Dona do Minipreço passa de lucro a prejuízos de 352,6 milhões

Grupo espanhol DIA, dono de 532 supermercados Minipreço e 71 drogarias Clarel em Portugal, finalizou 2018 com capitais próprios negativos de 166 milhões. Despedimento colectivo em Espanha, de 2100 trabalhadores, foi já anunciado

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NFACTOS/Fernando Veludo

A companhia espanhola DIA – Distribuidora Internacional de Alimentación, dona das cadeias de retalho alimentar Minipreço e das drogarias Clarel, registou em 2018 um prejuízo de 352,6 milhões de euros, o que compara com lucros de 101,2 milhões de euros um anos antes.

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A companhia espanhola DIA – Distribuidora Internacional de Alimentación, dona das cadeias de retalho alimentar Minipreço e das drogarias Clarel, registou em 2018 um prejuízo de 352,6 milhões de euros, o que compara com lucros de 101,2 milhões de euros um anos antes.

De acordo com o comunicado emitido esta sexta-feira ao mercado espanhol – único em que a DIA está cotada -, a companhia consolidou, a 31 de Dezembro de 2018, capitais próprios negativos de 166,1 milhões de euros (quando um ano antes eram positivos em 257,2 milhões de euros). A dívida líquida passou de 945 milhões em final de 2017 para 1452 milhões 12 meses depois.

Em Portugal, onde o grupo fechou o ano passado com 532 supermercados Minipreço (com um encerramento líquido de 27 lojas) e 71 drogarias Clarel (rede que passou a estar classificada como operação descontinuada, uma vez que o plano de refinanciamento pressupões a sua alienação), as vendas brutas (com IVA e incluindo franchisados) recuaram 3,1%, para 808 milhões de euros. Líquidas, as vendas “decresceram 5,2%, no mesmo período, para 629 milhões de euros”.

Na apresentação de resultados que comunicou hoje ao mercado, a gestão do grupo DIA justifica esta evolução com o “decréscimo de 5% das vendas comparáveis [medida pelo indicador like for like”, sem contabilizar aberturas e fechos no período em análise]”; e o “encerramento líquido de 27 lojas durante 2018, com o qual o espaço médio de venda diminuiu 1,5% no período”.

O grupo de distribuição, que finalizou 2018 com uma quebra de 34,8% do EBITDA (resultado antes de juros, impostos, amortização e depreciação) consolidado, para 337,9 milhões de euros, teve uma quebra de 28,7% do mesmo indicador em Portugal, para 30,1 milhões de euros. No mercado português, e sempre excluindo a Clarel, o resultado operacional (medido pelo EBIT) foi negativo em 16,5 milhões de euros em 2018, quando 12 meses antes tinha terminado positivo em 13,4 milhões de euros.   

Em 2018, Portugal captou 6,4% do total do investimento do grupo, cerca de 20,3 milhões de euros, uma quebra de 17,1% face a 2017. O grupo investiu 315,3 milhões de euros no ano passado no total nos quatro mercados em que está presente: Espanha, Portugal, Argentina e Brasil.  

Das 532 unidades Minipreço operacionais em Portugal no final do ano passado, 53,1% (ou 309 supermercados) eram exploradas em regime de “franchising”.

Despedimento colectivo de 2100 pessoas em Espanha

No dia em que apresentou os resultados consolidados de 2018, o grupo  - que na semana passado foi alvo de uma intenção de oferta pública de aquisição por parte do seu maior accionista - divulgou também o plano para tentar recuperar financeiramente.

O Plano Estratégico 2018-2023 aprovado pelo conselho de administração tem como metas fundamentais o crescimento a um dígito das vendas (que recuaram 11,3%, para 7,28 mil milhões de euros em 2019), “melhorar o EBITDA a partir do ano de 2020”; e reduzir o investimento em 2019 para voltar a aumentar em 2020.

Mas no caso de Espanha, há já um número específico a reter: 2100 postos de trabalho. Nas palavras da gestão do grupo DIA, no âmbito da nova estratégia a cinco anos, a companhia “anuncia um processo de despedimento colectivo que afectará as sociedades DIA e Twins [Alimentación] em Espanha”, e que afectará “no máximo 2100 empregos”. Em breve, adianta, “iniciar-se-á um período de reuniões com os representantes dos trabalhadores” espanhóis.

Sobre Portugal, para já, nada. Assim como para a Argentina e para o Brasil, o comunicado apenas refere a evolução das vendas em cada um dos mercados externos da DIA no que toca ao plano estratégico. Numa “Ibéria com um ambiente altamente competitivo”, como classifica na apresentação ao mercado, Portugal aparece somente associado a Espanha numa estratégia que visa “transformar a oferta comercial”, revitalizar o parque imobiliário e os formatos e rever as parcerias com os “franchisados”.

Reestruturar ou vender?

O que é sabido desde Dezembro passado é que para sanar a sua situação financeira, o grupo DIA acordou com a banca credora um compromisso de aumento de capital de no mínimo 600 milhões de euros, garantido pelo Morgan Stanley, “sujeita a determinadas condições e alienação de activos não estratégicos”, como a grossista Max Descuento (em Espanha) e a rede de drogarias Clarel, que está igualmente presente em Portugal – com esta venda, a DIA espera pagar 100 milhões de euros aos credores financeiros.

Uma extensão do prazo de pagamento de créditos no valor de 765 milhões de euros à banca também foi negociada, até Março de 2013.

Mas a Milkhail Fridman, o investidor russo que detém a LetterOne, dona de 29,9% do capital da DIA, já saiu da administração do grupo em desacordo com as decisões da gestão no último ano – em que a desvalorização bolsista atingiu os 83%. E, nesta semana, anunciou que tenciona lançar uma OPA a 0,70 euros por cada título da DIA cotado em Madrid, “voluntária”, sobre os restantes 70,01%, mas cujo sucesso está indexado a um mínimo de 35,5%. E, caso obtenha o que pretende, o investidor russo garante que aumenta a seguir o capital da sociedade DIA em 500 milhões.

O conselho de administração já reagiu, deixando a decisão final para quando a OPA foi aprovada e registada pelo regulador do mercado de capitais espanhol, mas sublinha desde já que o aumento de capital a posteriori, para depois da OPA, “tal como está estruturado actualmente, não oferece garantias sobre a sua execução efectiva, nem sobre o momento da sua implementação, nem tem em conta as obrigações da sociedade face aos seus credores, nem as datas de vencimento da dívida de curto prazo.