A perigosa cegueira da direita espanhola
Entre as debilidades do Governo, o mais que evidente fracasso na aprovação do Orçamento e a necessidade de aplicar a lei aos independentistas sem que a democracia sucumba ao ódio nacionalista, a Espanha entra outra vez em convulsão.
A Espanha voltou a tremer no fim-de-semana com uma gigantesca manifestação que reuniu a direita moderada e os resquícios da Falange franquista. E promete continuar a tremer nos próximos dias com o início do julgamento dos líderes independentistas e com o mais que provável fracasso da aprovação do Orçamento. Se cada um destes capítulos é por si só um penoso caderno de encargos para qualquer governo (e para qualquer país), a sua combinação não augura nada de bom. Só um país vibrante e com uma democracia consolidada como a da Espanha aguentava o que a Espanha aguentou nos últimos dois anos, mas nada garante que essa façanha venha a perdurar. Porque nos interstícios da democracia, o vírus nacionalista veiculado pela direita ou pela intransigência independentista da Catalunha criou e está a alimentar um clima de intolerância que pode trazer graves danos para o país vizinho.
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A Espanha voltou a tremer no fim-de-semana com uma gigantesca manifestação que reuniu a direita moderada e os resquícios da Falange franquista. E promete continuar a tremer nos próximos dias com o início do julgamento dos líderes independentistas e com o mais que provável fracasso da aprovação do Orçamento. Se cada um destes capítulos é por si só um penoso caderno de encargos para qualquer governo (e para qualquer país), a sua combinação não augura nada de bom. Só um país vibrante e com uma democracia consolidada como a da Espanha aguentava o que a Espanha aguentou nos últimos dois anos, mas nada garante que essa façanha venha a perdurar. Porque nos interstícios da democracia, o vírus nacionalista veiculado pela direita ou pela intransigência independentista da Catalunha criou e está a alimentar um clima de intolerância que pode trazer graves danos para o país vizinho.
Observar o comportamento da multidão que este domingo se reuniu no centro de Madrid e, principalmente, avaliar o “manifesto” que o Cidadãos, o PP e os extremistas da Vox redigiram em conjunto contra o Governo de Pedro Sánchez é um bom prenúncio do que pode estar para vir. As acusações de “traição” ao presidente do Governo por ter alegadamente cedido às pressões independentistas mostram um perigoso caldo de cultura onde predominam o populismo, a irracionalidade, a mentira e o ódio. Sánchez recusou desde o primeiro momento associar a negociação do Orçamento à admissão de um direito de autodeterminação da Catalunha. Mas, ainda assim, a mentira fez o seu caminho e esta segunda-feira o PP dizia sem vergonha que o manifesto “tinha uma grande parte de verdade”.
Entre as debilidades do Governo, o mais que evidente fracasso na aprovação do Orçamento e a necessidade de aplicar a lei aos independentistas sem que a democracia sucumba ao ódio nacionalista, a Espanha entra outra vez em convulsão. Só a clarificação de uma nova eleição pode dissipar o tenebroso espírito de um tempo em que partidos democráticos como o PP e o Cidadãos se unem à extrema-direita para desgastar os socialistas. Só o voto pode desfazer essa coligação negativa entre o independentismo anacrónico e populista e a velha direita bafienta. A vitalidade democrática da Espanha ainda tem força para olhar em frente. A bem da felicidade da Península, será bom que o diálogo impere e as forças democráticas se aliem para derrubar esse monstro bicéfalo que reúne sob o mesmo corpo o nacionalismo catalão e o nacionalismo castelhano que enverga as roupas do Vox.