Bruno de Carvalho: "Como católico acredito em Jesus, mas sou descrente de Jorge Jesus"

Em entrevista à TVI, Bruno de Carvalho recuperou alguns dos episódios que conta no livro que lançou nesta sexta-feira sobre os cinco anos e meio como presidente do Sporting.

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LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

Jorge Jesus foi um dos grandes visados por Bruno de Carvalho na entrevista que concedeu nesta sexta-feira à TVI no dia em que foi lançado o livro "Sem Filtro", em que conta vários episódios ocorridos durante os cinco anos e meio como presidente do Sporting. Bruno de Carvalho chegou mesmo a considerar que o grande erro da sua presidência foi não ter despedido Jorge Jesus a meio da época 2017-18.

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Jorge Jesus foi um dos grandes visados por Bruno de Carvalho na entrevista que concedeu nesta sexta-feira à TVI no dia em que foi lançado o livro "Sem Filtro", em que conta vários episódios ocorridos durante os cinco anos e meio como presidente do Sporting. Bruno de Carvalho chegou mesmo a considerar que o grande erro da sua presidência foi não ter despedido Jorge Jesus a meio da época 2017-18.

"Do que mais me arrependo? De não ter despedido Jorge Jesus em Janeiro. Fizemos o maior investimento de sempre no futebol, cerca de 100 milhões. A partir de Janeiro deixei de acreditar, mas não o despedi porque eram nove milhões", referiu o antigo líder "leonino", que se referiu várias vezes em tons pouco elogiosos ao treinador que contratou em 2015. "Como católico acredito em Jesus, mas sou descrente de Jorge Jesus", disse várias vezes Bruno de Carvalho, acrescentando ainda que foi Jorge Jesus quem mudou a hora do treino no dia em que aconteceu a invasão à Academia de Alcochete por o técnico acreditar que tinha sido despedido.

"[Na reunião após o jogo com o Marítimo] tive de dizer cinco vezes ao Jorge Jesus que não estava despedido. Eu podia ter ficado calado e só dizer depois do final da taça, e ele muda por causa disso. Teve de ser o Raul José a dizer-lhe uma sexta vez", revelou Bruno de Carvalho, falando ainda de um momento em que o treinador terá ameaçado com uma saída para o FC Porto antes de um jogo que podia dar um título ao Sporting: "Estávamos com possibilidades de ser campeões e 15 minutos antes, ele disse, 'Ou renovo ou segunda vou para o FC Porto'."

Bruno de Carvalho recordou vários episódios que já tinha contado antes, como o momento em que a relação com Luís Felipe Vieira começou a degradar-se, e falou do que considera a ingratidão de jogadores como William Carvalho em relação a si próprio: "Quando cheguei, ninguém sabia quem era o William. Vi-o a treinar e disse que o queria no plantel. Renovámos com ele e deu o jogador que deu. Tenho pena que ele se esqueça que podia estar a jogar no Cercle Brugge." Bruno de Carvalho afirmou ainda que foi Jorge Jesus que travou as transferências de Patrício, William e Adrien, quando os queria vender.

Reafirmando que não voltaria a fazer o post no Facebook que conduziria a uma reacção colectiva dos jogadores, Bruno de Carvalho comparou essas críticas com afirmações recentes do actual presidente do Sporting, Frederico Varandas. "Se eu olhar para o post e para a frase de Varandas, é mais relevante dizer antes do derby que o plantel não tem qualidade. Depois desse post, foram seis vitórias consecutivas e união entre treinador e jogador."

Foram quase duas horas de conversa em que Bruno de Carvalho falou de muitos assuntos que estão no livro, como o episódio em que José Maria Ricciardi se pôs de joelhos à sua frente, ou do momento difícil que atravessou durante a gravidez de risco da sua mulher Joana Ornelas e da sobrevivência da sua filha mais nova. Deixou também a entender que terá sido Frederico Varandas que divulgou uma fotografia em que o próprio Bruno de Carvalho estava a ser assistido por dores nas costas após um jogo com o Paços de Ferreira: "Não sei quem tirou essa foto, mas no enfiamento estava Varandas."

Bruno de Carvalho recordou ainda com detalhe como viveu o dia da invasão da Academia de Alcochete, que voltou a classificar como um "crime hediondo": "Estou em Alvalade por causa do Cashball, eu e o André Geraldes. Quem me disse foi o José Ribeiro [do departamento de comunicação], e eu não sabia o que queria dizer 'a academia foi invadida', não tinha noção. O Jorge Jesus disse para não ir, mas eu vou imediatamente para a academia sem noção do que estava a acontecer e ninguém me disse nada no caminho. Só quando entrei no balenário e vi a fumarada, e só tive noção depois da descrição de Jorge Jesus e de falar com os jogadores. E logo tive a noção de que os jogadores me culpavam."

O antigo presidente entrou depois pelos dias que se seguiram à invasão e que culminaram na derrota na final da Taça de Portugal frente ao Desportivo das Aves. "Adorei ler a entrevista do Pedro Martins [antigo treinador do Vitória de Guimarães] a dizer que o que aconteceu em Guimarães teve a mesma gravidade, e que retirou de imediato os telemóveis e fez os jogadores irem treinar no dia seguinte. Os do Sporting estavam a treinar na clínica do Dr. Varandas", referiu Bruno de Carvalho, dizendo que se auto-excluiu, tanto do jogo, como de ir ter com o plantel antes do jogo, apesar de ter recebido mensagens de Jesus para ir. "E o Jesus disse-me, 'Não esteja preocupado, também invadiram o Seixal e os jogadores culparam o Luís Filipe Vieira", acrescentou.

Também falou do aspecto desportivo, assumindo o mérito exclusivo nas contratações de Bruno Fernandes, Bas Dost, Slimani e Nani, referindo que Alan Ruiz foi uma exigência de Jesus. Bruno de Carvalho também falou da sua convicção de que o empresário Jorge Mendes estava a trabalhar contra o Sporting: "Fazia parte de um plano para puxar o Sporting para trás do Sp. Braga."

Bruno de Carvalho disse ainda que dificilmente voltará a ser candidato à presidência do Sporting - "não tenho saudades do futebol" - e pediu desculpa à família pelo tempo que o Sporting lhe tomou durante mais de cinco anos: "Pedi desculpa à família pelos cinco anos e meio, não tinha tempo com as minhas filhas e com os meus pais. Eles sabiam que eu estava feliz, mas também sabiam que não tinha vida própria."