“Se o Estado falhou, se o Exército falhou, eu falhei em Tancos”, diz o general Menezes
Dias depois do assalto, através do chefe da Casa Militar da Presidência, solicitou intervenção do Presidente. Tarde de mais: Marcelo já tinha falado com os chefes militares.
Numa breve intervenção lida com a qual iniciou nesta quinta-feira a sua audição pela comissão parlamentar de inquérito, o tenente-general Faria de Menezes foi peremptório. “Se o Estado falhou em Tancos, se o Exército falhou em Tancos, eu falhei em Tancos”, admitiu aos deputados.
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Numa breve intervenção lida com a qual iniciou nesta quinta-feira a sua audição pela comissão parlamentar de inquérito, o tenente-general Faria de Menezes foi peremptório. “Se o Estado falhou em Tancos, se o Exército falhou em Tancos, eu falhei em Tancos”, admitiu aos deputados.
O oficial estava à frente do Comando das Forças Terrestres do Exército cuja missão era garantir a inviolabilidade dos paióis e à qual eram remetidos os relatórios dando conta das falhas de segurança. “Nunca pensei que fosse possível”, respondeu à pergunta óbvia do que correu mal em Junho de 2017, abrindo a porta a conluio interno para o roubo do material de guerra.
Contudo, Faria de Menezes considerou adequado oito soldados por turno de 24 horas, mas já foi duro sobre 20 horas sem rondas no dia e noite do furto, segundo as averiguações. “Se não fizeram rondas, têm de ser punidos”, garantiu.
“Este assalto ocorreu com a geração que ia resolver o problema, o general chefe mais injustiçado é o general Rovisco Duarte, não há pessoas mas situações que ocorrem”, descreveu. Ou seja, a solução de Tancos já estava a caminho.
Na sua formulação de responsabilidades – Estado, Exército, ele próprio -, o primeiro vértice foi assim sintetizado: “os militares cumprem a missão, a política tem que alocar recursos, quando não há têm de se cortar missões”. E, a partir daí, o oficial abundou nas referências à gestão política desastrosa da crise.
Faria de Menezes passou à reserva por discordar da exoneração temporária, uma figura atípica, imposta aos coronéis que comandavam as unidades envolvidas em Tancos. Esteve em desacordo com o então chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), Rovisco Duarte. “Foi um atentado à família militar”.
E relatou as várias iniciativas por si tomadas para travar o que designou como “caminho do desastre”, que passou por uma audiência, em 4 de Junho de 2017, com o chefe da Casa Militar da Presidência, com a esperança de que o Presidente da República actuasse. Só que Marcelo já tinha recebido as chefias militares. "Os militares não têm culpas isoladas, o senhor da tutela tem também de assumir as suas", disse. Contas feitas, quer o ministro Azeredo Lopes quer o general Rovisco Duarte já saíram de cena.
O oficial relatou, com pormenor, o mau ambiente no Exército, ainda antes de Tancos, nomeadamente pela demissão do responsável do Colégio Militar e demissão do então CEME, general Serafino, criticou, implicitamente, o ex-ministro Azeredo Lopes, pela gestão do caso e confessou: “Eu não durmo desde Tancos!”