Inteligência artificial joga Pictionary para aprender a ter senso comum

O objectivo é pôr máquinas a perceber como diferentes humanos representam o mundo. O jogo foi desenvolvido no laboratório de informática criado pelo co-fundador da Microsoft, Paul Allen.

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Uma equipa de investigadores nos Estados Unidos está utilizar um jogo inspirado no Pictionary para ensinar sistemas de inteligência artificial a ter senso comum.

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Uma equipa de investigadores nos Estados Unidos está utilizar um jogo inspirado no Pictionary para ensinar sistemas de inteligência artificial a ter senso comum.

Chama-se Iconary, e está disponível online desde o começo do mês: os jogadores têm de ilustrar cenários complexos do mundo real através de ícones (por exemplo, “cheirar a fruta”, “mulher a comer cereais”, “homem a secar loiça”, “pessoas a ler numa biblioteca”) para o programa de computador AllenAI adivinhar a frase. Ou vice-versa, com os humanos a tentarem adivinhar o que a máquina desenha. Cada jogador tem um tempo limite de oito minutos.

O conceito foi desenvolvido por investigadores do Instituto Allen para a Inteligência Artificial (AI2), o laboratório de informática sem fins lucrativos criado em 2012 pelo co-fundador da Microsoft, Paul Allen. Ao pôr o programa AllenAI a competir com parceiros humanos, o objectivo é ajudar o programas de computador a perceber como diferentes pessoas representam o mundo.

Há muito que Paul Allen, que ajudou Bill Gates a fundar a Microsoft durante a década de 70, sonha com máquinas capazes de perceber melhor o mundo real. “Senso comum é o conhecimento do dia-a-dia que virtualmente qualquer humano sabe, mas nenhuma máquina tem”, explicou Allen numa apresentação em Março de 2018. Na altura, tinha acabado de anunciar que ia duplicar o orçamento do laboratório AI2 para equipar as máquinas com conhecimento que “a maioria das crianças de dez anos já tem”. Allen falava da capacidade de um programa de computador saber, instintivamente, que um elefante não passa por uma porta de uma casa, ou que um copo de água virado ao contrário vai deixar de ter água.

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Não é a primeira vez que se cria uma versão do Pictonary para ensinar um sistema de inteligência artificial. Em 2016, o Google lançou o jogo Quick, Draw! em que os humanos tinham de desenhar objectos (por exemplo, “penso”, “vassoura” ou “pena”) para as máquinas adivinharem. A diferença é que a versão do instituto fundado por Paul Allen quer ensinar as máquinas a decifrar cenários que envolvem personagens diferentes (crianças, homens, mulheres, idosos, professores) a interagir com diferentes objectos e locais. No total, há 75 mil frases disponíveis no jogo.

Quando é o programa de computador a desenhar, este também deve ser capaz de se adaptar aos humanos com quem está a jogar. Contrariamente a outros jogos populares para ensinar sistemas de inteligência artificial – como o xadrez e o jogo de tabuleiro milenar Go –, com o Iconary o objectivo não é que a máquina ganhe aos humanos, mas sim que o humano e máquina se compreendam.

“[Caso o humano não perceba um desenho] o Allen AI tem de ser capaz de propor vários desenhos alternativos para guiar o parceiro humano até uma hipótese correcta”, explica Ani Kembhavi, um dos investigadores por detrás do Iconary, num vídeo de demonstração. E dá um exemplo: para descrever a palavra “paciente” o AllenAI pode começar por desenhar uma ambulância para que o humano perceba que o cenário é o de um hospital ou centro de saúde.

Os investigadores explicam que se o AllenAI estivesse a jogar Iconary sozinho, podia desenvolver uma linguagem que só o programa de computador consegue decifrar. E, como se lê no site do Iconary, a missão é perceber “o potencial do poder do senso comum para a inteligência artificial, e o poder da colaboração entre humanos e programas inteligentes.”