Faltas por greves na saúde voltam a disparar em 2018
Paralisações totalizaram o equivalente a 181.238 dias de trabalho no sector público da Saúde no ano passado, pelo menos mais 60 mil dias do que o verificado no ano anterior.
As faltas ao trabalho no Serviço Nacional de Saúde (SNS) por motivo de greve voltaram a disparar em 2018, para mais de 180 mil dias de trabalho perdidos, depois de já em 2017 as ausências por motivo de greve terem subido mais de 70%.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As faltas ao trabalho no Serviço Nacional de Saúde (SNS) por motivo de greve voltaram a disparar em 2018, para mais de 180 mil dias de trabalho perdidos, depois de já em 2017 as ausências por motivo de greve terem subido mais de 70%.
As greves totalizaram o equivalente a 181.238 dias de trabalho no sector público da saúde no ano passado, pelo menos mais 60 mil dias do que o verificado no ano anterior, segundo dados do portal do SNS analisados pela agência Lusa e confirmados pela Administração Central do Sistema de Saúde.
As faltas por greve em 2018 mais do que duplicaram relativamente ao ano de 2016, que registou menos de 70 mil dias de trabalho perdidos por paralisações dos trabalhadores.
O total de mais de 180 mil dias de trabalho perdidos em 2018 conta com a primeira greve dos enfermeiros em blocos operatórios, que durou mais de um mês e decorreu entre 22 de Novembro e 31 de Dezembro. Mas mesmo antes desta paralisação, o SNS já tinha ultrapassado, em Outubro do ano passado, o total de dias de trabalho perdidos de todo o ano de 2017.
As ausências ao trabalho por todos os motivos, que não apenas as greves, subiram também em 2018, passando para o equivalente a mais de quatro milhões de dias perdidos. No topo destas ausências estão as faltas por doença, que voltaram a aumentar em 2018, para um total que está acima de 1,8 milhões de dias perdidos, pelo menos mais 100 mil dias do que o registado em 2017.
Profissionais preocupados
A Ordem dos Enfermeiros considera que o crescente absentismo no sector da saúde mostra que "os próprios serviços e contextos de trabalho estão doentes", desgastando física e psicologicamente os profissionais. "Os enfermeiros têm das maiores taxas de absentismo, que a nível nacional se situa nos 13%, mas há hospitais que chegam aos 15% de absentismo só nos enfermeiros", referiu a bastonária dos enfermeiros.
Para Ana Rita Cavaco, as actuais condições dos serviços e a forma como são geridos os profissionais têm contribuído para os constantes aumentos da taxa de absentismo pelo menos nos últimos três anos. A mesma revelou à agência Lusa que a Ordem encomendou um estudo à equipa da investigadora Raquel Varela com o objectivo de avaliar em que medida a forma de gestão dos recursos humanos e as condições de trabalho contribuem para a taxa de absentismo dos enfermeiros.
O bastonário dos Médicos a situação “extraordinariamente preocupante e tem a ver com o facto de as pessoas estarem insatisfeitas e desmotivadas". Miguel Guimarães enumerou as carreiras, remunerações e pressão no trabalho como alguns dos motivos que fazem com que os profissionais de saúde se sintam desmotivados.
O representante dos médicos lembrou também os muitos protestos no sector da saúde. "Toda a gente está neste momento numa fase de protesto. Há uma série de pessoas em cargo de direcção, que são nomeados pela tutela, que estão a apresentar a demissão em vários hospitais do país", disse, acrescentando que "o desinvestimento no SNS está a ser negativo" para os profissionais de saúde.
Também o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, Alexandre Lourenço, sublinha que as faltas ao trabalho na saúde em 2018 atingiram níveis "muito elevados", apresentam tendência de crescimento ao longo dos últimos anos e que isso deveria merecer atenção especial por parte do Ministério da Saúde e também dos hospitais.
"A ausência geral é preocupante, uma vez que retracta muitas vezes as próprias condições de trabalho e motivação dos profissionais", declarou à Lusa. Sobre as ausências dos trabalhadores do Serviço Nacional de Saúde por motivo de greve em 2018, o representante dos administradores hospitalares considera que reflectem um ano "extraordinariamente conflituoso".
Com base nestes dados, Alexandre Lourenço indica que o absentismo total pode equivaler a uma média diária de 16 mil trabalhadores em falta. Quanto às ausências por greve, correspondem a 725 colaborares em falta, em média, diariamente. Apesar do aumento do absentismo global, o responsável destaca que o Serviço Nacional de Saúde conseguiu em 2018 fazer mais consultas médicas e teve apenas um ligeiro decréscimo de cirurgias.