Human Rights Watch pede investigação a repressão de protestos no Sudão

Organização divulga vídeo com imagens da repressão: manifestantes espancados, atingidos a tiro, atropelados por veículos que saem da rota. Até hospitais foram atacados com gás lacrimogéneo, que atingiu doentes, médicos e enfermeiros.

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Desde Dezembro que manifestantes pedem a saída de Omar al-Bashir do poder Reuters

O Sudão está a reprimir com violência protestos que começaram em 19 de Dezembro e têm levado multidões para as ruas de várias cidades contra Omar al-Bashir, no poder há 29 anos e acusado pelo Tribunal Penal Internacional por atrocidades no Darfur.

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O Sudão está a reprimir com violência protestos que começaram em 19 de Dezembro e têm levado multidões para as ruas de várias cidades contra Omar al-Bashir, no poder há 29 anos e acusado pelo Tribunal Penal Internacional por atrocidades no Darfur.

A Human Rights Watch (HRW) divulgou um vídeo, do qual verificou a autenticidade, com imagens da repressão. A HRW sublinha a “total impunidade” com que operam as forças do Governo, disparando contra manifestantes desarmados, batendo indiscriminadamente com bastões a detidos em carrinhas, e provocando o pânico em hospitais, entrando e enchendo salas de emergência com gás lacrimogéneo.

A organização não-governamental Amnistia Internacional acusa as forças de segurança de uma "ofensiva mortífera" e aponta para mais de 40 mortos, enquanto activistas sudaneses estimam que tenham já morrido mais de 50 pessoas, a maioria atingidas a tiro, incluindo Babiker Abdul Hamid, médico de 25 anos, atingido a 17 de Janeiro quanto tentava tratar feridos. 

O grupo Médicos pelos Direitos Humanos disse que sete hospitais foram directamente atacados.

Médicos têm organizado alguns protestos e o site norte-americano de informação Bloomberg descreve como uma associação chamada Associação de Profissionais do Sudão (APS) está a tornar-se uma força de oposição e ameaça ao regime. Formou-se em 2012 e inclui médicos, professores, engenheiros, advogados e jornalistas, sempre na clandestinidade.

Antes destes protestos, a APS fomentou discussões sobre as condições económicas do país, que atravessa uma crise que atingiu tanto a classe média como a baixa, a moeda desvalorizou, os bancos estão a ficar sem dinheiro e a inflação chegou aos 70%.

Nas redes sociais, a APS dá notícias sobre mortos e feridos nas manifestações e apela abertamente à queda do regime de Bashir.

A Human Rigths Watch diz ainda que as forças do Governo detiveram centenas, eventualmente milhares, de manifestantes e críticos do regime, tanto na rua como nas suas casas e locais de trabalho.

"Provas irrefutáveis"

Apesar de uma ordem para os detidos serem libertados, as forças continuam a deter mais pessoas todos os dias. Apenas 186 foram mesmo libertados, nota a organização de defesa de direitos humanos. Muitos mostravam sinais de tortura.

“Há provas irrefutáveis de que o Sudão está a usar força implacável e brutalidade contra manifestantes pacíficos e críticos do Governo”, disse Jehanne Henry, da Human Rights Watch. “Estas tácticas violentas têm de acabar imediatamente e os responsáveis têm de ser responsabilizados”, disse Henry num comunicado.

“A cada dia que passa a situação é pior e é altura do Conselho de Direitos Humanos enviar investigadores para o país”, pediu a responsável da HRW.