Ao actual ritmo, economia não cresceria mais que 1,6% em 2019

Segunda metade do ano mais lenta do que a primeira em 2018 faz com que, em 2019, as metas definidas pelo Governo no OE se tornem mais difíceis de alcançar.

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Para o ministro da Economia “é possível que uma parte da explicação esteja no comportamento das exportações” LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Se a economia portuguesa continuasse, durante este ano, a crescer ao mesmo ritmo registado nos últimos três meses do ano passado, a variação do PIB em 2019 seria de apenas 1,6%, um valor muito distante dos 2,2% previstos pelo Governo no Orçamento do Estado e que fica ainda abaixo das previsões mais pessimistas que foram sendo feitas mais recentemente por entidades como a Comissão Europeia, o FMI ou o Banco de Portugal.

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Se a economia portuguesa continuasse, durante este ano, a crescer ao mesmo ritmo registado nos últimos três meses do ano passado, a variação do PIB em 2019 seria de apenas 1,6%, um valor muito distante dos 2,2% previstos pelo Governo no Orçamento do Estado e que fica ainda abaixo das previsões mais pessimistas que foram sendo feitas mais recentemente por entidades como a Comissão Europeia, o FMI ou o Banco de Portugal.

No quarto trimestre de 2018, anunciou esta quinta-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE), a economia portuguesa cresceu 0,4% face ao trimestre imediatamente anterior, um resultado que até representa uma melhoria face aos 0,3% que se tinham registado no terceiro trimestre, mas que não evitou que, em termos homólogos, o PIB abrandasse de uma taxa de variação de 2,4% no segundo trimestre para 2,1% no terceiro e para 1,7% no quarto trimestre.

No total do ano de 2018, a economia registou um crescimento de 2,1%, um valor que fica abaixo dos 2,8% de 2017 e da última estimativa do Governo, feita em Outubro, de 2,3%.

Com estes resultados, confirmou-se aquilo que diversos indicadores económicos já faziam suspeitar. Apesar de continuar a crescer acima da média europeia, a economia portuguesa apresentou na segunda metade do ano um ritmo mais moderado do que na primeira metade. As taxas de variação trimestrais de 0,3% e de 0,4% na segunda metade do ano seguem-se a taxas de 0,4% e 0,6% na primeira metade do ano.

Um dos problemas que este ritmo mais lento pode ter é que passa a existir um efeito de base menos positivo para o crescimento da economia em 2019. Simulações feitas pelo PÚBLICO mostram que, se a variação do PIB continuasse a ser, nos quatro trimestres deste ano, de 0,4% (como aconteceu no final de 2018), a taxa de crescimento anual ficaria em 1,6%.

Na proposta de Orçamento do Estado, apresentada em Outubro de 2018, o Governo apontou para um crescimento em 2019 de 2,2%. Entretanto, perante os sinais de abrandamento tanto internos como externos, várias entidades foram revendo as suas próprias projecções. A revisão mais recente foi feita pela Comissão Europeia, que, ao mesmo tempo que baixou a projecção de crescimento da zona euro para 1,3%, passou a antecipar uma variação do PIB em Portugal de 1,7%. Esta é neste momento, a previsão mais pessimista que é feita para Portugal, mas implica ainda assim que a economia registe uma ligeira aceleração este ano face ao ritmo apresentado no último trimestre de 2018.

Para chegar aos 2,2% previstos pelo Governo, seria preciso que a economia voltasse a crescer, em média, a um ritmo próximo dos 0,6% conseguidos no segundo trimestre do ano.

Do lado do Governo, que apenas irá apresentar uma nova previsão de crescimento em Abril quando entregar o Programa de Estabilidade em Bruxelas, já foram dados sinais de que se prepara para rever em baixa as suas projecções de crescimento. Ainda assim, existe a expectativa que os números moderados de crescimento possam ter sido provocados por factores temporários.

Esta quinta-feira, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, numa primeira reacção aos números do PIB, considerou que “é possível que uma parte da explicação esteja no comportamento das exportações no final do ano, devido à greve dos estivadores no Porto de Setúbal que teve um impacto nos meses de Novembro e Dezembro” de 2018.

Na estimativa rápida apresentada esta quinta-feira, o INE não divulga ainda dados para as diversas componentes do PIB. No entanto, assinala que “a procura externa líquida apresentou um contributo para a variação homóloga do PIB mais negativo que o observado no trimestre anterior”. Em simultâneo, contudo, afirma que, em comparação com o terceiro trimestre, “o contributo da procura externa líquida para a variação em cadeia do PIB foi menos negativo”. Tendências diferentes para diferentes períodos de análise, mas que dificultam a retirada de conclusões sobre o que está a conduzir ao ritmo de crescimento mais lento do que no passado recente.

Acima da média europeia

Ainda assim, uma coisa é clara: a economia portuguesa está neste momento a ter de lidar com uma conjuntura internacional menos favorável do que anteriormente. Os dados publicados também esta quinta-feira pelo Eurostat mostram que, na zona euro, a tendência foi semelhante à portuguesa, com uma ligeira melhoria na variação do PIB em cadeia que não evitou contudo a manutenção da tendência de abrandamento quando a comparação é feita com o período homólogo do ano anterior.

A taxa de crescimento em cadeia na zona euro foi, no quarto trimestre do ano passado, de 0,3%, o que compara com os 0,2% do terceiro trimestre. Em termos homólogos, a economia passou de uma variação de 1,3% no terceiro trimestre para 1,2% nos últimos três meses do ano. No total de 2018, a economia da zona euro cresceu 1,8%, menos 0,6 pontos do que no ano anterior.

Estes números confirmam também que Portugal continua a crescer mais do que a média da zona euro, algo que acontece sobretudo porque a economia nacional supera o desempenho das três maiores economias da moeda única: Alemanha, França e Itália.

A maior economia da zona euro, a Alemanha, escapou por pouco a um cenário de recessão técnica (dois trimestres consecutivos de crescimento em cadeia negativos), a França manteve um crescimento em cadeia de 0,3% e a Itália, como já tinha sido antecipado pelas autoridades estatísticas do país, confirmou mesmo a entrada em recessão técnica, com o PIB a cair 0,2% no quarto trimestre.