Calçado português renova imagem com aposta em inovação
Calçado investiu 31,1 milhões de euros para se preparar para um novo ciclo. A maior fatia foi para o fabrico inteligente, como se vê por estes dias na feira de Milão.
Noventa empresas portuguesas estão em Milão, na maior feira mundial do calçado, que termina quinta-feira, como uma amostra viva do que tem para oferecer um sector que se prepara para iniciar um novo ciclo.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Noventa empresas portuguesas estão em Milão, na maior feira mundial do calçado, que termina quinta-feira, como uma amostra viva do que tem para oferecer um sector que se prepara para iniciar um novo ciclo.
O líder dos industriais portugueses, Luís Onofre, será o próximo presidente da confederação europeia e abriu a participação portuguesa na MICAM com um alerta aos pares, para que sejam "mais resilientes" em 2019, um ano que antevê rodeado de uma conjuntura mais difícil.
Mas a avaliar pelos investimentos mais recentes feitos pelos empresários há razões para crer que o sector português está a preparar-se para a grande mudança. Foi isso que Portugal mostrou em Milão, com empresas como a Procalçado - Produtora de Componentes para Calçado, e é isso que sugerem exemplos de outras empresas como a AMF Shoes ou a Zouri, que não participam nesta feira, porque não estão ligadas ao calçado de moda.
Nos últimos dois anos, as empresas nacionais meteram 20,2 milhões de euros em projectos de fabrico inteligente, representando 65% dos 31,1 milhões de euros de investimento canalizado até agora para o programa FOOTure 4.0, que se destina a adaptar um dos sectores tradicionais da economia portuguesa às novas tendências de consumidores e exigências da conjuntura mundial.
Apresentado em Março de 2017, numa altura em que o sector português ainda vivia na euforia de oito anos consecutivos de crescimento das exportações em volume e receitas, o FOOTure 4.0 previa uma dotação inicial de 50 milhões de euros até 2020. Dois anos volvidos, já executou mais de metade desse orçamento inicial, com maior preponderância para investimentos em sistemas de produção flexível, programação de corte automático, sistemas CAD/CAM, prototipagem digital, impressão 3D e scanner 3D.
Tal resultado mostra que o sector não adormeceu à sombra dos bons resultados do passado, ainda que os resultados das exportações em 2018 tenham vindo refrear um pouco os ânimos. O ministro Pedro Siza Vieira, que visitou diversos membros da comitiva portuguesa na MICAM, fez eco das razões que a APICCAPS tem invocado para explicar por que houve um ligeiro decréscimo no volume de vendas ao exterior, apesar de se terem exportado mais pares de sapatos nesse ano. No essencial, como o PÚBLICO explicou em Dezembro, isto resulta de uma mudança nas preferências dos consumidores, que procuram calçado em materiais sintéticos, o que levou a indústria portuguesa a responder com mais vendas destes artigos, cujo preço é mais baixo do que os artigos em pele, nos quais o sector luso é tradicionalmente forte.
O ministro recomenda ao sector um reforço na promoção externa e na conquista de novos mercados, mostrando-se confiante na capacidade de resposta dos empresários. Mas estes, que regressaram aos EUA este mês, para explorar um dos mercados externos que elegeram como estratégico, precisam também de melhorar as margens, já que o preço médio na exportação caiu, numa altura em que Portugal só ficava atrás da Itália no segmento de luxo. Por outro lado, destinos importantes da produção nacional (França, Alemanha, Angola, Reino Unido e Holanda) registaram quebras em 2018, segundo os dados do INE, e nem o forte crescimento da China (aumento superior a 70% nas vendas) minimiza a pressão sobre um sector que mede forças com colossos como Itália e Espanha.
A avaliar pelo que se tem visto na comitiva portuguesa na MICAM, que encerra na quinta-feira, a promoção externa continua a ser um objectivo estratégico. E o mesmo se conclui pelos dados de investimento revelados pela APICCAPS, que reservou 16 milhões de euros para esta tarefa em 2019.
A maior fatia (36%) dos projectos candidatados a fundos europeus (Portugal 2020), entre 2015 e 2018, foi canalizada para presenças em feiras e exposições no exterior (41,7 milhões). Seguiu-se o investimento em máquinas e equipamentos (13% do total, 15,5 milhões) e as acções de promoção e marketing internacional (13%, 15,2 milhões).
Nesses três anos, 278 empresas viram projectos aprovados, uma amostra que representa cerca de 50% da produção nacional e que é responsável por 13.630 postos de trabalho em Portugal.
Quanto ao programa FOOTure 4.0, a inovação da experiência com o cliente absorveu 4,6 milhões de euros (15% dos 31,1 milhões executados até Dezembro). Isto significa que há mais empresas apetrechadas com programas CRM, que permite melhorar a gestão de clientes, uma aposta de crescente relevância face à cada vez maior digitalização do comércio e da produção. Por outro lado, há mais marcas com canais de venda online e plataformas de comércio electrónico do que havia antes deste programa, o que abre novos canais de venda num mercado altamente competitivo e globalizado.
Em nome da comitiva portuguesa, Luís Onofre revelou aliás na MICAM que sugeriu à organização milanesa a criação de uma plataforma online para permitir o contacto com empresas presentes, durante a realização da feira. Uma medida que potenciaria o contacto entre clientes, retalho e produtores, explicou o líder da APICCAPS.
O PÚBLICO viajou a convite da APICCAPS