Esquema de corrupção do partido de Bolsonaro provocou primeira demissão no Governo

Gustavo Bebianno foi demitido depois de serem conhecidos os pormenores de um esquema de candidaturas fictícias. Para o seu lugar entrou mais um general.

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Gustavo Bebianno saiu do Governo ao fim de 48 dias AMANDA PEROBELLI / Reuters

Pouco mais de um mês depois de tomar posse, o Governo de Jair Bolsonaro sofreu a primeira baixa de um ministro. Gustavo Bebianno, um dos homens fortes da campanha eleitoral do Presidente brasileiro, foi demitido na segunda-feira à noite depois de vários dias em que foi notório que a sua permanência no Governo estava a prazo.

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Pouco mais de um mês depois de tomar posse, o Governo de Jair Bolsonaro sofreu a primeira baixa de um ministro. Gustavo Bebianno, um dos homens fortes da campanha eleitoral do Presidente brasileiro, foi demitido na segunda-feira à noite depois de vários dias em que foi notório que a sua permanência no Governo estava a prazo.

Num vídeo publicado nas redes sociais na segunda-feira, Bolsonaro agradeceu o trabalho de Bebianno na campanha e no Governo e tentou justificar a demissão, citando “questões mal entendidas”. “Comunico que, desde a semana passada, diferentes pontos de vista sobre questões relevantes trouxeram a necessidade de uma reavaliação”, afirmou Bolsonaro.

A demissão de Bebianno, ao fim de 48 dias, é a segunda mais rápida de um ministro em mais de uma década, segundo o site G1.

A pressão para que o ministro da secretaria geral fosse afastado surgiu depois de uma investigação do jornal Folha de São Paulo ter revelado um esquema de candidaturas de fachada promovidas pelo PSL em Minas Gerais e Pernambuco com o objectivo de arrecadar financiamento público. Bebianno era o presidente do partido durante as eleições de 2018 e é um dos responsáveis directos pelo desvio de verbas.

Na terça-feira da semana passada, o ministro da Secretaria Geral da Presidência negava qualquer problema com Bolsonaro e garantia estar firme no lugar. Mas um dos filhos do Presidente, Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro, respondeu, acusando Bebianno de estar a mentir por ter dito que tinha falado três vezes com o seu pai, que ainda estava internado.

Mais um general no Planalto

Para o lugar de Bebianno foi nomeado o general Floriano Peixoto, que era até agora o ministro adjunto, reforçando a presença dos militares no executivo. Entre os quatro ministérios sediados no Palácio do Planalto, onde fica a presidência, apenas um passa a estar sob tutela de um ministro civil, Onyx Lorenzoni, na Casa Civil. O Gabinete de Segurança Institucional é chefiado pelo general Augusto Heleno e a Secretaria do Governo pelo general Carlos Alberto Cruz. No total, Peixoto será o oitavo militar à frente de um ministério.

Horas antes da oficialização da demissão, o vice-presidente, Hamilto Mourão, também um general, garantira: “[A saída de Bebianno] de hoje não passa.”

A crise que envolve Bebianno é a mais grave do Governo de Bolsonaro, especialmente depois de uma campanha que girou em torno da corrupção na política brasileira, na sequência da megaoperação anticorrupção Lava-Jato. A vitória de Bolsonaro, um capitão do Exército reformado com uma carreira de 20 anos como deputado federal pouco relevante, foi encarada como uma reacção contra os partidos políticos tradicionais, que na sua generalidade viram vários dos seus principais dirigentes envolvidos em casos de corrupção.

A investigação da Folha de São Paulo mostrou que o PSL lançou várias candidatas a deputadas estaduais em Minas Gerais e Pernambuco apenas para cumprir a quota de género – a lei eleitoral obriga a que pelo menos 30% do financiamento eleitoral seja distribuído por candidatas mulheres​. Muitas das candidatas praticamente não fizeram campanha, limitando-se a canalizar dinheiro do fundo eleitoral para outros candidatos mais fortes. Num dos casos, uma candidata a deputada federal em Pernambuco recebeu 400 mil reais (95 mil euros) poucos dias antes das eleições, em que acabou por conseguir apenas 274 votos.

Há fortes suspeitas de que também o actual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, líder do PSL em Minas Gerais, transferiu verbas eleitorais para quatro candidatas fictícias com o mesmo objectivo.