Fevereiros ou a Bahia e o Rio unidos num filme por Maria Bethânia

Documentário de Marcio Debellian estreou-se nas salas do Brasil e é apresentado esta sexta-feira no festival Muvi, em Almada, às 19h.

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Foi finalmente estreado em sala, no Brasil, o documentário Fevereiros, realizado por Marcio Debellian e que tem como protagonista Maria Bethânia, na ligação sincrética entre dois Fevereiros: o do Recôncavo baiano, religioso, e o do carnaval carioca, entre Santo Amaro da Purificação da Bahia e o Rio de Janeiro, com o apogeu da Mangueira. Estreou-se no dia 31 de Janeiro e vai poder ser visto de novo em Portugal, agora em Almada, no Muvi - Festival Internacional de Música no Cinema, esta sexta-feira, às 19h.

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Foi finalmente estreado em sala, no Brasil, o documentário Fevereiros, realizado por Marcio Debellian e que tem como protagonista Maria Bethânia, na ligação sincrética entre dois Fevereiros: o do Recôncavo baiano, religioso, e o do carnaval carioca, entre Santo Amaro da Purificação da Bahia e o Rio de Janeiro, com o apogeu da Mangueira. Estreou-se no dia 31 de Janeiro e vai poder ser visto de novo em Portugal, agora em Almada, no Muvi - Festival Internacional de Música no Cinema, esta sexta-feira, às 19h.

Fevereiros já por cá tinha passado em meados de 2018, com apresentações no Porto, em Amarante e no 1.º Festival de Cinema Brasileiro de Lisboa, no cinema São Jorge, altura em que o produtor e documentarista Marcio Debellian esteve em Portugal. O filme coincide com o momento em que, em pleno centenário do samba, a escola da Mangueira escolheu A Menina dos Olhos de Oyá como canção-hino das celebrações.

“Fazia sentido para mim, num acto histórico, cem anos depois, uma baiana de Santo Amaro ser homenageada pela escola de samba mais popular carioca”, diz Marcio ao PÚBLICO. “Porque foram os baianos que trouxeram a informação do samba de roda, do candomblé, para o centro do Rio de Janeiro. Achei que ali tinha um fio para navegar, para o filme.”

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Marcio Debellian DR

A exuberância dos deuses

A Mangueira sairia vencedora nesse ano, e tal vitória deu outra força a Fevereiros. As filmagens começam pelo barracão onde se criam as peças do carnaval, em Setembro de 2015. “O barracão no osso. Só depois começou a carpintaria, os adereços. Depois que a Mangueira foi campeã, estive dois meses decupando todo o material que eu tinha. E fui estudar com Luiz Antônio Simas, historiador, para criar esses fios de ligação.” Bethânia já tinha sido contactada, mas ainda não entrevistada para o filme. “Ela autorizou, mas estava ocupada com os 50 anos de carreira.” Por isso, foi a última a falar. Antes, Marcio entrevistou os seus irmãos Mabel e Caetano Veloso ou Chico Buarque, entre outros.

“O Caetano fala da experiência deles, da casa de Dona Canô [sua mãe e matriarca dos Veloso, que viveu até aos 105 anos]”, diz Marcio “Aqui tem um ateu, uma católica que é a Mabel, que diz que não é do candomblé mas tem todos os rituais do candomblé na cidade, e depois há Bethânia, que é assumidamente católica e sincrética. É uma amostra do pensamento brasileiro médio, que tem essa convivência com a religião de matriz africana. Não do candomblé, que tem uma coisa mais vigorosa com a tradição, mas com a umbanda, já fundada no Brasil e que eu diria que é o tropicalismo das religiões, porque tem ligações católicas, orientais, orixás. O Brasil tem isso e é mais potente quando tudo convive bem.”

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Maria Bethânia, num momento do filme DR

E se Caetano Veloso é ateu, não é menos verdade que a transcendência merece dele algum respeito. Marcio recorda o texto “A memória de Mãe Menininha”, inserido no livro O Mundo Não é Chato (organizado por Eucanaã Ferraz e editado pela Companhia das Letras em 2005) onde Caetano sublinha “a exuberância dos deuses que vieram habitar o nosso tempo” e diz, dessa mãe-de-santo – que tanto inspirou Bethânia como, por exemplo, Jorge Amado –, que “ela sabia sugerir uma superação do medo.”

África e a voz de Mia Couto

Esse espírito, de herança africana, está presente no filme. Onde, a certa altura, se ouve Bethânia a citar um excerto de uma passagem do livro A Espada e a Azagaia, de Mia Couto (2016). Assim: “A música é a língua materna de Deus. Foi isso que nem católicos nem protestantes entenderam. Que em África os deuses dançam. E todos cometeram o mesmo erro: proibiram os tambores. Na verdade, se não nos deixassem tocar os batuques, nós, os pretos, faríamos do corpo um tambor. Ou, mais grave ainda, percutiríamos com os pés sobre a superfície da Terra e, assim, abrir-se-iam brechas no mundo inteiro.”

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Fevereiros DR

O documentário de Marcio Debellian é apresentado esta sexta-feira, dia 22 de Fevereiro (o mês que lhe dá título), no Fórum Romeu Correia, em Almada, a partir das 19h, numa sessão com mais dois filmes. O Muvi - Festival Internacional de Música no Cinema, que decorre de 21 de Fevereiro até 3 de Março, tem ainda concertos no Cine Incrível nos dias 25 (The Manchesters e Harka) e 26 (Joana Barra Vaz e Andy Sheppard), ambos às 22h.