Bastonário dos médicos: “Não há vontade de resolver os problemas das pessoas que trabalhem no SNS”
Miguel Guimarães celebra dois anos à frente da Ordem. O médico afirma que tem sido o contributo dos profissionais a atenuar as dificuldades com o Serviço Nacional de Saúde se debate.
A criação de tempos padrão para as consultas e a defesa da relação médico-doente são duas das grandes bandeiras do mandato de Miguel Guimarães como bastonário dos médicos. No momento em que assinala dois anos à frente da Ordem, afirma que tem sido o contributo dos profissionais a atenuar as dificuldades com que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) se debate. E lamenta não ver nos políticos vontade para resolver os problemas dos profissionais.
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A criação de tempos padrão para as consultas e a defesa da relação médico-doente são duas das grandes bandeiras do mandato de Miguel Guimarães como bastonário dos médicos. No momento em que assinala dois anos à frente da Ordem, afirma que tem sido o contributo dos profissionais a atenuar as dificuldades com que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) se debate. E lamenta não ver nos políticos vontade para resolver os problemas dos profissionais.
“Os profissionais de saúde deram um contributo muito importante para a capacidade de resposta do SNS, que está com graves deficiências. A evolução da medicina e o facto de os médicos conseguirem hoje fazer as coisas de forma mais rápida, mais eficaz, com melhores resultados e menos complicações tem permitido dar um certo equilíbrio à capacidade de resposta do SNS”, diz o bastonário. Ainda assim, ao SNS “está mais ou menos paralisado”.
“Desde que sou bastonário que não há um investimento a sério no SNS. Não adianta o primeiro-ministro dizer que se contrataram mais meia dúzia de médicos. Sabemos que temos mais médicos em formação no SNS do que tínhamos há dois anos. Cada vez que entram 2400 médicos na formação geral, o Ministério da Saúde anuncia que contrataram mais 2400 médicos. Mas estes não são aqueles que podem ter a responsabilidade global de um serviço de urgência ou bloco operatório, apesar de trabalharem muito. Neste momento se não tivéssemos no SNS os internos, o SNS ruía como um castelo de cartas.”
Ainda sem certeza sobre a recandidatura — “vou ter de avaliar uma série de factores, se vale ou não a pena exercer o cargo de bastonário, que é muito complexo” —, olha para a actualidade: “Acho que não há vontade de quem está na política de resolver os problema das pessoas que trabalham no SNS, nem há vontade de resolver a capacidade de resposta que o SNS pode dar aos cidadãos. Há vários exemplos e um dos mais recente é a Lei de Bases da Saúde. Parece que é a salvação do SNS.”
E prossegue: “Não há nada, com a actual Lei de Bases, que impeça o Governo de apostar fortemente no SNS e dar aos cidadãos aquilo que querem, de regularizar as profissões na área da saúde. Numa altura em que o SNS tem uma deficiência grave de investimento, de capital humano, de estruturas e equipamentos — que o ministério tem assumido que existe —, estarmos a centrar todas as atenções na Lei de Bases como se fosse a salvação nacional não é certo.”