Adeus planeta azul: a Terra está a ficar verde

Investigadores da NASA sublinham papel da China e da Índia que, apesar de serem os dois países mais populosos do mundo, têm vindo a reunir esforços para aumentar a quantidade de plantas e árvores e a produção agrícola.

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Reuters/STRINGER/MEXICO

A temperatura do planeta está a aumentar, as alterações climáticas e o degelo nos pólos afectam cada vez mais espécies, mais de 95% da população mundial está exposta à poluição atmosférica e os Governos mostram-se cada vez mais preocupados com as consequências a longo prazo do aquecimento global. Mas há esperança. Um estudo recente, publicado na revista Nature Sustainability e financiado pela NASA, revela que o planeta azul está literalmente mais verde. Nos últimos 20 anos, a zona verde no mundo aumentou 5%, o que significa que, na verdade, o planeta tem agora uma maior quantidade de plantas e árvores.

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A temperatura do planeta está a aumentar, as alterações climáticas e o degelo nos pólos afectam cada vez mais espécies, mais de 95% da população mundial está exposta à poluição atmosférica e os Governos mostram-se cada vez mais preocupados com as consequências a longo prazo do aquecimento global. Mas há esperança. Um estudo recente, publicado na revista Nature Sustainability e financiado pela NASA, revela que o planeta azul está literalmente mais verde. Nos últimos 20 anos, a zona verde no mundo aumentou 5%, o que significa que, na verdade, o planeta tem agora uma maior quantidade de plantas e árvores.

A China e a Índia, os dois países mais populosos do mundo, são os que mais têm contribuído para este fenómeno. Apesar de ambos abrangerem apenas 9% da área verde total do planeta, são responsáveis por um terço deste crescimento florestal. “Uma descoberta surpreendente, tendo em conta a noção geral sobre a degradação dos solos em países populosos devido à sobreexploração”, explica Chi Chen, investigador da Universidade de Boston (Estados Unidos) e autor do estudo, em comunicado.

A China, por si só, é responsável por 25% do aumento global das áreas verdes, graças a programas de conservação e reflorestação. Outras medidas de ordenamento do território e uma prática de agricultura intensiva têm também contribuído para este aumento, com uma melhoria dos sistemas de irrigação e do uso de fertilizantes na Índia. Desde 2000, segundo os autores, a produção alimentar nestes países aumentou cerca de 35%.

O fenómeno foi detectado, pela primeira vez, na década de 1990 pelo investigador da NASA Ranga Myneni e colegas que, à data, não conseguiram perceber se a actividade humana estaria directamente relacionada com uma maior quantidade de zonas verdes.

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NASA

Agora, dados recolhidos por dois satélites da NASA a orbitar a Terra permitiram compreender com maior detalhe o que está a acontecer às florestas. Ao longo das últimas duas décadas, foram recolhidas diariamente quatro fotografias dos vários locais da Terra que, quando comparadas, revelaram uma maior quantidade de verde no mapa do mundo.

“Quando o aumento da área verde da Terra foi observado pela primeira vez, pensamos que seria devido a um clima mais quente e húmido e à fertilização com dióxido de carbono [o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera poderá levar a um aumento da fotossíntese e ao crescimento das plantas], conduzindo a um maior crescimento das plantas, por exemplo, nas florestas do Norte. Agora que podemos compreender o fenómenos a escalas muito minuciosas, vemos que os humanos também estão a contribuir [para este fenómeno]”, explicou Rama Nemani em comunicado.

Os resultados apontam para um aumento da zona verde que equivale à área total da floresta Amazónica (cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados), traduzindo-se num aumento de 5% da área verde no mundo desde a viragem do milénio.

 “Agora que sabemos que a influência humana é um dos principais impulsionadores directos do aumento das zonas verdes na Terra, precisamos de ter isto em conta nos nossos modelos climáticos”, assinalou Rama Nemani. Os novos dados e investigações poderão ainda “ajudar os países a tomarem melhores decisões sobre como e quando tomar medidas”, acrescentou.

Embora Rama Nemani acredite que a descoberta traz alguma esperança ao mundo e que demonstra que os humanos “são incrivelmente resilientes” e têm capacidade para resolver as adversidades com que se deparam, os autores alertam que os ganhos ainda não compensam as perdas.

Por isso, os especialistas notam que não se deve desvalorizar a perda de vegetação natural em regiões tropicais, como o Brasil e a Indonésia, com consequências inegáveis para a sustentabilidade e diversidade dos ecossistemas.

De azul, o planeta pode mesmo vir a mudar de cor. Um outro estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), publicado no início do mês, veio revelar que as alterações climáticas estão a provocar mudanças significativas no fitoplâncton (microorganismos vegetais) que vive no oceano, o que irá fazer mudar a cor da água nas próximas décadas.