Manifestação contra o Governo traz extrema-direita espanhola para a ribalta

Pela mão do PP, o líder do Vox assumiu protagonismo do protesto contra Sánchez e disse que o “golpe” na Catalunha deve ser “sufocado”. Chefe do Governo fala em "deslealdade".

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Santiago Abascal, líder do Vox, exigiu a suspensão da autonomia da Catalunha EPA/FERNANDO ALVARADO

Unidos pela exigência de eleições antecipadas, a direita e a extrema-direita espanholas saíram à rua este domingo, na primeira demonstração pública da nova configuração política da oposição ao Governo socialista, cada vez mais pressionado. A próxima semana será decisiva e poderá precipitar a queda do Executivo e a marcação de novas eleições, nas quais a extrema-direita terá uma palavra a dizer.

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Unidos pela exigência de eleições antecipadas, a direita e a extrema-direita espanholas saíram à rua este domingo, na primeira demonstração pública da nova configuração política da oposição ao Governo socialista, cada vez mais pressionado. A próxima semana será decisiva e poderá precipitar a queda do Executivo e a marcação de novas eleições, nas quais a extrema-direita terá uma palavra a dizer.

Por volta do meio-dia, a Praça Colón foi inundada pelo vermelho e amarelo da bandeira espanhola, que grande parte dos manifestantes levou consigo – também havia cartazes com frases como “golpistas para a prisão”, referindo-se às autoridades independentistas catalãs. O Governo refere que participaram 45 mil pessoas na manifestação, mas os partidos organizadores – Partido Popular (PP) e Cidadãos – apontam para 200 mil.

O lema do protesto era “Por uma Espanha unida, eleições já” e foi convocado depois de o Governo socialista de Pedro Sánchez ter aceitado a nomeação de um relator para as negociações com o governo catalão. Esta era uma das principais reivindicações dos independentistas, que pretendem enquadrar as conversações com o Governo central como uma questão diplomática, justificando, desta forma, a existência de um mediador independente.

A cedência do Governo do PSOE deu a oportunidade para que a oposição reforçasse a pressão, pedindo eleições legislativas antecipadas. A manifestação deste domingo ficou marcada por um forte discurso anti-independentismo em simultâneo com uma rejeição aos socialistas. Marta Fernández, funcionária de um escritório de advogados de 24 anos, disse ao El País que se está a pôr em perigo a unidade de Espanha. “Sánchez não pode pagar a hipoteca da Moncloa [sede do Governo] com a unidade de Espanha”, afirmou.

No manifesto que foi lido por três jornalistas, o Governo é acusado de ter aceitado todas as exigências “do secessionismo”, o que não é verdade. Sánchez não aceitou, por exemplo, a marcação de um novo referendo sobre a autodeterminação da Catalunha, o que levou ao rompimento das negociações por parte dos partidos independentistas. O tom adoptado pelos líderes políticos pautou-se por um endurecimento das críticas ao Governo.

“O tempo de Pedro Sánchez acabou”, declarou o líder do PP, Pablo Casado, dirigindo-se aos manifestantes. “Chega de chantagens, hoje é um ponto de inflexão. Hoje começa a reconquista dos espanhóis que disseram basta”, acrescentou.

O líder do Cidadãos, Albert Rivera, disse que “vai haver um antes e um depois desta manifestação” e proclamou o “final de uma legislatura esgotada”. Ao seu lado esteve o candidato do partido à câmara municipal de Barcelona, o ex-primeiro-ministro francês Manuel Valls, que não discursou.

As três direitas

Porém, a grande expectativa centrava-se em Santiago Abascal, o líder do Vox, o partido de extrema-direita que tem crescido de popularidade e que nas eleições regionais na Andaluzia, as primeiras que disputou, conseguiu tornar-se numa peça chave nas negociações para a formação de um governo. Foi de Abascal o discurso mais duro, que exigiu abertamente a suspensão da autonomia da Catalunha “para restaurar a ordem constitucional e o Estado de direito”, chamando “golpe” ao processo independentista. “O golpe deve ser sufocado para deter os golpistas e os conspiradores”, afirmou Abascal, pedindo ainda a detenção do presidente da Generalitat, Quim Torra.

Enquanto o líder da extrema-direita falava​, os manifestantes lançavam gritos de “Espanha, Espanha” e de “Santiago presidente”, descreve o El País. À manifestação na Colón foram também elementos de pequenos grupos franquistas, como a Falange e a Espanha 2000.

O protesto marcou o primeiro acto público em que os dois partidos conservadores estabelecidos, o PP e o Cidadãos, se apresentaram ao lado do Vox numa frente unida contra o Governo do PSOE. A subida da extrema-direita ao patamar dos partidos mainstream do centro-direita ficou selada de forma simbólica na fotografia em que aparecem os três líderes.

As sondagens mais recentes mostram que os três partidos teriam apoio parlamentar suficiente para formar um Governo num cenário de eleições antecipadas. Depois de ter fechado um acordo em que garantiu o apoio do Vox na Andaluzia, Casado não afastou a hipótese de repetir a fórmula. No Cidadãos a relutância é maior, especialmente por parte de Valls, muito crítico da aproximação à extrema-direita, e que fez questão de “escapar” à fotografia com Abascal.

Sánchez, que esteve em Santander neste domingo, ​criticou a estratégia de “divisão” operada pelas “três direitas”, que acusou de deslealdade. “Quando estão no Governo exigem lealdade e quando estão na oposição lideram a crispação, e a isso chamam patriotismo. Mas não, isso é deslealdade”, afirmou.

O chefe de Governo assegurou que as negociações com a Catalunha respeitam a Constituição e que o seu objectivo é “negociar uma crise de Estado que o PP contribuiu para agravar”.

Os próximos dias são determinantes para o futuro do Governo de Sánchez. Depois do rompimento das conversações com os partidos independentistas – a Esquerda Republicana (ERC) e o Partido Democrata Europeu Catalão (PDeCAT) – o cenário de chumbo do Orçamento de Estado na quarta-feira ganhou força. O PSOE lidera um Governo com apoio minoritário no Parlamento e depende dos dois partidos catalães. Caso o Orçamento seja chumbado serão convocadas eleições antecipadas.