Oito perfis de mulheres: das "tudo pela frente" às "resignadas"

O estudo As mulheres em Portugal, hoje: quem são, o que pensam e como se sentem, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, tipifica a mulher portuguesa em oito categorias.

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Christoph Hetzmannseder / Getty

O estudo As mulheres em Portugal, hoje: quem são, o que pensam e como se sentem, divulgado esta terça-feira pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, cujas conclusões serão extrapoláveis para os cerca de 2,7 milhões de mulheres portuguesas, entre os 18 e os 64 anos de idade e que são utilizadoras regulares da Internet (ficam de fora cerca de 19% das mulheres naquela faixa etária), dividiu as mulheres portuguesas em oito categorias.

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O estudo As mulheres em Portugal, hoje: quem são, o que pensam e como se sentem, divulgado esta terça-feira pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, cujas conclusões serão extrapoláveis para os cerca de 2,7 milhões de mulheres portuguesas, entre os 18 e os 64 anos de idade e que são utilizadoras regulares da Internet (ficam de fora cerca de 19% das mulheres naquela faixa etária), dividiu as mulheres portuguesas em oito categorias.

"Tudo pela frente"

  • Idade média: 23 anos
  • % da população feminina: 9%
  • Grau de felicidade com a vida (numa escala de 0 a 10): 6,8

Integra as mulheres mais jovens, que ainda terão de tomar as decisões-chave das suas vidas. Com idades entre os 18 e os 27 anos, estudam (dois terços) e continuam a morar em casa dos pais ou num apartamento de estudantes. Contam sair da casa paterna por volta dos 26 anos, sendo, pela ausência de filhos e de trabalho pago, aquelas que dispõem de mais tempo para si próprias. A grande maioria (79%) declarou que gostaria de ter filhos mais à frente. Idade ideal para os ter? 28. Quanto ao estilo de vida, é saudável e recomenda-se: 74% praticam alguma actividade física, 88% não fumam e 75% consomem bebidas alcoólicas, mas menos de uma vez por semana.

Um terço declara-se agnóstica ou ateia, o que as transforma no grupo mais avesso à religião. De segunda a sexta-feira, conseguem dormir uma média de 7 horas por dia. Constituem, apesar disto tudo, o grupo onde a proporção das que se declaram infelizes é mais elevada: 40%. Dito de outro modo, a felicidade com a vida é (numa escala de 0 a 10) de 6,8.

"Tu e eu podemos"

  • Idade média: 32 anos
  • % da população feminina: 16%
  • Grau de felicidade com a vida: 7,6

As mulheres que compõem este grupo, além de viverem tendencialmente com o companheiro, têm trabalho pago que lhes confere independência económica. Quase metade (46%) é licenciada e 17% possuem mestrado ou doutoramento. A maioria (71%) não formalizou a relação com o companheiro, exactamente a mesma percentagem das que declaram que tencionam ser mães.

Muitas (39%) vivem numa cidade diferente daquela em que vive a família, mas tal não parece levantar-lhes problemas. Até porque esta é uma das duas situações em que as mulheres têm menos dificuldades em fazer esticar o dinheiro até ao fim do mês, gastando, em média, e a cada mês, 79% dos rendimentos. Mais de metade das mulheres (55%) incluídas nesta categoria declaram-se felizes com a vida.

"Eu posso"

  • Idade média: 34 anos
  • % da população feminina: 12%
  • Grau de felicidade com a vida: 6,6

Estas mulheres costumam ter apenas a “frente” trabalho pago. Assemelham-se com as mulheres da categoria “Tu e eu podemos” no tocante à idade, ao nível de estudos, ao facto de não terem filhos e no tempo que costumam passar fora de casa. Porém, não têm companheiro/a, o que torna a respectiva situação económica menos robusta – não por ganharem menos mas porque o rendimento familiar é composto só por um ordenado.

Metade destas mulheres não ganha o suficiente para ter deixado a casa dos pais. E mais de metade (52%) garantem que continuariam a trabalhar, mesmo se não precisassem de dinheiro. É a categoria em que mais mulheres assumem que nunca quiseram ter filhos: 21%. E também aquela em que mais mulheres declaram que a vida que vivem está abaixo das suas expectativas (62%).

"Resignadas"

  • Idade média: 39 anos
  • % da população feminina: 11%
  • Grau de felicidade com a vida: 6,4

Têm a vida marcada pela frustração de não conseguirem um trabalho pago, apesar de muitas ainda terem tempo pela frente para remediá-la, já que neste grupo se misturam mulheres entre os 18 e os 64 anos de idade. As licenciadas são apenas 21% e 37% não têm sequer carta de condução.

Mais de metade (64%) estão desempregadas e procuram emprego, sendo que 17% dizem ter deixado de trabalhar para dar prioridade à vida familiar. Em 59% dos casos, vivem com alguém, ainda que a relação não esteja formalizada. E, em 22% destas situações de conjugalidade, a pessoa com quem vivem também está desempregada.

Quanto aos filhos, 53% têm-nos e 91% dizem-se satisfeitas com isso. Acresce que metade declara-se “fãs das tarefas domésticas”. Mas, apesar do grau de satisfação com os filhos e com a casa, este é um dos grupos onde mais mulheres se arrependem da relação de casal (13%) e também onde mais antidepressivos se consomem – 22% tomam-nos com frequência e 5% de uma a três vezes por mês. As situações de assédio no trabalho assumem a sua maior expressão entre estas mulheres, assim como a violência doméstica e de género. A felicidade média destas mulheres é a segunda mais baixa.

"Em luta"

  • Idade média 40 anos
  • % da população feminina: 13%
  • Grau de felicidade com a vida: 6,8

A grande maioria das mulheres deste grupo esfalfa-se para conseguir conciliar trabalho pago, filhos e a vida com o companheiro. O cansaço impera: 19% andam sempre cansadas e 68% quase sempre. E dispõem em média de apenas duas horas para si próprias e para os seus passatempos.

Mais de 60% têm entre 35 e 49 anos e as licenciadas são poucas (apenas 12%), porque metade deixou de estudar quando concluiu o básico. É aqui que se encontram mais mulheres com excesso de peso (das quais 25% se situam no extremo da obesidade) e é também neste grupo que mais se declaram como “reservadas” (32%), em termos da atitude perante a vida.

Quanto ao emprego, dois terços não ganham mais do que 680 euros líquidos por mês. Não surpreenderá assim que este seja o grupo em que mais mulheres declaram que, se não precisassem de dinheiro, não trabalhariam: 43%. Noção de emprego ideal: um com “bom salário” e “que permita conciliar com a vida familiar”. O facto de gastarem em média 93% do rendimento familiar mensal para cobrir as despesas pode ajudar a perceber o desencanto com a vida: 65% consideram que a vida está abaixo ou muito abaixo das expectativas.

"Tudo sob controlo"

  • Idade média: 41 anos
  • % da população feminina: 18%
  • Grau de felicidade com a vida: 7,8%

São as mulheres que conseguem conciliar o trabalho pago com os filhos, vivam ou não com um companheiro – 78% e 16%, respectivamente. Os 41 anos de idade média aproximam-nas das do grupo “em luta”, mas há uma diferença com óbvias repercussões nas diferentes dimensões da vida: 49% são licenciadas. 

Na prática, além de auferirem de salários elevados, este é o grupo em que mais mulheres conseguem a flexibilidade necessária à conciliação do trabalho com a vida familiar. De resto, entre a larga percentagem das que têm filhos, 56% não passaram do primeiro. E, mesmo assim, encontra-se aqui a maior percentagem daquelas que, por motivos pessoais, declararam ter recusado ofertas de trabalho mais exigentes ou ter posto um “travão” no trabalho pago: 37%.

Quase metade (48%) declara-se “segura” perante a vida. Isto apesar de o tempo que de que dispõem para dormir não chegar às sete horas. E de não terem mais de 2h24 minutos para si e para os seus passatempos.

Entre estas mulheres, 21% têm ajuda remunerada nas tarefas domésticas e não reportam grandes dificuldades em esticar o dinheiro até ao fim do mês: declaram que gastam, em média, 84% dos rendimentos familiares.

Medicam-se pouco (61% nunca tomaram antidepressivos e 51% nunca precisaram de medicamentos para a ansiedade ou distúrbios do sono) e quase dois terços consideram que se sentem felizes ou muito felizes com a vida.

"Realizadas"

  • Idade média: 55 anos
  • % da população feminina: 11%
  • Grau de felicidade com a vida: 8,5%

Tendo ultrapassado as primeiras fases da sua vida adulta, e com os filhos maiores de idade, estas mulheres declaram-se felizes ou muito felizes com a vida que construíram. É aqui que se encontram mais mulheres com rendimentos líquidos mais elevados, sendo que 10% são trabalhadoras independentes qualificadas e 14% proprietárias de um negócio ou empresa.

Apesar de apenas metade ter ainda algum filho a viver em casa, o ritmo continua acelerado agora por outros motivos: viajam por motivos de trabalho, 77% praticam desporto e 67% são grandes leitoras ou leitoras médias, conciliando tudo com um círculo de amigos que é dos mais amplos das diferentes categorias – têm 6,5 amigas ou amigos.

Mais de metade têm excesso de peso (58%) e 13% fumam. Não precisam de contar trocos, já que, em média, gastam apenas 81% dos rendimentos familiares, isto apesar de 23% pagarem pela ajuda nas tarefas domésticas.

Quanto ao companheiro, 81% declaram-se realizadas com a relação de casal. E o hábito de saírem juntos uma vez por semana para tomar uma bebida, almoçar ou jantar equipara-se à dos casais mais jovens: 20% fazem-no e 11% vão com a mesma periodicidade ao cinema, teatro ou a museus.

"Esgotadas"

  • Idade média: 57 anos
  • % da população feminina: 10%
  • Grau de felicidade com a vida: 5,9

Inclui mulheres muito marcadas pelo facto de não terem conseguido satisfazer as expectativas que tinham relativamente à vida. Deixaram a escola cedo (40% terminaram de estudar quando acabaram o básico), os filhos são maiores e mais de um terço (37%) são funcionárias públicas. É neste grupo que mais mulheres dizem que não trabalhariam, não fosse precisarem do dinheiro: 47%.

Dizem-se “conservadoras” e “reservadas”. E boa parte destas mulheres reparte os cuidados entre os netos e os pais “dependentes, física ou economicamente”.

Tendem a somar excesso de peso (57%) e, quanto à relação em casal, as que se sentem “enganadas” atingem os 42%. O papel de mães também as distingue dos restantes grupos: 9% assumem-se arrependidas de terem tido filhos. A sensação de que a vida ficou “abaixo ou muito abaixo das expectativas” aflige 67% destas mulheres.

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