Trump aproveita declaração do Senado para dizer que não há conluio com a Rússia
Senador do Partido Republicano salienta que ainda há testemunhas a ser ouvidas. Partido Democrata diz que não esperava encontrar "um contrato assinado a sangue com o Vlad".
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse esta quarta-feira que o Senado norte-americano "não encontrou nenhuma prova de conluio" entre a sua campanha eleitoral e a Rússia nas eleições de 2016. Mas o próprio Partido Republicano veio sublinhar que a investigação dos senadores ainda não chegou ao fim, e o Partido Democrata disse que nunca esperou ver "um contrato assinado a sangue com o Vlad".
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse esta quarta-feira que o Senado norte-americano "não encontrou nenhuma prova de conluio" entre a sua campanha eleitoral e a Rússia nas eleições de 2016. Mas o próprio Partido Republicano veio sublinhar que a investigação dos senadores ainda não chegou ao fim, e o Partido Democrata disse que nunca esperou ver "um contrato assinado a sangue com o Vlad".
Numa semana em que terá de decidir se aceita, ou não, um acordo com o Partido Democrata para evitar um novo encerramento de agências e departamentos públicos (que os seus apoiantes mais fervorosos dizem ser uma capitulação), o Presidente voltou a comentar as investigações sobre a Rússia, que diz serem uma "caça às bruxas".
"A Comissão de Serviços Secretos do Senado: NÃO HÁ PROVAS DE CONLUIO ENTRE A CAMPANHA DE TRUMP E A RÚSSIA!", escreveu Trump no Twitter. Pouco antes, partilhara uma mensagem do comentador conservador Dan Bongino, que chamou "imbecis" a quem "comprou o embuste do conluio com a Rússia, que foi agora completamente desmascarado".
Trump referia-se a uma das três principais investigações que foram abertas em 2017 sobre as suspeitas de que a sua campanha eleitoral colaborou com a Rússia para prejudicar a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton.
Para além da investigação criminal do Departamento de Justiça, liderada pelo procurador especial Robert Mueller, o Senado e a Câmara dos Representantes também se debruçaram sobre as suspeitas, em comissões onde o Partido Republicano estava em maioria.
Em Abril do ano passado, a maioria republicana na Comissão de Serviços Secretos da Câmara dos Representantes deu por concluída a sua investigação, contra a vontade dos congressistas do Partido Democrata. No relatório final, que não foi assinado pelos democratas, a comissão disse que não encontrou provas de conluio entre a campanha eleitoral de Trump e a Rússia, mas confirmou que Moscovo tinha interferido nas eleições.
Com a chegada do Partido Democrata à maioria na Câmara dos Representantes, desde Janeiro, estão a ser preparadas novas investigações sobre vários aspectos da vida de Donald Trump – da sua situação fiscal às suspeitas de conluio com a Rússia, e desta vez lideradas por uma maioria de congressistas do Partido Democrata.
Contactos suspeitos
Ao contrário do que aconteceu com a anterior maioria do Partido Republicano na Câmara dos Representantes, o Senado ainda não encerrou a sua investigação. Mas o líder da Comissão de Serviços Secretos, o republicano Richard Burr, tem dito nas últimas semanas que não foram encontradas "provas concretas" de conluio – uma posição que foi repetida nos últimos dias, e que foi aproveitada pelo Presidente norte-americano para dar a entender que já foi tomada uma decisão final.
Agora, o líder da comissão do Senado veio dizer que é preciso acrescentar contexto às suas declarações: "O Presidente tem usado uma citação minha, de há três semanas, quando eu disse que não temos nenhuma prova concreta. Tudo bem. Mas ainda há muita investigação para fazer", disse à CNN o republicano Richard Burr.
"Se fizermos um relatório com base nos factos que temos, não temos nada que sugira que houve conluio entre a campanha de Trump e a Rússia", reafirmou o senador, em entrevista à CBS.
Mas os membros da comissão ainda têm de entrevistar várias testemunhas, entre as quais Michael Cohen, o antigo advogado de Donald Trump que foi condenado a três anos de prisão por violação das leis de financiamento da campanha eleitoral e fraude fiscal e bancária. Depois disso, calcula-se que sejam precisos mais seis meses para que a comissão torne público o seu relatório final.
Na prática, o senador do Partido Republicano disse que a sua comissão não encontrou provas directas em dois anos de investigação, mas não excluiu a possibilidade de haver outro tipo de indícios – em última análise, disse Richard Burr, isso é algo que o povo americano terá de avaliar.
Em causa estão mais de 100 contactos confirmados entre elementos da campanha de Donald Trump e russos, que o Partido Democrata considera serem suficientes para que o grande público possa formar a convicção de que houve conluio.
"Nunca iríamos encontrar um contrato assinado a sangue, a dizer: 'Hey, Vlad, vamos lá juntar-nos", disse ao canal NBC um dos representantes do Partido Democrata, citado sob anonimato.
O senador Mark Warner, do Partido Democrata, concordou que não foram encontradas provas directas de conluio, mas quis sublinhar que não é só isso que está em causa: "Não quero falar sobre as minhas conclusões, mas nunca houve outra campanha na história da América com tantas ligações entre os seus membros e a Rússia."
Longe do fim
Tal como a comissão da Câmara dos Representantes, a comissão do Senado não tem poderes para fazer acusações criminais. E a grande questão por trás de tudo isto – a possibilidade de o Presidente Trump vir a ser destituído – também não passa pelos tribunais.
Ainda não são conhecidos os resultados da investigação mais importante, liderada pelo procurador especial Robert Mueller. No final, a sua equipa deverá entregar um relatório ao Departamento de Justiça, que pode incluir a sugestão de que o Congresso abra um processo de impeachment contra o Presidente – mas é o chefe do Departamento de Justiça, nomeado pelo Presidente Trump, quem decide se envia, ou não, o relatório para o Congresso.
Se isso acontecer, é preciso que uma maioria simples na Câmara dos Representantes (actualmente com 235-197 para o Partido Democrata) aprove a abertura do processo. E que depois o Senado (actualmente com 53-47 a favor do Partido Republicano) julgue o Presidente – para haver uma destituição efectiva, é preciso que dois terços dos senadores votem a favor.