Um eléctrico no aqueduto? O Orçamento Participativo é uma caixa de surpresas
Lisboetas querem ter uma palavra a dizer no urbanismo, nos espaços verdes, na mobilidade. Os técnicos da câmara estão a analisar ideias mais ou menos exequíveis. Votação arranca em Março.
Qual é coisa, qual é ela que liga as Amoreiras a Monsanto, vence o desnível do vale de Alcântara e oferece grandes vistas da cidade? Sim, há o Viaduto Duarte Pacheco. Mas aqui falamos do Aqueduto das Águas Livres, pois é para este monumento que existe uma proposta surpreendente: “Electrificar o tabuleiro para o eléctrico passar” – foi esta a ideia que um cidadão criativo submeteu ao Orçamento Participativo de Lisboa (OP).
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Qual é coisa, qual é ela que liga as Amoreiras a Monsanto, vence o desnível do vale de Alcântara e oferece grandes vistas da cidade? Sim, há o Viaduto Duarte Pacheco. Mas aqui falamos do Aqueduto das Águas Livres, pois é para este monumento que existe uma proposta surpreendente: “Electrificar o tabuleiro para o eléctrico passar” – foi esta a ideia que um cidadão criativo submeteu ao Orçamento Participativo de Lisboa (OP).
O objectivo é “fazer transitar o eléctrico que parte das Amoreiras, passa a Serafina e acaba na Cova da Moura ou Alto da Boa Vista”. Ainda que bem-intencionado, o projecto parece irremediavelmente condenado a não passar disso mesmo, pois as obras no aqueduto seriam coisa de monta e mudar-lhe-iam a traça a tal ponto que seria difícil reunir um consenso mínimo sobre elas.
Eis a prova provada de como a criatividade lisboeta pode ser quase ilimitada, assim haja espaço para ela jorrar. Apareceram 539 propostas no OP deste ano, que os técnicos da câmara estão agora a ler e a escolher. Só uma pequena parte destas propostas chegará à fase final da votação, daqui a cerca de um mês, e provavelmente já depois de várias serem conjugadas numa só ou de terem alterações para serem mais exequíveis.
Há vários temas recorrentes, que podem servir como barómetro das preocupações de quem vive e trabalha na cidade. O lixo e a higiene urbana, com especial destaque para os cocós de cães, os espaços verdes, a mobilidade pedonal, os transportes públicos e o arranjo do espaço público são assuntos abordados em muitas propostas, de forma mais ou menos estruturada, visando problemas específicos de um local ou de toda a cidade.
Se há ideias que desafiam a imaginação, outras aparentam ser mais simples. Veja-se a proposta dos pastilhões – isso mesmo, um recipiente para deitar fora pastilhas elásticas depois de mascadas. “À semelhança do que já acontece noutros países, as pastilhas podem ser recicladas, dando origem a produtos em borracha”, escrevem os proponentes.
Outras têm um cunho marcadamente actual. No momento em que se discute acaloradamente o futuro do Martim Moniz, um lisboeta sugere que se coloquem apenas quatro quiosques e se crie um curso de água no centro da praça. A coroá-la, uma enorme esfera armilar.
Há também quem proponha a colocação de um relógio de sol no Cais do Sodré, onde em tempos já existiu um equipamento semelhante. E quem queira criar um novo espaço público em Alcântara, junto à Doca de Santo Amaro, muito parecido ao que existe na Praça de Lisboa, no Porto. “A Doca de Santo Amaro, a marina e Doca Alcântara, precisam de revitalização”, lê-se na proposta.
Ainda para a zona ribeirinha, leia-se a proposta de criação de uma carreira rápida de autocarro entre Algés e o Cais do Sodré, via Av. Brasília, com paragens no Centro Champalimaud, Torre de Belém, MAAT, Docas e Santos. Quem teve a ideia acredita que ela “irá resolver um problema de mobilidade que hoje já é grave e tem tendência a piorar no curto prazo, melhorando a qualidade de vida dos munícipes.”
Isto, como se vê, é apenas uma pequeníssima amostra. Alguma destas propostas passará à fase final? A 1 de Março se saberá.