A conversa que se escuta entre um piano e um corpo brasileiros

Esta quarta-feira, o Teatro Tivoli, Lisboa, recebe um Duelo entre o pianista Marcelo Bratke e o bailarino principal do Royal Ballet londrino Thiago Soares. Um diálogo também entre as raízes populares brasileiras e a cultura clássica.

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Thiago Soares começou muito longe daqui. Foi só depois de se iniciar em artes circenses e entrar no mundo da dança pela porta do hip-hop e do breakdance que a dança clássica, por fim, se anunciou como o seu destino final. Depois de uma temporada com o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Thiago fez as malas e mudou-se para Londres, em 2002, onde acabou por se tornar bailarino principal do Royal Ballet, passados quatro anos. Foi o enorme reconhecimento que angariou nesse lugar destacado que levou a que, em 2011, fosse convidado a participar no Espectáculo pela Protecção da Infância, no Rio de Janeiro, criado para a rainha Sílvia, da Suécia, e em que surgia ao lado de outros consagrados da cultura brasileira como Caetano Veloso, Djavan, Fernanda Montenegro, Maria Gadú ou Marcelo Bratke.

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Thiago Soares começou muito longe daqui. Foi só depois de se iniciar em artes circenses e entrar no mundo da dança pela porta do hip-hop e do breakdance que a dança clássica, por fim, se anunciou como o seu destino final. Depois de uma temporada com o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Thiago fez as malas e mudou-se para Londres, em 2002, onde acabou por se tornar bailarino principal do Royal Ballet, passados quatro anos. Foi o enorme reconhecimento que angariou nesse lugar destacado que levou a que, em 2011, fosse convidado a participar no Espectáculo pela Protecção da Infância, no Rio de Janeiro, criado para a rainha Sílvia, da Suécia, e em que surgia ao lado de outros consagrados da cultura brasileira como Caetano Veloso, Djavan, Fernanda Montenegro, Maria Gadú ou Marcelo Bratke.

Essa apresentação abriria as portas a um laço que Thiago Soares estabeleceu com Marcelo Bratke, reputado pianista clássico e grande entusiasta e divulgador da obra de Villa-Lobos. A amizade sugerida nesse primeiro momento acabaria por ganhar dimensão com os constantes encontros que se seguiram sempre que se cruzavam em digressões pela Europa. Até que um amigo comum resolveu desafiá-los para a criação de um espectáculo conjunto que faria a abertura da revisitação em Londres da exposição A Arte da Diplomacia: Modernismo Brasileiro Pintado para a Guerra, uma histórica mostra de 70 artistas brasileiros que teve lugar originalmente em 1944. Aquilo que então lhes pediram foi que criassem de raiz um espectáculo que “falasse sobre as origens do Brasil”.

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“Então começámos a conversar e a pensar o que fazer”, conta Thiago Soares ao PÚBLICO, “e chegámos à conclusão de que não queríamos somente o Marcelo sentado a tocar no piano, tocando uma música, e eu dançando em volta dele. Queríamos dar um passo além, imaginar um diálogo entre os dois.” E foi a partir da curadoria musical de Bratke e da escrita coreográfica de Soares que então nasceu Duelo, espectáculo que é apresentado esta quarta-feira, dia 20, no Teatro Tivoli, em Lisboa, depois da estreia em 2018 e da presença em vários festivais no Brasil e em Itália.

Apesar de o título do espectáculo poder apontar para uma qualquer ideia de contrários ou de disputa, Thiago Soares garante que é sobretudo de uma conversa a dois que trata esta parceria. “Mas é verdade que às vezes chegamos nos temas desse diálogo e nem todas as palavras são pacíficas — como na vida, como em qualquer conversa em que a gente queira descobrir algo e questionar-se.” A eleger as temáticas que se afirmam sobre trechos musicais de Heitor Villa-Lobos ou Ernesto Nazareth, o bailarino não hesita em identificar “romance, competição, abandono e tristeza”, ideias que se impuseram na relação do movimento com as escolhas musicais de Bratke — que imprimiram um primeiro fio narrativo e que emprestam ao espectáculo “um perfume das raízes do Brasil, ainda que seja, sem dúvida, um produto criado na Europa”.

Em cada país visitado por Duelo, os dois convidam também uma bailarina local para adentrar numa sequência que explora imagens de galanteio e de enamoramento. Em Lisboa, esse papel cabe a Filipa de Castro, bailarina principal da Companhia Nacional de Bailado, fundamental, diz Thiago, por tornar “a narrativa viva”.