Greve dos Enfermeiros: médicos dizem que novos serviços mínimos podem não chegar
Acórdão acautela os casos de "doentes que não podem esperar 15 dias mas podem esperar dois ou três".
A Ordem dos Médicos considera que o novo acórdão do tribunal arbitral sobre os serviços mínimos decretados para a greve dos enfermeiros é "uma evolução" ao acautelar mais situações, mas tem dúvidas se será suficiente. "O novo acórdão acautela algumas situações que não estavam pensadas na primeira greve cirúrgica" dos enfermeiros que decorreu no final do ano passado, afirmou esta terça-feira Alexandre Valentim Lourenço, presidente da secção regional sul da Ordem dos Médicos.
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A Ordem dos Médicos considera que o novo acórdão do tribunal arbitral sobre os serviços mínimos decretados para a greve dos enfermeiros é "uma evolução" ao acautelar mais situações, mas tem dúvidas se será suficiente. "O novo acórdão acautela algumas situações que não estavam pensadas na primeira greve cirúrgica" dos enfermeiros que decorreu no final do ano passado, afirmou esta terça-feira Alexandre Valentim Lourenço, presidente da secção regional sul da Ordem dos Médicos.
Segundo este responsável, os casos de "doentes que não são emergentes mas são uma urgência prioritária e com necessidade de serem resolvidos" estão agora previstos nesta greve de enfermeiros, que começou na semana passada.
O acórdão acautela os casos de "doentes que não podem esperar 15 dias mas podem esperar dois ou três", ou seja, aqueles casos em que adiar mais do que duas semanas pode trazer repercussões na vida, na recuperação ou nas sequelas das doenças.
O acórdão também acautela a situação de alguns blocos operatórios de especialidades específicas, nomeadamente em hospitais de grandes dimensões e muito diferenciados, acrescentou Alexandre Valentim Lourenço, dando como exemplo os hospitais do Norte. Entre as situações agora abrangidas, Alexandre Valentim Lourenço apontou o caso "dos blocos como a neurocirurgia, cirurgia cardíaca ou a cirurgia oftalmológica, que necessitam de ter equipas permanentes para as necessidades das urgências".
Para o responsável da OM, o novo acórdão "foi uma evolução", mas "só o tempo dirá, se resolve ou não os problemas", já que é preciso fazer primeiro uma avaliação da situação vivenciada em cada hospital. Depois de os enfermeiros terem realizado uma primeira greve em cinco grandes hospitais, que durou entre 22 de Novembro e 31 de Dezembro, levando ao cancelamento ou adiamento de quase oito mil cirurgias, estes profissionais de saúde iniciaram na semana passada aquela que já é conhecida como a "segunda greve cirúrgica".
"A primeira greve cirúrgica foi uma greve prolongada e foi a primeira vez que foi feito um acórdão específico para ela", recordou hoje Alexandre Valentim Lourenço, lembrando que o acordo foi proferido no início da greve, quando ainda não se conhecia "as repercussões reais de uma greve prolongada".
As afirmações do presidente da secção regional sul foram feitas em Lisboa durante uma conferência de imprensa marcada pela OM para reagir às recentes declarações da bastonária da Ordem dos Enfermeiros que, esta terça, em declarações ao PÚBLICO afirmou que o "ónus da negociação está no Governo", e da presidente da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros.
"Declarações falsas"
O bastonário da OM, Miguel Guimarães, condenou as "declarações falsas" das duas responsáveis, acusando-as de poderem criar um clima de conflitualidade entre os vários profissionais de saúde. Miguel Guimarães voltou a defender que as greves que se prolongam no tempo "têm de ter serviços mínimos capazes de garantir aos doentes que tem situações mais complexas, nomeadamente os doentes prioritários e muito prioritários, que são operados".
O bastonário alertou para o facto de o atraso nas cirurgias poder trazer prejuízos para os doentes: "Nós temos um SNS que já tem alguma dificuldade na resposta. Nós temos doentes que, muitas vezes, atingem e ultrapassam os tempos máximos de resposta garantidos, seja para cirurgia seja para consultas hospitalares. Mas no caso concreto da cirurgia, estes doentes já vão no limite, porque temos muitos doentes para aquilo que é a nossa capacidade de resposta. Está a ver o que estes doentes adiar mais dois, três, quatro ou cinco meses". Para o bastonário, a resolução destes casos cabe às direcções dos hospitais e ao Ministério da Saúde que, em caso de necessidade, devem recorrer a serviços exteriores - privados ou do sector social.