Mercados fora da Europa arrefecem exportações portuguesas
Venda de bens ao exterior teve uma variação de 5,3% em 2018, abrandando face aos 10% do ano anterior, devido ao recuo das exportações para os países fora da Europa, com destaque para Angola e Brasil. Subida das importações foi superior e défice comercial cresceu 2670 milhões.
As exportações portuguesas de bens subiram 5,3% no ano passado, chegando aos 57.925 milhões de euros, o que representa um abrandamento face ao crescimento de 10% que se tinha registado em 2017. Num cenário de arrefecimento global, foram os parceiros europeus, com Espanha na liderança, quem acabou por suportar a subida das exportações, compensado as quedas de mercados como Angola e Brasil.
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As exportações portuguesas de bens subiram 5,3% no ano passado, chegando aos 57.925 milhões de euros, o que representa um abrandamento face ao crescimento de 10% que se tinha registado em 2017. Num cenário de arrefecimento global, foram os parceiros europeus, com Espanha na liderança, quem acabou por suportar a subida das exportações, compensado as quedas de mercados como Angola e Brasil.
De acordo com os dados do comércio internacional divulgados esta sexta-feira pelo INE, as compras dos outros países da União Europeia (UE) a Portugal subiram 8,1% para 44 mil milhões de euros (o que representa 76% do total). Em sentido contrário esteve a venda de bens para os países extra-UE, que caiu 2,7%. Em 2017, as exportações tinham crescido nestas duas grandes categorias.
Assim, o recuo nas exportações para fora da Europa acabou por provocar um arrefecimento das vendas para o exterior. Dos cinco principais mercados extra-UE -- EUA, Angola, Brasil, Marrocos e China, por esta ordem --, apenas os EUA registaram um crescimento, que foi insuficiente para compensar a quebra geral.
Consolidando-se como o maior cliente de Portugal extra-UE, ultrapassando Angola, os EUA subiram as importações de bens nacionais em 1,2%, para 2878 milhões de euros. Isto numa conjuntura de maior proteccionismo comercial por parte do presidente norte-americano, Donald Trump, que traz consigo incertezas sobre o futuro das relações com a Europa.
A queda mais expressiva verificou-se em Angola, com -15% (equivalentes a 272 milhões) devido à crise económica que atravessa este país africano (e do qual Portugal é o maior abastecedor, a par da China) e que implicou a participação do FMI. Já no caso do Brasil, que também atravessa um ciclo económico negativo, a descida foi de 14%.
Espanha reforça no topo, Itália passa Holanda
Olhando para as exportações para países da UE, Espanha consolidou a liderança como maior parceiro comercial, ao subir 5,9% e passar a fasquia dos 14 mil milhões de euros. França e Alemanha subiram 6,6% e 6,3%, respectivamente (França, o segundo maior mercado, vale menos de metade de Espanha). Juntos, estes três países dominam 50% das compras a Portugal. Uma novidade foi a passagem de Itália para a sexta posição, ultrapassando a Holanda com uma subida expressiva de 27%, para 2473 milhões de euros.
A indústria automóvel ou, mais concretamente, a fábrica da Volkswagen (VW) em Palmela, onde se produz o T-Roc, tem sido o grande motor das novas vendas para a Europa. Os dados do INE mostram que as exportações de automóveis para transporte de passageiros dispararam 59% no total de 2018 (primeiro ano completo do novo modelo da VW em Autoeuropa), com as vendas a passarem de 2160 milhões de euros para 3445 milhões.
Depois de uma queda das exportações em Novembro, as vendas voltaram a crescer no último mês do ano (7% em termos homólogos), dissipando os impactos da paralisação dos estivadores no Porto de Setúbal.
Só as vendas de produtos primários tiveram um ritmo de crescimento mais acelerado, mas o peso nas exportações está longe de comparar com os veículos ou outras categorias mais comercializadas. Os produtos transformados, o segmento com mais peso, representaram 16.883 milhões de euros, subindo 3,1% em termos homólogos face a 2017.
Actualmente, a UE concentra 76% das exportações portuguesas, depois de uma tentativa de maior diversificação geográfica na sequência da crise do euro. Este reforço (em 2017, o peso era de 74%) surge num contexto de arrefecimento das economias europeias, com destaque para a alemã. Esta quinta-feira, nas suas previsões de Inverno, a Comissão Europeia reviu em baixa as perspectivas de crescimento da zona euro em 2019, passando de uma variação do PIB de 1,9% para 1,3%.
No caso da Alemanha, a revisão foi de menos 0,7 pontos percentuais, para 1,1%. A maior alteração foi no caso de Itália, que cai de 1,2% para uns modestos 0,2%. Já a França desce de 1,6% para 1,3%, e a Espanha passa de 2,2% para 2,1% (no caso de Portugal a previsão passou de 1,8% para 1,7%).
Défice comercial a subir
Os dados divulgados esta sexta-feira pelo INE dão conta de uma subida das importações mais acentuada face às exportações, o que provocou um agravamento do défice da balança comercial de bens. As compras ao exterior chegaram aos 75.054 milhões de euros, o que representa uma subida de 8%. Também aqui houve um abrandamento face a 2017, ano em que o crescimento tinha sido de 13,1%. Feitas as contas, o défice agravou-se em 2670 milhões de euros no ano passado, atingindo os 17.130 milhões.
A taxa de cobertura desce dois pontos percentuais, para 77,2%, o valor mais baixo desde 2011 (ano em que se situou nos 71,9%), o que significa uma diferença maior entre as importações e as exportações.
Se se excluir da equação os combustíveis e lubrificantes, os dados do INE dão nota que as exportações e as importações cresceram 5,5% e 7,6% em 2018, respectivamente. Neste caso, o défice da balança comercial fica em 12.152 milhões de euros, o que significa uma subida de 1854 milhões quando comparado com 2017.
Falta ainda conhecer os dados anuais das exportações e importações de serviços, que garantem que a balança comercial seja positiva, graças ao impulso do turismo. Com Pedro Crisóstomo