Programa de apoio a carenciados já pôs comida na mesa de 80 mil pessoas
Quem recebe o cabaz alimentar está satisfeito. Mas vêm aí tostas e cavala para mais variedade. Inquérito aos beneficiários é apresentado hoje. Programa que devia chegar a 60 mil pessoas já pôs comida na mesa de 80 mil.
Havia receios e algumas dúvidas, mas os resultados são animadores. Após mais de um ano de implementação do Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas, que se traduz na distribuição mensal de cabazes alimentares, foi possível levar comida a cerca de 80 mil pessoas carenciadas, quando o objectivo inicial era chegar a 60 mil. Há afinações a fazer, mas um questionário aos beneficiários deste apoio, que substituiu as cantinas sociais, indica que quase 74% dos inquiridos consideram que este programa é melhor do que outros de que usufruíram no passado. O próximo passo é fazer crescer a variedade.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Havia receios e algumas dúvidas, mas os resultados são animadores. Após mais de um ano de implementação do Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas, que se traduz na distribuição mensal de cabazes alimentares, foi possível levar comida a cerca de 80 mil pessoas carenciadas, quando o objectivo inicial era chegar a 60 mil. Há afinações a fazer, mas um questionário aos beneficiários deste apoio, que substituiu as cantinas sociais, indica que quase 74% dos inquiridos consideram que este programa é melhor do que outros de que usufruíram no passado. O próximo passo é fazer crescer a variedade.
À pergunta “O que gostariam de receber mais e o que gostariam de receber menos?”, houve várias pessoas que disseram querer “açúcar”, mas essa resposta dificilmente será valorizada num cabaz desenhado pela Direcção-Geral de Saúde e que pretende garantir 50% das necessidades energéticas e nutricionais mensais de um indivíduo, ironiza o director-geral do Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS), José Luís Albuquerque. “Não sei se a DGS vai recomendar que se inclua açúcar no cabaz, mas as pessoas pedem”, diz, acrescentando: “Ainda bem que a dieta estabelecida foi com uma perspectiva que nenhum programa alimentar tinha tido.”
O açúcar poderá não estar lá, mas o novo cabaz que será desenhado para esta segunda fase do programa criado no âmbito do Fundo Europeu de Auxílio às Pessoas Mais Carenciadas (FEAC), vai incluir mais variedade.
Aos cereais que já constavam do menu, destinados sobretudo ao pequeno-almoço, serão acrescentadas tostas ou bolachas Maria, que também estavam na lista dos pedidos dos inquiridos. E aos vegetais congelados que estavam na ementa (e que estão entre os alimentos que as famílias dizem ter mais dificuldade em consumir), vai ser dada uma maior variedade. No final, os 18 produtos que actualmente compõem o cabaz vão subir para 22. Outros aspectos, como a distribuição, poderão também vir a sofrer alguns ajustes, decorrentes do resultado deste questionário que abrangeu mais de 90% das 25 mil pessoas que, até Junho de 2018, estavam a beneficiar deste apoio.
O FEAC foi aprovado em 2013 e destinou a Portugal 70 milhões de euros para o programa dos cabazes alimentares, que só começou a funcionar por cá em Novembro de 2017. O território foi dividido por 135 entidades coordenadoras que recepcionam os alimentos, distribuídos depois por cerca de 600 entidades mediadoras, responsáveis pela entrega dos cabazes aos beneficiários. Até hoje, diz a secretária de Estado da Segurança Social, Cláudia Joaquim, “já foram distribuídas mais de 13.500 toneladas de alimentos”.
A forma como esses bens chegam às famílias foi uma das questões avaliadas no questionário. Entre Janeiro e Junho de 2018 (o período avaliado), 83,6% dos inquiridos foram recolher os cabazes às entidades mediadoras e, destes, 41,4% disseram ter sentido “dificuldade” no transporte. O “peso do cabaz” foi a razão apontada por 56,1% destas pessoas. José Luís Albuquerque diz que não é difícil adivinhar o porquê destas dificuldades. “Quase 95% das pessoas dizem que só recebem estes alimentos uma vez por mês. Se eu for às compras uma vez por mês, venho carregado para casa. Não sei se isto tem a ver com a estratégia da entidade mediadora ou da família, ainda não exploramos esse dado, mas iremos fazê-lo no futuro."
O facto de 30,9% das pessoas referirem que têm dificuldade em conservar os alimentos recebidos, sobretudo os congelados (95,2%), também se pode prender com este factor, admite o director-geral do GEP. “Se vou buscar tudo uma vez por mês, é normal que tenha dificuldade em acondicionar tudo. Acreditamos que estas questões estão associadas”, diz.
Cada cabaz mensal é composto de cerca de 24 quilos de géneros alimentares incluindo leite, queijo, arroz, feijão, frango e pescada congelada, tomate pelado, atum e sardinha em lata, brócolos e espinafres congelados ou marmelada. A intenção é que os bens durem para 15 dias e no caso de 33,6% dos inquiridos, é precisamente esse o tempo apresentado. Mas há também 18,6% de beneficiários que dizem que os produtos que lhes chegam por esta via duram para 30 dias. O que é que isto significa? Podem ser várias coisas, diz o director-geral do GEP: “Pode ser porque a pessoa não toma duas refeições com as calorias necessárias, porque não precisa de comer tanto ou porque tem outros bens. Isto é um cabaz médio.”
Segundo o perfil do beneficiário traçado pelo GEP, 28% deles são adultos isolados – não necessariamente idosos, referem José Luís Albuquerque e Cláudia Joaquim. Seguem-se os casais com filhos (22%), casais sem filhos (19%), famílias monoparentais (15%). Outros agregados familiares, constituídos por três ou mais adultos, com ou sem crianças, representam 16% dos indivíduos que recebem estes cabazes.
O facto de, mensalmente, lhes entrar em casa metade dos bens alimentares de que precisariam para uma boa alimentação permitiu-lhes melhorar as suas vidas noutras áreas, diminuindo os níveis de privação que muitos sentiam. À pergunta “Que despesas conseguem colmatar com a poupança que o apoio alimentar permite?”, 72,1% disseram conseguir fazer o pagamento atempado das despesas da casa (água, electricidade, gás, condomínio), enquanto mais de metade, 53,2% explicam que assim conseguem dar resposta atempada ao pagamento da renda ou da prestação de crédito relativa à habitação principal. Só 1,2% admitiram conseguir pagar agora uma semana de férias, mas esse não era um objectivo essencial do programa, diz José Luís Albuquerque.