Biológica, fresca e gourmet: já conhece a BioFeira?
É uma loja três-em-um que abriu numa das principais artérias de Santa Maria da Feira. Mercearia, cafetaria e garrafeira, tudo no mesmo espaço. Os frescos e os produtos a granel são as estrelas da casa.
Encontramo-la por acaso, num inusual passeio a pé por uma das principais artérias de Santa Maria da Feira. O lettering elegante chamou-nos a atenção, assim como as três palavras que se alinham a seguir ao nome, que dizem logo ao que vêm: BioFeira – Biológico, Fresco e Gourmet. Entramos para matar a curiosidade.
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Encontramo-la por acaso, num inusual passeio a pé por uma das principais artérias de Santa Maria da Feira. O lettering elegante chamou-nos a atenção, assim como as três palavras que se alinham a seguir ao nome, que dizem logo ao que vêm: BioFeira – Biológico, Fresco e Gourmet. Entramos para matar a curiosidade.
Falta pouco para as 15h de uma quinta-feira e um grupo de mulheres ocupa uma das mesas da cafetaria. À direita de quem entra está a mercearia. Aqui vende-se de tudo: compotas, bolachas, conservas, cacau, cafés, azeites, licores, massas. Há também cosméticos (muitos dos quais com a indicação de que não foram testados em animais) mas o que mais chama a atenção é a quantidade de produtos que se vendem a granel, entre sementes, cereais, frutos secos, chás e condimentos. Há feijão, aveia, quinoa, linhaça, salsa, amêndoas, pistácios… “Temos uma grande variedade a granel e os clientes estão a aderir muito bem”, explica César Tavares, o proprietário, em conjunto com a mulher, Susana Santos, da BioFeira.
Também há frutas, legumes, hortaliças. Na tarde em que por lá passamos, alguns dos expositores dos frescos já estão meio despidos, mas ainda encontramos alho francês, bananas, batata-doce, gengibre. E ainda um expositor de Sementes Vivas que, há-de explicar César, um dia destes podem muito bem ir parar a um prato sob a forma de um germinado. Mas já lá vamos.
Por agora aceitamos o café biológico que Susana nos oferece e sentamo-nos a ouvir a história da BioFeira. É César quem a conta. Durante vários anos, ele e a mulher seguiram a via empresarial num ramo “completamente distinto” do actual. Venderam entretanto a empresa e compraram um terreno de um hectare e meio ao lado da casa onde vivem, em Souto, Santa Maria da Feira. “Nós já tínhamos uma horta orgânica e esse terreno veio aumentar a nossa capacidade produtiva. Mas começámos a fazer contas aos preços a que os produtos saem do produtor e assim surgiu a ideia de criarmos um ponto de venda.” Fizeram novamente contas à vida e perceberam que “uma mercearia ou uma frutaria biológica” poderia não ser rentável e foram acrescentando valências à loja. Chegaram, então, ao conceito de uma “mercearia - biológica, com frescos e produtos gourmet – com garrafeira e cafetaria”. Um três-em-um que, sublinha César, é inédito na cidade.
A cafetaria é “a chave do negócio”, reconhece o proprietário. “Traz tráfego e ajuda a promover os produtos – e até a reaproveitá-los. Por exemplo, se alguns produtos estão próximos do fim do seu prazo de validade, usamo-los para os pratos que confeccionamos”, explica César, ressaltando que tudo o que servem é feito ali, todos os dias. Entre sopas, saladas, quiches, empadas, tostas e bolos. Diariamente há um menu de almoço, por 5€, que inclui uma sopa, um prato ligeiro (tosta, quiche, salada) e uma bebida do dia, que pode ser um sumo ou uma tisana. No dia em que passamos pela BioFeira a ementa é esta: creme de couve-flor, quiche de vegetais e bolo sem glúten e sem lactose. Mas no capítulo das "lambarices" o grande best-seller da casa é, para já, o pão-de-ló de castanha, vendido a 2,50€ (individual) e a 16€ (tamanho familiar). Para lanches ou pequenos-almoços, a granola com iogurte grego e ameixas biológicas é só uma das propostas.
Quanto à garrafeira, César e Susana procuraram incluir rótulos que cubram "todas as regiões do país", mas com a preocupação de oferecer vinhos “de qualidade de produtores que estão mais fora do grande circuito da distribuição". Este foi, aliás, um princípio que norteou a escolha de quase todos os fornecedores da loja. "Há aqui coisas que não se encontram nos hipermercados e até na cidade", nota César, sublinhando ainda que, sempre que possível, a oferta da BioFeira reflecte a produção da região de Entre Douro e Vouga. "Temos aqui sal de Aveiro, conservas da Figueira da Foz… Sempre que pudermos, vamos valorizar a nossa região."
Em breve, a BioFeira terá ainda disponível um espaço onde vai promover workshops diversos – e onde haverá um moinho de mó de pedra que vai permitir aos clientes comprarem os seus cereais e moerem-nos ali, levando para casa farinha feita na hora. “O sabor dos bolos e pães fica completamente diferente”, garante César. Será também aí que estará instalado o germinador, que pretende aproveitar as sementes que estão à venda e com prazo de validade curto. “Poderemos germiná-las e depois servir os rebentos em saladas, para dar só um exemplo.” A curto prazo, a BioFeira pretende também confeccionar o seu próprio pão: para já, vende-o de várias proveniências, biológico e artesanal. E a variedade é imensa: de beterraba, de abóbora, de quinoa, de sementes, com ou sem glúten.
Só nos falta falar da decoração da BioFeira, que de certa forma conta parte da história dos proprietários. “Infelizmente, os meus pais já morreram e há muitas coisas que aqui estão que vieram de casa deles, e que pertenceram aos meus avós. Esta loja tem pedaços da minha vida”, diz César. Uma leiteira, uma panela, uma máquina de sulfatar e outra de escrever, um malho de cereais, um rádio, uma balança e um belo louceiro fazem parte da sua herança familiar. Já as cadeiras desirmanadas que se ajeitam à volta das mesas modernas de madeira clara vieram de casa dos pais de Susana. “E a bicicleta tipo pasteleira que está no centro da sala pertencia a um cunhado”, diz ainda César, o respigador.