Arrancou o orçamento participativo nas escolas. Em Faro alunos "foram políticos de corpo inteiro"
A edição de 2019 do Orçamento Participativo das Escolas contempla um milhão de euros. Alunos de Faro apresentaram propostas nesta quarta-feira. No final, o autarca perguntou: “Quem quer ser presidente de câmara?” O ministro replicou: “E quem quer ser ministro da Educação?"
O Ministério da Educação disponibiliza um 1 milhão de euros para incentivar os estudantes do 7.º ao 12º ano, a participar de uma forma mais activa na vida política e escolar. A iniciativa, denominada Orçamento Participativo das Escolas (OPE), arrancou nesta quarta-feira em Faro, na Escola Tomás Cabreira, com a apresentação de nove propostas, que reflectem os diferentes olhares dos alunos sobre o quotidiano. Mereceram atenção os pombos que deixam fezes em excesso nos bancos do recreio. Mas também a necessidade de haver tablets na biblioteca. Não faltam ideias. O dinheiro é que pode não chegar. Este estabelecimento de ensino recebe 1200 euros.
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O Ministério da Educação disponibiliza um 1 milhão de euros para incentivar os estudantes do 7.º ao 12º ano, a participar de uma forma mais activa na vida política e escolar. A iniciativa, denominada Orçamento Participativo das Escolas (OPE), arrancou nesta quarta-feira em Faro, na Escola Tomás Cabreira, com a apresentação de nove propostas, que reflectem os diferentes olhares dos alunos sobre o quotidiano. Mereceram atenção os pombos que deixam fezes em excesso nos bancos do recreio. Mas também a necessidade de haver tablets na biblioteca. Não faltam ideias. O dinheiro é que pode não chegar. Este estabelecimento de ensino recebe 1200 euros.
Cada escola tem direito, por via do OPE, a um euro extra por aluno, com o objectivo de pôr os estudantes a olharem para o mundo que os rodeia, de forma crítica. O valor mínimo que cada estabelecimento recebe para esse efeito, fora do orçamento ordinário, é de 500 euros. Com esse dinheiro, os estudantes têm de se organizar e apresentar propostas exequíveis, que não ultrapassem a dotação autorizada.
O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, coloca o OPE no patamar das disciplinas da cultura cívica e democrática. “É uma iniciativa para melhorar o conhecimento e literacia, relativamente aos processos de eleição, e aos processos de votação”, afirmou na apresentação da edição de 2019.
Maria Teresa Sustelo, do 12.º ano, sugere a criação de uma esplanada junto ao bar. O ministro, que fez de animador da sessão de apresentação das propostas, perguntou: “Tens algum slogan [para a campanha eleitoral]”? A aluna não revelou o jogo: “O segredo é alma do negócio."
Já Beatriz Fernandes propõe a aquisição de tablets para a biblioteca: “Nas horas de ponta não há lugar para todos os alunos." O ministro, perplexo, perguntou: “A biblioteca tem horas de ponta? Muitos parabéns, senhora directora [da escola]”, rematou
A escola Tomás Cabreira foi uma das unidades escolares que beneficiaram de uma profunda remodelação, no plano nacional de requalificação dos estabelecimentos de ensino, levado a cabo pela empresa Parque Escolar. “Os bebedores não funcionam, nas aulas de educação física, quando temos sede, temos de ir aos balneários, que ficam distantes”, reclamou Miguel Estudante, do 10.º ano, sugerindo que os 1200 euros devam ser gastos na renovação deste e de outros equipamentos, no exterior do edifício. Por seu lado, António Marreiros, outro aluno, propõe a aquisição de redes, que evitem a poluição causada pelos pombos: “Deixam fezes em excesso nos bancos do recreio."
"Quem quer ser ministro?"
Nesta sessão, as capacidades de oratória dos alunos foram postas à prova, num palco disputado a dois níveis. De um lado, os estudantes a mostrarem que tinham ideias e capacidade para as materializar. Do outro, o ministro e o presidente da câmara, Rogério Bacalhau, a fazerem de “olheiros". No final, o ministro observou: “Eles aqui, hoje, foram claramente políticos de corpo inteiro." O autarca, social-democrata, perguntou: “Quem quer ser presidente de câmara?” O ministro replicou: “E quem quer ser ministro da Educação?" Os desafios foram lançados, agora é esperar para ver.
A campanha eleitoral, depois da cerimónia oficial, prossegue agora pelos corredores das escola e nas redes sociais. O resultado da votação do melhor projecto será conhecido a 24 de Março, Dia do Estudante. Além da necessidade de estimular a participação democrática, o governante destacou ainda um outro aspecto desta iniciativa: "Trabalhar, também, as importantes medidas relativas à literacia financeira."
Em Faro, a proposta da criação de uma “rádio escola” na Tomás Cabreira e de reactivar um “clube de rádio” na escola Joaquim Magalhães, pertencentes ao mesmo agrupamento, foram dois outros projectos apresentados, tendo em vista a necessidade de melhorar a comunicação. Nesta quarta-feira, assinalou-se o Dia Mundial da Rádio. De resto, a “Rádio Miúdos” transmitiu a sessão em directo. Da equipa de reportagem fez parte uma radialista, de oito anos, de uma escola de Óbitos.
Tiago Brandão Rodrigues não escondeu o seu entusiasmo pela iniciativa, fazendo ele próprio de pivot das apresentações. Os estudantes dispuseram de apenas três minutos para mostrarem o que valiam as ideias seleccionadas para votação. Beatriz Mascarenhas defendeu o projecto da compra de três computadores portáteis, para uso na biblioteca e nas salas de aulas. Já tem slogan de campanha: “Querido, mudámos a escola."