A pensar em investir? Boas razões para apostar no mercado vegano

A alimentação vegana tem ganho cada vez mais adeptos por todo o mundo, não sendo Portugal excepção, onde seriam pelo menos 60.000 aqueles que seguiam o veganismo em 2017.

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Rachael Gorjestani/Unsplash

De um movimento contracultura e marginal nas décadas de 60 e 70 a uma tendência global e persistente na actualidade, o veganismo instalou-se na discussão da esfera pública, mediática e até mesmo política, passando a ser considerado por muitos como um tema mainstream, especialmente desde 2010. Se até há pouco tempo este termo causava estranheza, hoje em dia já é comum nos depararmos com ele e os portugueses optarem por este tipo de alimentação/estilo de vida.

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De um movimento contracultura e marginal nas décadas de 60 e 70 a uma tendência global e persistente na actualidade, o veganismo instalou-se na discussão da esfera pública, mediática e até mesmo política, passando a ser considerado por muitos como um tema mainstream, especialmente desde 2010. Se até há pouco tempo este termo causava estranheza, hoje em dia já é comum nos depararmos com ele e os portugueses optarem por este tipo de alimentação/estilo de vida.

A forma como nos alimentamos e o impacto que isso tem na nossa saúde, no ambiente e nas outras formas de vida tornou-se num tema cada vez mais badalado, e até incontornável. E o estilo de vida vegano, em particular, a alimentação vegana, tem ganho cada vez mais adeptos por todo o mundo, não sendo Portugal excepção, onde seriam pelo menos 60.000 aqueles que seguiam o veganismo, em 2017, sendo provável que este número continue a aumentar. Aliás, só em Janeiro de 2019 cerca de 4500 pessoas aderiram ao Desafio Vegetariano, uma iniciativa portuguesa que pretende inspirar os portugueses a experimentarem a alimentação vegetariana.

Outras estatísticas também parecem demonstrar isso mesmo. Em 2016, o Google Trends deu conta de um aumento de 90% nas pesquisas do Google relacionadas com o termo “vegan”, superando amplamente as pesquisas pelo termo “vegetariano”, tendência essa que ainda se mantém. E a revista The Economist previu que 2019 seria “o ano do veganismo”.

Também de acordo com um estudo da Uber Eats, o veganismo será uma das grandes tendências alimentares em 2019, sobretudo na Europa e no Médio Oriente. A comprová-lo, de acordo com a empresa, “vegan” é o terceiro termo mais pesquisado pelos utilizadores da aplicação em Portugal.

Claramente, o veganismo não interessa apenas aqueles que seguem estritamente este estilo de vida, sendo que a procura pode ser atribuída a uma demografia crescente da população que segue uma alimentação flexitariana, procurando reduzir o seu consumo de proteína animal, por variadas razões.

Aliás, um estudo do Centro Vegetariano de 2017 sugere que apesar de 95% dos portugueses manterem o consumo de carne, peixe, lacticínios ou ovos, o consumo frequente de carne e peixe reduziu de forma significativa, podendo-se estimar que cerca de 30% da população opta pelo flexitarianismo, também conhecido como vegetarianismo em part-time.

O mercado global não tem sido indiferente a estas transformações, mostrando evidentes sinais de adaptação à mudança nas percepções e hábitos dos consumidores.

Prevê-se que o mercado das alternativas à carne (substitutos) registe um crescimento anual de 7,7% no período de 2018-2025, atingindo uma receita de cerca de 7.5 mil milhões de dólares em 2025, segundo a Allied Market Research.

Start-ups americanas estão a apostar no caminho do futuro, como a empresa Impossible Foods ou a Beyond Meat, que estão a investir seriamente na produção de alternativas à carne, com a mesma textura e sabor, mas inteiramente de base vegetal. E já atraíram o investimento de figuras como Bill Gates, Biz Stone e Evan Williams (fundadores do Twitter), e da multinacional Tyson, uma das maiores produtoras de carne do mundo.

Empresas tradicionalmente ligadas ao consumo de carne ou a produtos de origem animal parecem realmente não querer ficar pelo caminho e estão a adaptar-se pró-activamente à mudança.

É o caso da Danone, também atenta à transformação. A multinacional francesa adquiriu recentemente a empresa norte-americana WhiteWave, por mais de 11 mil milhões, que detinha as marcas de bebidas vegetais Alpro e Provamel, bem conhecidas dos portugueses, e com figuras de lucro ao nível das centenas de milhões.

E também a Unilever expandiu recentemente o seu catálogo de oferta de produtos vegan, ao adquirir a empresa holandesa O Talho Vegetariano, que está presente em 17 países, Portugal inclusive.

Até mesmo o franchising da McDonalds não ficou indiferente a este volte-face da indústria, tendo começado a introduzir opções vegetarianas, e até mesmo uma opção vegana, em países como a Suécia e a Finlândia, onde são um sucesso.

A mesma tendência verifica-se no sector dos lacticínios. Em Portugal, o aumento da popularidade das bebidas vegetais é notável, não sendo apenas uma opção para o consumidor vegano ou para o intolerante à lactose, mas também a escolha de uma parcela da população portuguesa em geral, preocupada com a sua saúde. Em 2015 registou-se um crescimento de 19% das vendas de bebidas de soja, e a Alpro registou também um crescimento na ordem dos 20% no mercado português. Simultaneamente, a venda do leite registava uma queda de 11% em 2016, que se tem mantido.

Até mesmo os queijos de origem vegetal já gozam de um crescimento em Portugal, com inúmeras marcas a entrarem no mercado. Estima-se que este mercado específico valha cerca de 4 mil milhões de dólares até 2024, registando-se uma taxa de crescimento anual de 7,6%.

A mudança não se fica apenas pela alimentação. O veganismo foi considerado uma tendência na moda em 2018, tendo-se registado o aparecimento de inúmeras alternativas ao couro no mercado, como produtos feitos à base de fibra de ananás, de cogumelos e até de kombucha. Em Portugal já existem várias marcas a apostar neste sector e a distinguir-se no mercado internacional.

E nem o sector da cosmética escapa ao interesse dos investidores. Recentemente, a Dove, uma gigante no mercado da cosmética, aderiu ao selo cruelty-free da PETA, mostrando um compromisso em se adaptar à pressão dos consumidores. O mercado português também já conta com várias empresas e uma oferta ampla de produtos de cosmética vegan, e a tendência será provavelmente para que aumente.

Embora Portugal seja ainda um mercado pequeno e incipiente, os consumidores portugueses já demonstraram um interesse em expansão na oferta de produtos e serviços vegan. Não será por acaso que o número de estabelecimentos vegetarianos ou veganos em Portugal aumentou seis vezes entre 2008 e 2018, de acordo com um estudo da Associação Vegetariana Portuguesa. Só o comércio ligado com o veganismo, que incluiu lojas e restauração, aumentou 3000% nesse período.

Existe portanto uma miríade de bons motivos para apostar optimisticamente no mercado vegan em Portugal. E se tiveres uma ideia a marinar, esta é a altura certa para a colocar em prática.