da actualidade, ou por tudo e por nada.
“É uma forma de combater o inimigo a partir do seu interior. Não o Twitter, mas o sistema onde está inserido. Se reparar bem, podemos fazer isso em qualquer empresa”, disse numa recente entrevista ao Expresso, confessando que não era ele que coloca as mensagens no computador ou telemóvel, porque não se entende muito bem com as máquinas. A autoria dos textos era, porém, sempre sua.
Arnaldo Matos gostava de saber que a sua mensagem passava na rede social e não escondia a sua alegria quando os seus textos eram muito visualizados: “Nesta minha despretensiosa conta de Tuíter, que tanto interesse tem despertado no País inteiro, foi visualizado 21.758 vezes o tuíte que abaixo transcrevo, por me parecer um caso muito significativo da dedicação aos temas políticos mais importantes”, escrevia a 31 de Dezembro do ano passado
E o tweet que abaixo transcrevia dizia: “A classe operária portuguesa deve organizar-se sob a teoria do marxismo, a ideologia do comunismo internacionalista, para conduzir a revolução portuguesa à vitória contra o capitalismo e o imperialismo.”
Entre os inimigos havia uns que mereciam mensagens mais duras, muitas vezes até ofensivas. Um deles era o seu antigo amigo e companheiro de partido Garcia Pereira, expulso do PCTP/MRPP por Arnaldo de Matos em Outubro de 2015.
“Social-fascistas liquidacionistas” – assim se referia frequentemente a Garcia Pereira e a membros da sua família. E estas eram as palavras mais simpáticas, porque muitas vezes as referências ao seu antigo camarada foram mesmo claramente ofensivas.
PCP, BE, os Verdes e os principais dirigentes destes partidos também foram alvos frequentes do fundador do PCTP/MRPP. Especialmente por formarem a aliança que apoia o Governo socialista. Estes eram os “traidores social-fascistas que se uniram ao PS e lhe venderam os direitos dos trabalhadores”.
“Serviu este governo unicamente para que todos ficássemos a saber o que é a estupidez e pequenez de espírito de imbecis cruzados de idiotas como Costa/Centeno/Jerónimo/Catarina/Apolónia, verdadeira gente de partidos acéfalos. Não se via futuro ao País!”, escreveu em Janeiro.
Muitas vezes os textos dedicados ao Governo e seus apoiantes terminavam com uma frase sempre muito citada no Twitter: “Isto é tudo um putedo!”
A polémica que mais ruído causou envolveu o primeiro-ministro. “Costa, não tendo maioria, pensa obtê-la com o jackpot das raças no governo: um monhé, um preto, um cigano, um judeu, faltou um chinês... Em vez de limitar-se ao apoio dos partidos (PCP, Bloco, Verdes), reforçou-se com o apoio das raças”, disse em Outubro de 2018.
A frase valeu-lhe várias acusações de “racismo”, mesmo em muitas mensagens na sua conta na rede social. Arnaldo Matos rebateu todas as acusações. Afirmou mesmo que o uso da palavra “monhé” tinha um sentido carinhoso. E assim continuou a referir António Costa.
A “luta dos trabalhadores”, a batalha contra a “opressão do homem pelo homem” e contra o capitalismo esteve sempre muito presente nas palavras escritas por Arnaldo Matos. Algumas vezes de forma radical, como aconteceu em Junho do ano passado. “Organizemo-nos e lutemos contra esta exploração capitalista com tudo o que tivermos à mão”, disse, acompanhado o texto com uma imagem de duas armas cruzadas e da frase "I love AK-47" (eu amo a [arma de assalto] AK-47).
Mesmo nos momentos festivos, os valores que defendia estiveram sempre presentes. “Sou comunista. A minha filosofia é o materialismo dialéctico, herdado de Marx e Engels. Não preciso de deuses, no singular ou no plural, para compreender e explicar o Universo e o papel do Homem nele. É todavia nesta quadra que desejo Boas Festas aos Portugueses. Boas Festas!”, publicou na véspera de Natal do ano passado.
E continuou sete dias depois, com dois textos na noite da passagem de ano: “Terminamos à meia-noite de hoje mais um ano de luta sem tréguas contra a exploração e a opressão do homem pelo homem. Neste ano tivemos de combater contra traidores social-fascistas do PCP, do Bloco e dos Verdes, que se uniram ao PS e lhe venderam os direitos dos trabalhadores”. “Mas, à mesma hora, continuaremos a luta, contra tudo e contra todos, pela construção de uma sociedade sem classes, sem exploradores e sem explorados, até à vitória final. Operários de todos os Países, uni-vos!”
A conta de Arnaldo de Matos era nesta sexta-feira seguida por 3761 pessoas e nela o fundador do PCTP/MRRP publicou 3334 tweets. No último, com data do dia 20 deste mês, lembrava a morte do “Marinheiro do Beijo do Dia da Vitória”: “Aquele marinheiro ousado que aparece numa fotografia de 1945 a beijar uma enfermeira em Times Square, Nova Iorque, no dia da vitória sobre o Japão, morreu no domingo passado, com 95 anos de idade, na sequência de um ataque cardíaco.”