Não é o fim do mundo, apenas o fim da festa
Num ano de eleições, vai ser preciso fazer mais pelas empresas e pelo investimento para regressar aos níveis de crescimento que nos levem para o pelotão da frente.
Não há grandes razões para se avaliar os dados do crescimento do produto do quarto trimestre de 2018 ontem divulgados pelo Eurostat e dizer que a economia portuguesa está a caminho da depressão. Mas há razões de sobra para se acreditar que o período de optimismo que vivemos nos últimos quatro anos faz irremediavelmente parte do passado. Depois de anos a fio a assistir a sucessivas revisões em alta das estimativas de crescimento, habituemo-nos a viver como nos anos duros da troika, quando tudo corria pior do que o esperado.
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Não há grandes razões para se avaliar os dados do crescimento do produto do quarto trimestre de 2018 ontem divulgados pelo Eurostat e dizer que a economia portuguesa está a caminho da depressão. Mas há razões de sobra para se acreditar que o período de optimismo que vivemos nos últimos quatro anos faz irremediavelmente parte do passado. Depois de anos a fio a assistir a sucessivas revisões em alta das estimativas de crescimento, habituemo-nos a viver como nos anos duros da troika, quando tudo corria pior do que o esperado.
Face a esta realidade, resta-nos recordar as lições do passado e admitir que a actual situação da economia europeia nos obriga à prudência em relação ao futuro. A vaga de greves em curso está longe de corresponder a essa leitura da realidade.
Mostrando não ter perdido a sua verve de analista político, o Presidente da República colou a imagem do copo meio cheio aos dados do Eurostat. Note-se a subtileza: não falou de um copo meio vazio. É verdade que, como notou o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, há circunstâncias que ajudam a explicar o modesto crescimento de 0,4% no quarto trimestre, como a vaga de greves no Porto de Setúbal. Mas sejamos realistas: querer ver neste desempenho uma consequência da conjuntura interna é errado. Portugal não é uma ilha e o crescimento do continente está a abrandar.
Num ano de eleições, vai ser preciso fazer mais pelas empresas e pelo investimento para regressar aos níveis de crescimento que nos levem para o pelotão da frente (a ideia de que o país cresce mais do que a União Europeia é uma falácia porque todas as economias com um estágio de desenvolvimento comparável crescem mais e a Espanha também); e vai ser obrigatório fazer uma gestão mais apertada das finanças públicas. O Governo já percebeu esses espartilhos e, em surdina, vai dando sinais de que percebeu também que, se a “geringonça” funcionou em tempos que permitem a distribuição de riqueza gerida pelo Estado, não sobrevive a tempos de rigor e exigência.
Com a previsão de crescimento inscrita no Orçamento de 2019 transformada numa miragem logo ao segundo mês da sua execução, tudo terá de ser diferente. Para evitar o fim do mundo e o regresso do diabo, tem de se moderar a ambição da festa. Era bom que os sindicatos da função pública fossem capazes de ajustar as suas exigências a essa dolorosa, mas incontornável, evidência.