Criação de emprego não consegue travar subida de 14,1% do desemprego entre os licenciados
Ao contrário do que aconteceu com a generalidade dos grupos da população, o número de licenciados no desemprego aumentou no último trimestre de 2018. Ao mesmo tempo, o emprego qualificado foi o que teve o aumento mais expressivo neste período, crescendo acima da média.
O ano de 2018 chegou ao fim com sinais contraditórios quanto à evolução do mercado de trabalho. Em contraciclo com a redução generalizada do número de pessoas desempregadas, o desemprego entre os licenciados aumentou 14,1% face último trimestre de 2017. Apesar deste resultado, o último trimestre do ano passado também ficou marcado por um crescimento expressivo do emprego e da população activa com qualificação superior que, por enquanto, ainda não consegue ser totalmente absorvida pelas empresas.
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O ano de 2018 chegou ao fim com sinais contraditórios quanto à evolução do mercado de trabalho. Em contraciclo com a redução generalizada do número de pessoas desempregadas, o desemprego entre os licenciados aumentou 14,1% face último trimestre de 2017. Apesar deste resultado, o último trimestre do ano passado também ficou marcado por um crescimento expressivo do emprego e da população activa com qualificação superior que, por enquanto, ainda não consegue ser totalmente absorvida pelas empresas.
João Cerejeira, economista e professor na Universidade do Minho, e Francisco Madelino, antigo presidente do Instituto do Emprego e Formação Profissional, avançam com algumas explicações para esta aparente contradição. Por um lado, o abrandamento da emigração e a entrada de mais de 100 mil licenciados na população activa.
De acordo com os números divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, a taxa de desemprego estabilizou em 6,7% no quarto trimestre de 2018 e a população desempregada recuou perto de 73 mil pessoas face ao período homólogo (para 462.800 pessoas). Nesse período, a redução do desemprego foi transversal a todos os grupos da população, excepto entre os licenciados onde se verificou um aumento de 14,1%, correspondente a mais 11 mil pessoas (totalizando 89 mil licenciados desempregados).
Ao mesmo tempo, o número de pessoas qualificadas a entrar na população activa teve um incremento de 101.300 e, destas, 90.300 conseguiram lugar no mercado de trabalho.
Este crescimento da população activa, adianta Cerejeira, “pode ser o resultado de um abrandamento da emigração de licenciados, que ficam em Portugal como desempregados”. “O abrandamento da economia britânica, associada ao 'Brexit', pode estar por detrás disto”, afirma, acrescentando que outra possível explicação prende-se com os imigrantes com elevado nível de qualificação que nos últimos tempos têm chegado a Portugal, nomeadamente os vindos do Brasil.
O economista rejeita que o aumento do desemprego entre as pessoas com ensino superior seja o resultado da incapacidade da economia criar emprego qualificado. Essa ideia, nota Cerejeira, não tem tradução nos números agora divulgados, uma vez que “o crescimento do emprego é maior quanto maior o nível de escolaridade”. Olhando para a evolução homóloga, o emprego para trabalhadores com o ensino básico recuou 3,7% e cresceu 5,5% no ensino secundário e 7,2% nas qualificações superiores.
“Apesar de tudo, houve um crescimento expressivo quer do emprego quer da população activa com formação superior”, destaca o economista.
Também Francisco Madelino rejeita que haja aqui um problema estrutural, até porque, lembra, “a população activa é cada vez mais constituída por licenciados” e o emprego neste segmento está a crescer acima da média. O também economista acredita que estes números são já uma consequência do “Brexit” e da emergência de nacionalismos na Europa, o que cria um ambiente “menos favorável” à saída de pessoas qualificadas para o estrangeiro. Resultado, o contingente da população activa aumenta e é preciso dar tempo para que as pessoas encontrem lugar num mercado de trabalho que também dá sinais de estar a atingir o seu limite.
Emprego cresce, mas a um ritmo mais lento
Com a economia portuguesa a dar, tal como o resto da Europa, sinais de abrandamento nos últimos meses, o número de empregos diminuiu no quarto trimestre 0,4% face ao trimestre anterior, mas ainda assim cresceu em termos homólogos, embora o INE alerte que este indicador está em desaceleração desde o arranque de 2018.
Depois de ter registado um crescimento homólogo de 3,5% no final de 2017, a evolução do emprego registou um abrandamento ao longo de 2018. No primeiro trimestre o crescimento face ao período homólogo foi de 3,2%; no segundo trimestre foi de 2,4%, tendo baixado para 2,1% no terceiro trimestre e atingindo uma taxa de crescimento homóloga de 1,6% no final do ano.
Numa análise mais fina do comportamento do emprego é possível perceber que a subida homóloga da população empregada ficou a dever-se ao aumento do emprego nos homens e nas mulheres, nas pessoas com 45 a 64 anos, que completaram o ensino superior e empregadas no sector dos serviços. Em termos percentuais, é de destacar o aumento de 13,7% da população empregada com 65 e mais anos, enquanto nas faixas dos 25 aos 44 anos houve um recuo.
A maioria da população que trabalha por conta de outrem tem contrato sem termo, um vínculo que teve um acréscimo homólogo de 1,5%. Os contratos a termo, recuaram 1,1% para 733.900 pessoas, mas em contrapartida os outros tipos de contrato - onde estão incluídos os trabalhadores a recibo verde - aumentaram 6,1% para 155.100 pessoas.
Já nas últimas estatísticas trimestrais, o INE dava conta de um aumento de 9,1% dos outros tipos de contrato.
Desemprego jovem recua
Embora continue acima da média europeia, o desemprego entre os jovens dos 15 aos 24 anos recuou para 19,9%, a segunda taxa mais baixa da série estatística que o INE iniciou em 2011.
Quando se olha com mais pormenor para esta população jovem, percebe-se que o desemprego é mais elevado entre os que têm o ensino superior (22,8%) ou que não foram além do ensino básico (22,8%), enquanto nos jovens que terminaram o secundário a taxa é de 16,8%.
Os dados do INE mostram também que a taxa de jovens não empregados que não estavam na escola ou em formação (os chamados NEET) também recuou para 10,1% no quarto trimestre, totalizando 222.400 pessoas.
João Cerejeira considera que esta redução está relacionada com o alargamento da escolaridade obrigatória até aos 18 anos e é também o espelho da criação de emprego nos serviços, restauração, comércio ou distribuição, “actividades que recorrem muito a este emprego jovem, mais precário, mais temporário e também de salário mais baixos”.